Acusados de integrar milícia são absolvidos de tentativa de homicídio

Absolvidos 4 acusados de integrar milícia

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:15

O 4º Tribunal do Júri absolveu, na madrugada desta quinta-feira (16), o ex-vereador Jerônimo Guimarães, o Jerominho; seu irmão, o ex-deputado estadual Natalino Guimarães; seu filho Luciano Guinâncio Guimarães; além de Leandro Paixão Viegas, o Leandrinho Quebra-Ossos, da acusação de tentativa de homicídio contra um fiscal de kombi, em 2005, em Guaratiba, na Zona Oeste. O júri popular decidiu por quatro votos a três que os réus eram inocentes. O Ministério Público ainda não sabe se vai recorrer.

"É uma questão que nós vamos avaliar. Nós não gostamos de logo decidir se vamos recorrer ou não, no calor dos debates. Então, vamos decidir durante a semana se vamos recorrer ou não", disse a promotora Viviane Tavares Henriques.

Já para a defesa, a senteça foi democrática. "Um ato de coragem do Tribunal de Júri, que é um Tribunal democrático. Um trabalho coadjuvado com a Defensoria Pública do estado do Rio de Janeiro, em que o resultado parece que começa a colocar no lugar certo tudo que diz respeito aos acusados", enfatizou o advogado Roberto Vitagliano.

Os quatro são acusados de integrar uma das maiores milícias da Zona Oeste e cumprem pena por formação de quadrilha na penitenciária federal de Campo Grande, em Mato Grosso do Sul. Eles devem retornar para Campo Grande ainda nesta quinta-feira.

Réus negam acusações

O julgamento começou na tarde de terça-feira (14) e foi até esta madrugada. Todos os acusados tiveram a chance de se falar. O primeiro a ser interrogado foi Luciano. Ele negou as acusações. O ex-vereador Jerominho disse à à juíza Elizabeth Machado Louro atribuiu a inimigos políticos as denúncias de participação no atentado e citou uma "trama política" para incriminá-los.

Ele negou ainda envolvimento "de forma criminosa no transporte alternativo na Zona Oeste", mas admitiu que o assunto era uma pauta de sua campanha, já que, segundo disse, trabalhadores do setor o procuravam pedindo ajuda.

No dia em que houve o atentado ao fiscal de kombi, segundo contou Jerominho, ele estava num evento em seu centro social em Guaratiba, na Zona Oeste, seu reduto eleitoral, e, quando saiu de lá de carro, com seu filho, Luciano, e seu irmão, Natalino, também réus no processo, foi parado numa blitz cerca de 300 metros adiante, onde foi informado que tinha ocorrido um tiroteio ali perto. Ao depor, seu filho Luciano contou a mesma versão.

Segundo Jerominho contou, na blitz, policiais militares pediram que ele fosse à delegacia com seu filho Luciano porque alguém teria dito aos policiais que um carro dele estava envolvido no atentado.

O ex-vereador disse que não conhecia a vítima, nem tinha carro da marca citada pelos policiais, mas foi à delegacia com o filho. Ele disse ainda que seu filho Luciano foi levado à sala de reconhecimento e reconhecido como participante do atentado, mas ele não soube informar à juíza quem teria identificado Luciano.

Réu cita 'inimigos'

Jerominho atribuiu as acusações a disputas políticas na região, onde teria muitos inimigos, entre eles o coronel Dario Cony dos Santos, que prestou depoimento na terça (14) como testemunha de acusação. Cony era comandante do Regimento de Polícia Montada (RPMont) na época do crime e também contribuiu com as investigações.

Segundo o coronel disse à juíza, ele tinha conhecimento de várias denúncias de que os acusados comandavam um esquema de controle do transporte alternativo na Zona Oeste. Outro inimigo, segundo Jerominho, seria "Mazinho", também político da região.

Jerominho disse que não conhecia o quarto acusado na ação, Leandro Paixão Viegas, mas conhece Ricardo Teixeira, conhecido como Batman, que seria, segundo investigações da polícia, um dos chefes da mesma milícia que os quatro acusados também são suspeitos de participar.

Ao fim de seu depoimento, Jerominho se exaltou, dizendo que não era criminoso, era um pai de família.

Para Natalino, acusações são 'mentirosas e vis'

Último réu a ser interrogado, o ex-deputado Natalino José Guimarães chamou de “mentirosas e vis” as acusações de participação no atentado, e atribuiu as denúncias a inimigos políticos da Zona Oeste do Rio, seu reduto eleitoral.

"Na ditadura, inimigos jogavam na casa de vizinhos panfletos e acusavam de serem subversivos. Hoje, inimigos de policiais acusam eles de ser milicianos, agora eu virei miliciano", disse Natalino, que é ex-policial civil.

Segundo Natalino contou, ele foi acusado de integrar a milícia que seria comandada por Batman porque passou a usar um adesivo de um morcego. "Achei bonito, comprei numa banca de jornal, e agora virei miliciano", disse ele, acrescentando que não conhece Batman.

Leandro Paixão Viegas, o Leandrinho Quabra-Ossos, segundo acusado a ser interrogado pela juíza, recusou-se a responder a qualquer pergunta. Segundo a denúncia, ele e Luciano teriam sido os autores da tentativa de homicídio contra o fiscal de kombi, a mando de Jerominho e Natalino.

Acusação x defesa

Após o depoimento dos réus, o promotor Paulo Roberto da Cunha expôs a tese da acusação por duas horas e meia. Ele encerrou sua fala enfatizando que os “quatro acusados são milicianos e quadrilheiros”.

Inicialmente, o promotor leu trechos da CPI das Milícias, instalada na Alerj, para explicar o poder e influência da atuação desses grupos nas comunidades.

Para reforçar a tese de que os réus seriam milicianos, o promotor recorreu a uma sentença anterior em que os quatro foram condenados por formação de quadrilha ou bando, em processo referente à atuação de milícias.

Segundo o Ministério Público, o objetivo do grupo era tomar o controle de uma linha de van, para cobrar um pedágio de R$ 42 por dia útil de cada um dos 64 motoristas que faziam o trajeto Jardim Maravilha -Campo Grande, também na Zona Oeste. O despachante escapou ileso.

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