"Angelina Jolie é uma tremenda simuladora", diz diretor de "Salt"

"Angelina Jolie é uma tremenda simuladora", diz diretor de "Salt"

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 10:18

O diretor australiano Phillip Noyce, 60, é fascinado por espionagem e tem no currículo outros filmes do gênero, além de "Salt", que estréia hoje no Brasil.

O longa é estrelado por Angelina Jolie, que faz uma agente da CIA acusada de ser uma espiã russa. Para provar a inocência, ela foge e organiza uma série de atentados que levam o espectador a duvidar a todo momento quem, afinal, é Salt.

Jolie trabalhou com Noyce pela primeira vez no filme "O Colecionador de Ossos" (1999). Noyce também dirigiu Harrison Ford como o analista na CIA Jack Ryan em "Jogos Patrióticos" (1992) e "Perigo Real e Imediato" (2002).

Seu próximo projeto será com Russell Crowe, no romance "Dirt Music", que eles começam a filmar em setembro na Austrália. O papel era originalmente de Heath Ledger, morto em 2008.

Veja trechos da entrevista que o diretor deu à Folha, na qual falou de espionagem real e de Angelina Jolie, que fez todas as cenas de ação:

FOLHA - Na pré-estreia do filme, vi Angelina Jolie bem de perto. Ela é bastante magra, me pareceu muito frágil. Como foi transformá-la em Salt?

PHILLIP NOYCE - Pois é, isso se chama atuação! Ela é uma tremenda simuladora. Mas ela não fez tanto treinamento físico, ela treinou um pouco, fez principalmente aulas de balé, de dança. Para cada cena de ação em particular, você precisava de uns 15 ou 25 segundos. Era como ensaiar para uma peça. Ela parece uma guerreira, mas é tudo questão de atuação.

Quanto das cenas de ação ela fez sem dublê?

Ela fez todas! Ela tem um coordenador de dublê, Simon Crane, um inglês que trabalha com ela há uma década. E ele conhece os limites físicos de Angelina muito bem. Sabe o que ela faz bem, sabe quando dizer não. Mas ela tenta qualquer coisa, é louca por adrenalina. Mas também não é só isso. Por trás de tudo ela é uma artista no sentido tradicional, ela tem entretenimento no sangue. Ela quer dar um show. Como esses artistas de circo de antigamente, que iam de cidade em cidade, levantavam uma tenda e faziam mágica, hipnoses, truques.

Mas ela se machucou, não?

Sim, numa cena final, no bunker da Casa Branca. Ela tinha que passar por uma porta, mas acabou batendo a testa, sofreu um corte bem entre os olhos. Mas isso é apenas uma amostra de como ela não tem limites. Quer dizer, nesse dia ela ficou um pouco nervosa, não queria se machucar de novo.

Você fez um filme com ela em 1999, "O Colecionador de Ossos". Ela já era assim?

Surpreendentemente ela continua a mesma pessoa em questões que são importantes. Quando trabalhei com ela pela primeira vez, ela era praticamente uma desconhecida. Claro que agora era o oposto. Mas essa era uma bagagem que ela carregava fora do set e que ela deixava na porta. Ela entrava no set como praticamente a mesma pessoa. Entusiasmada, flexível, destemida, colaborativa. E querendo tentar tudo, sem ficar se censurando, o que é uma coisa que acontece com muita gente quando atinge o topo.

E como foram feitas as mudanças no roteiro, depois que ficou decidido que o papel principal seria de uma espiã, e não um espião?

A ideia principal continuou a mesma, mas tiveram muitas mudanças. Todos os diálogos foram reescritos porque quando Salt era um cara ele fazia muitas piadas, brincadeiras com seus colegas da CIA. Então o personagem foi refeito. E as relações tiveram que ser reescritas. Mas todas as mudanças foram para melhor. Num filme sobre um personagem que é acusado de algo e que precisa fugir para defender sua inocência, é talvez mais fácil para o público simpatizar com uma mulher do que com um homem.

Por quê?

Porque acho que existe uma noção geral de que homens conseguem se virar sozinhos e que mulheres precisam de nossa ajuda. Talvez seja uma visão masculina...

Mas a gente não vê uma Angelina sexy ou glamurosa em cena, e quando ela tenta seduzir um inimigo, ela falha. Por quê?

Bom, se a gente fizer uma série [de filmes], com certeza haverá mais espaço para uma Angelina mais sexy. Mas, você sabe, Angelina não queria copia James Bond nesse sentido. Há muitos espiões dormentes agora. Esse é apenas o começo de Salt, é bem a origem de tudo, da sua missão.

*Você pretende dirigir o próximo filme?

Eu não sei, mas por outro lado eu nunca diria não.

Angelina está comprometida em fazer a sequência?

Não sei, mas claro que conversamos sobre sequências. Tudo depende da bilheteria.

Como foi fazer a pesquisa para o filme? Conversou com muitos ex-espiões?

Uma coisa engraçada sobre ex-espiões é que eles adoram falar sobre os dias de glória, de quando eram espiões, sem revelar detalhes, segredos de Estado, claro. Mas eles falam de técnicas, de como fazer e tal. Tudo o que está no filme foi detalhadamente pesquisado.

Pode dar alguns exemplos?

Teve uma mulher que foi espiã no Oriente Médio, ela trabalhava disfarçada numa empresa americana. Ela me contou que sempre escolhia seu apartamento a partir da melhor saída de emergência. E que ela tinha uma mochila de fuga, com tudo o que precisaria para continuar sua missão ou fugir sem ser descoberto. Sabe, ela disse que tinha máscara, peruca, echarpes. E, claro, armas e dinheiro na mochila. São coisas que você vê Salt fazendo. Há aspectos do filme que o público pode achar fantasiosos, coisas de Hollywood, mas tudo é fundamentado em realidade.

O bunker da Casa Branca e a maleta nuclear também são reais?

Se você olhar para fotos dos presidentes americanos você sempre vai ver esse militar andando a uns dez passos do presidente, carregando essa maleta, que é chamada de "nuclear football". Quem conseguir seqüestrar essa mala terá controle de todo o arsenal nuclear dos EUA. Nós pesquisamos com gente que trabalhou de perto nesse projeto.

Então a história real dos 11 espiões russos descobertos em Nova York, semanas antes da estréia de "Salt", não poderia ter vindo em melhor hora. O que achou da coincidência?

Foi mesmo uma coisa gigante. Mas o mais impressionante é que isso aconteceu em 2010 e não em 2002. Porque quando eu comecei a pesquisar esse tema de espiões adormecidos eu falei com agentes de ambos os lados, e é claro que eles existem. Acho que fomos sortudos porque as pessoas vão perceber que isso é muito maior do que um ou dois super espiões. Mas "Salt" não é um documentário, é um filme para se divertir. Mas também não quer dizer que nada disso seja verdade. No final, para mim, prova isso: que no mundo da espionagem, a verdade é muito mais divertida do que qualquer filme de ficção de Hollywood

Como compara "Salt", suas habilidades e sua história, a outros espiões mais famosos, como James Bond ou mesmo Jack Ryan, do seu filme "Jogos Patrióticos"?

Harrison Ford [que fez Jack Ryan] era um analista da CIA relutante em ir a campo, ele basicamente fazia acontecer de forma cerebral. Já James Bond é o pequeno sexista. E é um homem que não sabe quem é. Enquanto Salt sabe exatamente quem ela é. Ela só não sabe quais das suas múltiplas personalidades ela quer ser.

Quanto usou de efeitos especiais?

Hoje a maioria dos filmes tem efeitos intensos nas cenas de ação, mas no nosso caso só usamos efeitos visuais para os cenários, para fingir que estávamos em Washington, por exemplo. Sabe, era mesmo Angelina fazendo todos aqueles dublês, não tinha nenhum truque CG.

Mesmo aquela cena em que ela pula de um caminhão para outro?

NOYCE - Sim, sim, ela não estava em queda livre, estava presa por cabos bem finos, e tínhamos também motoristas bem especializados. Mas era tudo ela. Foi "uau" mesmo.

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