‘Se for intimado, irei’, diz Fleury sobrejulgamento do massacre do Carandiru

Fleury deve depor no julgamento do massacre do Carandiru

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 9:08

Fleury deve depor no julgamento do massacre do CarandiruVasconcelo Quadros

O ex-governador Luiz Antônio Fleury Filho explicou que não compareceu ao julgamento do massacre do Carandiru, nesta segunda-feira, porque não foi intimado. A mais importante testemunha da defesa, Fleury garantiu, no entanto, que não deixará de atender a ordem da justiça.

“Estava viajando e cheguei de volta ontem (domingo). Não vejo tanta importância no meu depoimento, mas se for intimado, irei sem problemas”, garantiu.

Governador de São Paulo na época da chacina que matou 111 detentos do Pavilhão 9 da Casa de Detenção, Fleury não quer mais dar entrevistas sobre o assunto. Diz que seu depoimento durante o julgamento esclarecerá todas as dúvidas que forem levantadas pela justiça, mas que não dá mais entrevista sobre o assunto.

“Não há arrependimento”, disse, lacônico ao ser perguntado se tomaria uma atitude diferente hoje. Diante da insistência do repórter do IG, o ex-governador iniciou uma declaração, mas a deixou a frase pela metade. “Meu único arrependimento é não...”. Fleury explicou que passou os últimos 20 anos dando explicações sobre o caso e que, desde o ano passado, tomou a decisão de não mais falar.

O massacre do Carandiru ocorreu em meio do mandato de Fleury e, diante da repercussão internacional, foi um divisor de águas na política de segurança do governo paulista, interrompendo a escalada da matança de civis nos alegados confrontos de rua com a criminalidade. Os números de supostos criminosos mortos haviam saltado de 585 em 1990 para 1.140 em 1991 e 1.359 em 1992.

No dia da chacina, 2 de outubro de 1992, o então governador viajava pelo interior em campanha por candidatos do PMDB às eleições municipais. Fleury foi consultado por telefone pelo ex-secretário Pedro Franco de Campos, que retornaria para o então comandante da operação, o coronel Ubiratan Guimarães, autorizando a invasão do Pavilhão 9.

Nunca ficou claro se Fleury, de forma explícita, mandou invadir ou deixou que a cúpula de segurança avaliasse a gravidade e tomasse a decisão. Ele sempre afirmou que só soube do resultado da operação por volta das 18h do dia 2, quando o massacre já havia sido consumado. Seu depoimento como testemunha de defesa deverá definir um parâmetro de avaliação para a os jurados e terá reflexo sobre a situação de todos os 79 réus.

A partir do que dirão Fleury e seu então secretário, Pedro Franco de Campos _ exonerado do cargo em decorrência do massacre _ os jurados poderão concluir se os policiais cumpriam ordem ou agiram por iniciativa própria.

A operação foi planejada e executada com as duas principais tropas de choque à frente: o Grupo de Ações Táticas Especiais (GATE) e a Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (ROTA).

O resultado da invasão, que terminou com 111 detentos mortos e outros 153 feridos (23 deles policiais), só seria conhecido no dia seguinte, depois que as urnas das eleições municipais já haviam sido fechadas. No dia 2 o massacre disputava espaço nos veículos de comunicação com a renúncia do ex-presidente Fernando Collor.

No dia seguinte, o candidato do PMDB que, segundo os adversários, Fleury tentara proteger, o hoje senador Aloísio Nunes Ferreira (PSDB) havia sido derrotado pelo deputado Paulo Maluf (PP) na disputa pela Prefeitura de São Paulo.

O mandato de Fleury ficaria marcado pelo massacre do Carandiru. Ele depois se afastaria do PMDB e de seu guru político, o ex-governador Orestes Quércia, e só se elegeria deputado federal uma única vez, pelo PTB.

Hoje Fleury está de volta ao PMDB, mas jura que não é mais candidato a cargo político. “Só sou candidato a bom advogado”, diz o ex-governador, que foi tenente da Polícia Militar e promotor de justiça até entrar na política como secretário de segurança de Quércia.

 

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