Para PT, pesquisa 'põe fogo' na militância; PSDB diz que não muda estratégia

Para PT, pesquisa 'põe fogo' na militância; PSDB diz que não muda estratégia

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:10

Fábio Matos

Ibope mostrou Haddad e Serra tecnicamente empatados, com petista numericamente à frente; margem de erro pode explicar diferença entre pesquisas, dizem cientistas políticos

A 12 dias do primeiro turno da eleição em São Paulo, a divulgação da nova pesquisa do Ibope, nesta terça-feira (25), que mostrou o candidato do PT, Fernando Haddad, pela primeira vez numericamente à frente do ex-governador José Serra (PSDB), acirrou ainda mais a disputa por uma vaga no 2º turno. O levantamento mostra que Celso Russomanno (PRB), com 34%, segue em situação confortável na primeira colocação e muito dificilmente ficará de fora da rodada final da eleição. O petista tem 18%, e o tucano, 17%, em situação de empate técnico. 

Ouvidos pela reportagem do iG logo após a divulgação dos números do Ibope, representantes das campanhas de Haddad e Serra admitiram que o acirramento entre PT e PSDB se intensificará nesta reta final. Enquanto os petistas afirmam que os números do Ibope confirmaram os da pesquisa Vox Populi divulgada na segunda-feira (24), os tucanos dizem demonstrar surpresa e ceticismo em relação ao novo quadro eleitoral e preferem aguardar o novo levantamento do Datafolha, que sairá ainda esta semana.

A última pesquisa do Datafolha, divulgada há apenas cinco dias, mostrou Serra com 21% das intenções de voto (tinha 20% na pesquisa anterior), seis pontos percentuais a mais que Haddad, que apareceu com 15% (tinha 17%). Russomanno teve 35%. Já os números do Vox Populi, próximos aos do Ibope, apontam Serra e Haddad com 17% (o tucano tinha 22% na sondagem anterior, e o petista, 14%), e Russomanno com 34%.

“(A pesquisa do Ibope) anima muito a nossa campanha e vai pôr fogo na militância para a gente recuperar os votos petistas na cidade, que chegam a 26%, 27%, sobretudo na periferia”, diz um dos coordenadores da campanha de Haddad, o deputado estadual Simão Pedro. “A nossa avaliação é que tanto o Vox Populi quanto o Ibope colocaram a situação em seu devido lugar, com a queda do Serra, o empate técnico conosco e uma leve subida do Haddad. A gente recebeu com muito estranhamento aquela pesquisa [do Datafolha]. A tendência é que o Haddad vá para o 2º turno com o Russomanno. E, agora, as campanhas dos vereadores devem se intensificar na reta final, o que gera naturalmente uma maior mobilização. Todo mundo conhece a força do PT.”

O coordenador da campanha de Serra, Edson Aparecido, por sua vez, diz não esconder a surpresa com os números do Ibope. “Achamos muito estranho. O Datafolha saiu há cinco dias com números completamente diferentes. E não aconteceu nenhum fato político que pudesse provocar uma alteração desse nível. Mas vamos esperar. Para nós, efetivamente, não muda absolutamente nada (na campanha)”, afirma o tucano.

Segundo Aparecido, a estratégia da campanha do PSDB havia se mostrado bem sucedida ao estancar a queda de Serra e conter o avanço de Haddad nas últimas semanas. “A campanha está no caminho certo. Da nossa parte, não muda nada. Em termos de estratégia, se mantém. A gente tem visto nas ruas que a aceitação do Serra está muito grande, crescendo... Acho que agora é aguardar e manter a calma. Desde o início, todo mundo sabia que esta seria uma eleição extremamente disputada, e é isso o que está ocorrendo. Vai ser uma eleição disputada até o último minuto do dia 7. Palmo a palmo.”

Simão Pedro minimiza o estranhamento tucano em relação aos números do Ibope. “Pesquisa é onda. É claro que tem variações, margem de erro... Mas não vamos ficar brigando com instituto de pesquisa”, afirma. “O que há é um sentimento de animação na campanha do Haddad e uma sensação na cidade de que o Serra vai perder. Essa visão de que a campanha do Serra está indo por água abaixo é o que está na cidade. E está se configurando nas pesquisas.”

O deputado estadual cita comícios programados para a zona leste como estratégicos para a reconquista dos votos da periferia herdados por Russomanno, além de um ato com a juventude do PT que contará com a presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nesta quinta-feira (27). Sobre a presidenta Dilma Rousseff, segundo Simão Pedro, ainda não há nenhuma confirmação oficial a respeito de participação em eventos de campanha nos próximos dias. “Muito se ouve a respeito disso, mas até agora não tem nada.”

Metodologias e margem de erro

Para o cientista político, professor e vice-coordenador do curso de Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Marco Antonio Carvalho Teixeira, as diferenças entre os números apresentados por Vox Populi e Ibope em relação aos da Datafolha são “oscilações” e não significam necessariamente erros de metodologia dos institutos.

“Acredito que seja oscilação. Desqualificar o Vox Populi e manter essa desqualificação quando vem o Ibope e confirma não me parece muito válido”, afirma. “E, na pesquisa do Datafolha, são oscilações que não permitem dizer que é uma tendência (Serra à frente de Haddad). O que há de comum entre todas as pesquisas é a consolidação do Russomanno.”

Sobre a ascensão de Haddad e a queda de Serra no Ibope, Teixeira lembra que “as oscilações foram dentro da margem de erro” de três pontos para mais ou para menos – o petista subiu três pontos e o tucano caiu dois. Para ele, “a tecnologia de pesquisa eleitoral é muito segura”. “(A pesquisa) Representa mudanças, mas podem não ser mudanças consolidadas”, pondera. “Obviamente, para o Haddad é um ânimo de campanha impressionante. Depois da última pesquisa do Datafolha, parecia que a campanha ia desandar. Mas quando você tem duas pesquisas na sequência mostrando uma oscilação positiva, é claro que anima a campanha dele. E preocupa muito a do Serra, até porque, pelo Ibope, aumentou também a rejeição, chegando a 40%, índice próximo ao apresentado pelo Datafolha (44%).”

Carlos Melo, cientista político e professor do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), não descarta eventuais erros de metodologia ou mesmo uma mudança de última hora no comportamento do eleitor. “Não posso dizer com segurança neste momento, mas acho que não é a primeira vez que isso acontece [grande diferença entre as pesquisas]. Na reta final, os números desses institutos sofrem uma mudança abrupta. Se isso for verdade, ou temos um problema na metodologia, ou o eleitor, na reta final, passa a prestar mais atenção e muda. Esta é uma possibilidade. Aquilo que parecia uma ‘boca de jacaré’ acaba virando um ‘xis’”, diz.

Entretanto, Melo também lembra que, pela margem de erro da última pesquisa do Datafolha – de dois pontos percentuais para mais ou para menos –, os 21% de Serra poderiam ser 19%, e os 15% de Haddad talvez chegassem a 17%, em situação bem mais próxima ao resultado do Ibope desta terça. “Você pega o que o Datafolha mostrou, joga dois na margem de erro, e dá o que o Ibope apontou. A diferença de metodologia é o que se chama de margem de erro.” E completa: “O resultado está em aberto. Nós não temos condições de afirmar com certeza quem vai para o 2º turno com o Russomanno”.


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