Em áudio, ex-Petrobras diz que dinheiro de propina iria para PT, PMDB e PP‏

Fonte: O GLOBO Atualizado: quinta-feira, 9 de outubro de 2014 às 17:43

O doleiro Alberto Youssef afirmou em depoimento à Justiça Federal que o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva cedeu aos políticos de partidos acusados de participar das fraudes na Petrobras e empossou Paulo Roberto Costa na diretoria de Abastecimento da empresa. Em vídeo gravado pela justiça, obtido pelo GLOBO, "agentes políticos" ameaçaram trancar a pauta do Congresso.

— Tenho conhecimento que, para que o Paulo Roberto Costa assumisse o posto, esses agentes trancaram a pauta no Congresso por 90 dias. Na época, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ficou louco e teve de ceder e empossar Paulo Costa na diretoria de Abastecimento — afirmou.

O Instituto Lula foi procurado e informou que tomaria conhecimento do teor das declarações para decidir se vai se manifestar.

O doleiro Alberto Youssef afirmou ainda em depoimento à Justiça que participava, junto com Paulo Roberto, de reuniões com os agentes políticos envolvidos no esquema. Segundo ele, essas reuniões eram feitas em hotéis do Rio de Janeiro e São Paulo e, algumas vezes, nas casas dos próprios políticos. Youssef se reunia quase diariamente com os políticos e, a cada 15 dias, com Costa.

— Nestas reuniões eram feitas atas e discussões de cada ponto que estava sendo discutido naquele dia. Todo mundo sabia o que estava acontecendo — afirmou Youssef.

'NÃO FUI O CRIADOR, FUI A ENGRENAGEM'

Alberto Youssef afirmou ainda que o operador inicial do esquema era o deputado José Janene, falecido em 2010. Segundo ele, quando Janene ainda estava vivo era o próprio deputado quem se encarrregava de fazer a distribuição do dinheiro entre os políticos.

Perguntado sobre a divisão do dinheiro, o doleiro afirmou que os percentuais sempre foram os mesmos e também a divisão era feita de acordo com “cronograma". Apesar de os percentuais sobre os valores dos contratos serem variáveis, os percentuais da divisão eram mantidos.

— Não fui o criador desta organização. Eu simplesmente fui uma engrenagem para que se pudesse haver recebimento e pagamento a agentes públicos.

O doleiro disse que esquemas similares funcionavam em todas as diretorias da Petrobras, embora não fossem operados por ele. Youssef afirmou que soube do esquema nas demais áreas por informações das próprias empreiteiras e por meio dos "operadores" João Vaccari e Fernando Soares. De acordo com as investigações Vaccari era o operador do PT e Fernando Soares, do PMDB, e operavam, além da diretoria de Abastecimento, em outras áreas da Petrobras.

EMPREITEIRAS PAGAVAM COMISSÃO, DIZ DOLEIRO

O doleiro confirmou que era o responsável por distribuir a comissão paga pelo superfaturamento das obras da Petrobras. Segundo ele, 60% eram destinados aos "agentes políticos", 30% para Paulo Roberto Costa, 5% para João Claudio Genu, ligado ao PP, e ficava com os outros 5%. Ainda de acordo com Youssef, no caso da construtora Camargo Corrêa, uma das empreiteiras citadas no processo, o percentual dividido chegou a 10% do valor de cada tubo fornecido pela empresa Sanko Sider.

- Eu recebia a comissão de todos - disse Youssef, referindo-se às comissões pagas pelas empreiteiras que prestavam serviços à Petrobras. Youssef afirmou que, dos 5% que lhe cabiam, ele também pagava "comissionamento" a diretores da Camargo Corrêa.

José Claudio Genu não foi localizado pela reportagem. Já o PP, em nota, informou que desconhece as denúncias mas que está à disposição para colaborar com as investigações.

O doleiro disse à Justiça que algumas empreiteiras se recusavam a pagar as comissões e outras negociavam, reduzindo os percentuais.

- Teve empresas que honraram e empresas que não honraram.

Perguntado se as empresas recusavam pagar por não concordar com o esquema, Youssef afirmou que elas não concordavam com o valor, e argumentavam que a obra havia sido mal orçada e que não havia espaço para pagar comissionamento algum.

REUNIÃO PARA DISCUTIR VALORES E LICITAÇÕES

Youssef afirmou que os agentes políticos envolvidos no esquema da Petrobras participavam pessoalmente das reuniões com as empreiteiras, onde eram discutidos valores e os nomes das empresas que participariam das licitações. Youssef afirmou que eram feitas atas descrevendo detalhadamente as decisões tomadas nestas reuniões e os temas discutidos.

- Era feita uma ata escrita e constavam os detalhamentos - disse.

Ele confirmou que participou de pelo menos duas reuniões com João Vaccari Neto, secretário de Finanças do PT, para discutir o esquema da Petrobras. Segundo Youssef, Vaccari tinha conhecimento do funcionamento, assim como Fernando Soares, que era o operador do PMDB. Perguntado se Vaccari tinha ciência das operações, ele não hesitou:

- Com certeza.

Youssef disse ainda que nem ele, nem Paulo Roberto Costa, o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, eram os comandantes do esquema, e sim os "agentes políticos" que recebiam os valores.

- Eu era uma peça nesta engrenagem.

Na avaliação do doleiro, as empresas principalmente as grandes, 'ficavam reféns deste esquema'.

- Ou participam, ou não tem obra - afirmou.

CARTELIZAÇÃO DENTRO DA ESTATAL

Já Paulo Roberto Costa, também segundo depoimento obtido pelo GLOBO, disse que havia “cartelização” dentro da Petrobras para escolha de obras pelas empresas. Segundo ele, eram poucas as empresas que tinham acesso às licitações.

- Essa cartelização resulta num preço delta excedente. Na área de petróleo e gás, essas empresas normalmente colocavam de 10% a 20% a mais no valor da obra, entre custos indiretos e o lucro delas — disse Costa.

 

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