Alunos detidos querem PM fora da USP e liberação da maconha no Brasil

Alunos detidos querem PM fora da USP e liberação da maconha no Brasil

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:22

Dois dos três estudantes de Geografia detidos por dois policiais militares por porte de entorpecente na Universidade de São Paulo (USP), na Zona Oeste da capital paulista, na noite de quinta-feira (27), afirmaram nesta sexta (28) que são contra a presença da PM na Cidade Universitária. Eles também se dizem favoráveis à liberação da maconha no Brasil. O terceiro aluno, de 22 anos, foi procurado pelo G1 , mas não quis comentar o assunto.

A detenção dos universitários por volta das 18h desta quinta deu início a um protesto de 300 alunos contrários à ida dos suspeitos para uma delegacia e à presença da polícia no campus. Enquanto os três eram levados, houve bate-boca e alunos jogaram um cavelete nos policiais. Houve confronto com a PM, que usou cassetetes, spray de pimenta, bombas de gás lacrimogêneo e de efeito moral para dispersar a manifestação. Os estudantes revidaram com pedras. Um carro da Polícia Civil e outros cinco da PM foram danificados, segundo registro da Polícia Civil. Alunos também se feriram.

Ainda na noite desta quinta, universitários invadiram a sala da administração da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) para protestar contra a ação da PM. Eles informaram que só vão deixar o local quando a polícia parar de patrulhar a USP. Um convênio firmado neste ano entre a universidade e a Polícia Militar permitiu que a corporação realize rondas no campus. O acordo foi feito após a morte do aluno Felipe Ramos de Paiva, de 24 anos, durante tentativa de assalto em maio. Enquanto ocupavam a FFCLH, os três universitários foram até a Central de Flagrantes da 3ª Delegacia Seccional, anexa ao 91º Distrito Policial, também na Zona Oeste. Lá, tiveram de assinar um termo circunstanciado sobre “drogas para consumo pessoal sem autorização” e “dano ao patrimônio”. Posteriormente, os alunos foram liberados.

Como foram detidos antes do confronto com a PM, os jovens disseram que só tomaram conhecimento do que ocorreu na USP nesta manhã, quando assistiram a TV. Em suas páginas pessoais na internet, eles receberam apoio dos colegas e responderamam as mensagens com agradecimentos.

Sob a condição de que seus nomes não fossem divulgados dois dos universitários, de 21 e 22 anos, aceitaram conversar com o G1 .

Prédio da FFLCH permanecia ocupado nesta sexta

(Foto: Letícia Macedo/G1) Abordagem

“A gente não estava fumando maconha. A gente foi pego enquanto estava processando material para fumar e fomos abordados. Foi quando apareceram os PMs. Eles perguntaram o que estávamos fazendo ali e entregamos o que tínhamos. Era para consumo”, disse o aluno de 21 anos.

“Eu não sou usuário frequente. Às vezes uso com amigos. A abordagem foi tranquila. Tínhamos acabado de comprar. A gente nem ia fumar lá. Estávamos no carro e eles passaram, olharam. A gente entregou o que tinha. A gente estava lá conversando, ia resolver lá mesmo, e vieram alguns alunos para ver o que estava acontecendo e começou o tumulto. ‘Se seus amigos ficarem gritando, vai ficar feio para vocês’, disse um PM", contou o estudante de 22 anos.

Confronto

“O procedimento da PM na abordagem comigo e com meus amigos foi normal. Mas na minha opinião, o que está em jogo é um debate longo: a presença dos policiais no campus. A minha critica é que a presença da PM é equivocada para reprimir. O direito de expressão tem de ser respeitado”, disse o estudante de 21 anos.

“A gente não foi para a delegacia no carro da polícia. Fomos no carro de um professor. Não fomos algemados e não fomos presos. Fomos detidos para averiguação, prestamos esclarecimentos e fomos liberados”, disse o aluno de 22 anos.

Maconha

“Acho que temos que debater a liberação da maconha. Toda a violência aconteceu por causa de uma quantidade ridícula da droga. É um debate que envolve gerações na universidade. Sou defensor da legalização da maconha”, disse o aluno de 21 anos. “Eu acho que a proibição da maconha é uma hipocrisia total. O álcool gera mais mal, brigas e mortes no trânsito e é liberada porque gera muito mais dinheiro. Historicamente, a maconha foi proibida nos Estados Unidos como preconceito e hoje tem diversas pesquisas científicas [sobre seu uso]. O problema social da maconha é o tráfico que foi criado por causa da proibição”, disse o aluno de 22 anos. “Só espero que esse fato sirva de momento para a galera pensar".

PM

“Acho que é preciso debater presença da PM no campus. O problema maior é a repressão. Está um clima quase de perseguição. Pessoas que estavam estudando no gramado de Geografia ou dormindo lá estão sendo abordadas”, disse o aluno de 21 anos.

“Eu sou contra a PM estar na USP, não faz menor sentindo. Tinha 70 anos que não tinha PM. A PM já fazia ronda na USP e fazia batida na época do latrocínio. Mas a PM não é preparada para lidar com estudante universitário. A PM age de forma truculenta, inclusive com professores. É um espaço para ter liberdade de discutir uma série de coisas. A PM lá quer inibir várias discussões”, disse o aluno de 22 anos.

Estudantes da USP protestaram contra ação da PM na noite desta quinta (Foto: Tiago Queiroz / Ag. Estado)          

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