Base defende que Mercadante assuma papel de articulação

Base defende que Mercadante assuma papel de articulação

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:03
mercadante
Líderes da base aliada na Câmara dos Deputados ouvidos pelo G1 defenderam que Aloizio Mercadante, indicado pelo Palácio do Planalto para comandar a Casa Civil, assuma o papel de articulação política com o Congresso, o que esvaziaria as funções da ministra da Secretaria de Relações Institucionais, Ideli Salvatti. A ida de Mercadante do Ministério da Educação para a chefia da Casa Civil foi anunciada nesta quinta pela Presidência da República.
 
Diretamente ligada à presidente Dilma Rousseff, a Casa Civil é considerada pelos congressistas a mais estratégica das 39 pastas do primeiro escalão. No ano passado, a atual ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffman, assumiu algumas negociações com o Congresso, como na votação da MP dos Portos, medida que regulamentou a exploração do setor portuário brasileiro.
 
Mercadante assumiu papel de destaque no momento em que a presidente Dilma iniciou a estratégia de resposta às manifestações populares que tomaram as ruas do país em junho do ano passado. Na ocasião, foi atribuída a ele a ideia apresentada por Dilma de convocar uma Assembleia-Geral Constituinte para promover a reforma política.
 
A sugestão foi rejeitada pelo Congresso e criticada por membros do Judiciário. Depois desse episódio, o então ministro da Educação passou a participar das reuniões entre Dilma e líderes da base aliada na Câmara e no Senado, papel que, tipicamente, seria da Secretaria de Relações Institucionais. Em alguns desses encontros, Mercadante atuou como uma espécie de porta-voz do Planalto, relatando à imprensa detalhes sobre as negociações e ressaltando a posição do governo sobre os assuntos.
 
Mercadante também liderou, em agosto de 2013, as negociações para a análise do projeto que destinava recursos dos royalties do petróleo para a educação. O governo acabou parcialmente derrotado na votação, já que defendia que 100% das verbas fossem para a educação, mas o Congresso resolveu destinar 75% para o setor e os outros 25% para a área da saúde.
 
Para o deputado Eduardo da Fonte (PP-PE), líder do bloco PP-PROS, terceira maior bancada da Câmara, Mercadante deveria assumir de forma definitiva a articulação política com o Legislativo.
“O diálogo poderá fluir melhor com ele [Mercadante] nesse papel. É uma pessoa experiente, já passou pela Câmara e pelo Senado, tem uma longa história de vida pública”, afirmou ao G1.  
Eduardo da Fonte destacou que o desempenho da atual titular da Secretaria de Relações Institucionais “deixa a desejar”.
 
“Essa pasta, na minha opinião, deveria ser extinta e subordinada à Casa Civil. É importante um reposicionamento dessa pasta e que o ministro Mercadante tenha autonomia para gerir a comunicação com o Congresso”, opinou.
 
Experiência na articulação
À frente da bancada do PDT, o deputado André Figueiredo (CE) também defendeu que Mercadante participe ativamente da interlocução com o Senado e com a Câmara. Para ele, o futuro ministro da Casa Civil pode “melhorar a comunicação” entre Executivo e Legislativo.
 
“Ele tem uma boa experiência e pode ser um bom canal de diálogo juntamente com a Secretaria de Relações Institucionais. Estamos na expectativa de que melhore a comunicação e de que ele faça parte disso”, disse.
 
Já o líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ), afirmou que a ministra Gleisi Hoffmann já havia sido destacada por Dilma para dialogar com os parlamentares.
“Eu acho ótima a entrada do Mercadante na Casa Civil. Ele vem do parlamento, tem experiência, acho que só vai contribuir com o governo e com a relação com o Congresso. Agora, a Gleisi Hoffmann já estava assumindo este papel de participar da articulação política. Acho que o Mecadante vai dar continuidade a isso”, disse ao G1.
 
Por meio de nota oficial, a Secretaria de Relações Institucionais informou que “não há motivos” para a pasta deixar de atuar em conjunto com outros ministérios.
“A Secretaria de Relações Institucionais e a Casa Civil, e todos os ministérios que compõem o governo federal, sempre tiveram atuação conjunta no Congresso Nacional, e não há motivos para que isso deixe de acontecer”, enfatizou o comunicado.
 
Apoio a Ideli
Líder da bancada do PT, o deputado José Guimarães (CE) foi um dos poucos parlamentares ouvidos pelo G1 a defender a atuação de Ideli Salvatti, sua colega de partido. Apesar de dizer  que “Mercadante será um grande articulador da gestão do governo”, o parlamentar petista afirmou que o diálogo com os congressistas continuará a ser responsabilidade de Ideli.
“Ora, dizem que o Mercadante vai tomar o lugar do Guido [Mantega, ministro da Fazenda], ora dizem que vai ser o da Ideli. O Mercadante será a âncora que vai segurar o governo na disputa e consolidar os grandes projetos do governo”, enfatizou.
 
Para Guimarães, “tudo que Ideli tocou deu certo”.  “Quem vai cuidar do diálogo com o Congresso é a Ideli. Ela vai cuidar da relação do Congresso como cuidou em 2013. Sou líder e sei o quanto ela trabalhou pela viabilização de projetos. A Ideli teve sucesso na sua coordenação pública, não é correto dizer que foi fraca”, disse o líder do PT.
 
Questionado sobre o desempenho de Ideli Salvatti junto ao Legislativo, o líder do governo no Congresso, senador José Pimentel (PT-CE), ponderou que, apesar de o governo ter enfrentado no último ano temas com grande dificuldade de aprovação, a maioria dos projetos de interesse do Planalto estão sendo aprovados.
“A melhor forma que você tem para avaliar uma liderança é o resultado ali apresentado. E o resultado é extremamente satisfatório. Terminamos 2013 com a votação da LDO, com a alteração do plano plurianual e com a votação do orçamento”, destacou.
 
Oposição
O líder do DEM na Câmara, Ronaldo Caiado (GO), criticou a ida de Mercadante para a Casa Civil e disse que a “dupla Mercadante-Ideli” será “desastrosa” para o diálogo na Câmara.
 
“Isso aí não ganha jogo em lugar nenhum do mundo. São duas pessoas que a história pregressa mostra que são desagregadoras. Mercadante e Ideli juntos formam a dupla dos aloprados, dupla do barulho, que não vai a lugar nenhum”, disparou.
 
Já para o líder do PPS, Rubens Bueno (PR), a transferência de Mercadante para a Casa Civil não altera a relação do governo com o Congresso. No entanto, o parlamentar de oposição diz acreditar que, independentemente da reforma ministerial, a tendência é que a articulação entre os dois poderes piore.
 
“Não sei se a ida do Mercadante para a Casa Civil melhora a relação do governo com o Congresso. Já temos muito problemas nessa relação, e acredito que isso tende a se agravar pela inoperância de um ministério [a Secretaria de Relações Institucionais] que não existe do ponto de vista do poder e da decisão política”, disse Bueno.
 

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