Em uma recente viagem a São Paulo tive a excelente oportunidade de reunir alguns bons amigos para um almoço. Tínhamos no seleto grupo os mais variados representantes de diferentes áreas que compõem o que chamamos de mercado gospel. Naquela turma tínhamos um cantor, profissionais de venda, representantes comerciais, um manager artístico e um executivo de gravadora.
Conversamos muito sobre os mais variados assuntos. Rimos muito. Nos divertimos com histórias engraçadíssimas que vivenciamos nos últimos anos. Relembramos de pessoas que outrora faziam parte deste mercado e que hoje simplesmente desapareceram do meio. Analisamos alguns artistas e suas respectivas obras e atitudes. Enfim, falamos muito e trocamos experiências as mais diversas possíveis. Particularmente gosto muito destes raros encontros entre amigos que em diferentes trincheiras vêm travando uma árdua batalha neste campo minado conhecido como mercado gospel brasileiro.
Acho muito legal ver o crescimento profissional e pessoal de meus amigos. Naquela mesa, todos os presentes, de alguma forma, já haviam trabalhado ou mesmo continuando a trabalhar comigo diretamente. Naquela tarde pudemos relembrar momentos de dificuldade, momentos tensos, grandes desafios que vivemos no passado. Recordamos do tempo das vacas magérrimas, das viagens constantes, de tantos sufocos que passamos. Mas em nenhum momento lembramos daquele tempo sem manter um ponta de saudade. Todos os presentes naquela mesa de restaurante tinham no mínimo 10 anos de mercado gospel, alguns um pouco mais.
Em um determinado momento um dos amigos começou a contar sobre seus desejos, seus projetos do futuro e principalmente sua vontade de mudar de ares. Em suas palavras, o mercado gospel era amador demais, anti-ético, desonesto, amoral … e por alguns minutos ele ficou ali na mesa em meio a picanhas, chuletas e linguiças discorrendo sobre os problemas do nosso mercado. Ele dizia estar cansado! Muito cansado … e que numa oportunidade que surgisse, rapidamente mudaria de profissão. Ouvi aquele desabafo reconhecendo que tudo o que ele havia mencionado realmente se encaixava perfeitamente na minha vivência de mais de duas décadas no meio. Fiquei ali ouvindo e pensando … “realmente ele tem razão! Como esse meio é complicado!” … e antes que eu pudesse concordar e ainda complementar com algum experiência frustrante, um insight surgiu na minha mente e resolvi ficar mais um tempo apenas ouvindo o debate que naquele momento já descambava para o Muro das Lamentações.
Na hora em que ouvia o querido amigo falando dos problemas do mercado, me surgiu uma outra idéia. Na verdade, tudo o que ele comentava era absolutamente verdadeiro. Concordo! Mas também temos que concordar que como mercado, o segmento gospel vem crescendo muito nos últimos anos e como fenômeno de mercado e consumo, este segmento vai cada vez mais necessitar de profissionais capacitados, éticos, organizados, sérios, comprometidos. E foi nesse espírito de “vamos dar as mãos” que resolvi interpelar meu amigo e a todos na mesa. No melhor estilo Poliana, passei a destacar as múltiplas possibilidades que o mercado gospel vem abrindo nos últimos anos. Destaquei a entrada de novos players no mercado fonográfico. A entrada de novas editoras seculares com selos religiosos. Falei ainda na maior abertura da mídia para os artistas e projetos evangélicos. Enfim, tentei dar um novo foco ao papo que já beirava o Apocalipse …
Nos últimos 3 anos tenho contribuído em dezenas de monografias e teses de jovens estudantes enfocando o mercado gospel. Vez ou outra sou convidado a falar sobre o mercado, seja em palestras ou entrevistas para sites, revistas, jornais. E sempre que posso, enfatizo a necessidade que temos por profissionais de qualidade em nosso meio. Isso é uma demanda que precisa ser atendida se um dia imaginamos um mercado consolidado, ético, regulado. Hoje ainda temos uma defasagem enorme por profissionais que realmente entendam do mercado cristão no Brasil.
Dias atrás recebi a ligação de uma amigo de longa data, aquele que realmente colocamos entre o seleto grupo de pessoas que podemos inclusive abrigar em nossa casa. Falávamos ao telefone até que ele me disse: “Cara, recebi uma proposta de uma gravadora e se tudo der certo vamos ser ‘inimigos’ … risos …” Ele me explicou a situação e com a maior fleuma do mundo respondi simplesmente que se fosse bom para ele profissionalmente que aceitasse a oferta e mais, que contasse com meu apoio integral! Não falei isso por educação e muito menos para disfarçar uma ‘saia justa’, mas simplesmente por entender que há espaço para mais gente boa nesse mercado!
Se você está naquela fase em que não sabe se vai entrar na faculdade de veterinária, física, moda ou assistência social, saiba que no mercado gospel tupiniquim, cada vez precisaremos mais e mais de administradores, profissionais de marketing, comunicação, design, marketing digital, produção de eventos, relações públicas, entre outros.
O almoço chegou ao fim e todos concordaram que devemos mesmo tentar investindo nosso tempo, foco e talento para aprimorar o mercado gospel. Pelo menos até nosso próximo almoço, ainda sem data definida!
por Maurício Soares
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