Após quatro anos, dinheiro dos aloprados permanece no mesmo lugar

Após quatro anos, dinheiro dos aloprados permanece no mesmo lugar

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 10:13

Uma montanha de dinheiro repousa há exatamente quatro anos em uma sala da Superintendência da Polícia Federal em São Paulo. São R$ 1.195.000 em moeda nacional e US$ 239 mil em dólares americanos. Quando foram apreendidas no hotel Íbis próximo ao aeroporto de Congonhas, no dia 15 de setembro de 2006, as notas valiam 1,7 milhão. Hoje, com a queda do dólar, somam R$ 1,6 milhão, sem contar a inflação do período.

Segundo inquérito instaurado pela PF o dinheiro seria usado por petistas apelidades pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva de “aloprados” para comprar um dossiê contra o então candidato ao governo de São Paulo José Serra (PSDB).

O caso corre em sigilo na Justiça Federal de Mato Grosso mas, segundo fontes, quatro anos depois nenhuma pessoa foi punida, nem sequer denunciada à Justiça. A origem do dinheiro não foi identificada, todos os envolvidos continuam soltos.

Ontem, um dia antes de o caso completar quatro anos, o ministro Joaquim Barbosa, do Supremo Tribunal Federal, finalmente julgou improcedente uma ação movida pelo então candidato do PSDB à Presidência Geraldo Alckmin, para que o caso fosse apreciado pela Justiça Eleitoral.

As autoridades não conseguiram configurar crime relacionado ao dinheiro. Apesar disso, ninguém reivindica a posse da montanha de notas.

“Estamos há quatro anos procurando o dono para devolver essa dinheirama toda mas não encontramos ninguém disposto a receber”, ironizou um dos responsáveis pela investigação. “É como se o dinheiro não existisse”, completou a fonte.

A foto da montanha de notas, no entanto, foi mostrada para todo no Brasil às vésperas do primeiro turno das eleições daquele ano e apontada por analistas políticos como o principal motivo para que a disputa entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o tucano Geraldo Alckmin fosse para o segundo turno.

A imagem também levou ao afastamento do delegado Edmilson Pereira Bruno, responsável pela investigação. Por ordem do então superintendente da PF Paulo Lacerda, a arma e a carteira funcional do delegado foram apreendidos. Alvo de sindicância interna na PF e de um processo criminal, Bruno teve a carreira arruinada, entrou em depressão profunda e passou por tratamento médico.

O processo criminal foi arquivado pelo MPF que não considerou crime o fato de o delegado ter divulgados as imagens. Dinheiro não é documento sigiloso, foi o argumento do MPF.

Segundo fontes da PF, a punição interna de expulsão foi reduzida para suspensão. Depois disso, ele foi alvo de pelo menos outras cinco ações internas e só teve a arma devolvida no ano passado. “A Polícia Federal tem por norma não divulgar procedimentos internos, o que não significa que atos correcionais sejam aplicados por esta instituição”, informou a PF.

Envolvidos

Enquanto o delegado tenta reconstruir a carreira em um cargo secundário no setor de crimes fazendários, os outros envolvidos continuam impunes.

Luiz Antonio Vedoin, suposto beneficiário da venda do dossiê responde a processo na 2ª Vara Criminal Federal de Cuiabá por envolvimento com a máfia dos sanguessugas.

Valdebran Padilha e Gedimar Passos, flagrados com o dinheiro, foram indiciados pela PF mas não foram denunciados pelo MPF à Justiça. Eles não foram encontrados.

O ex-segurança da Presidência da República Freud Godoy, envolvido no caso por Gedimar, continua dono da Caso Sistemas de Segurança, empresa que presta serviços ao PT. Por falta de provas ele não foi indiciado.

Jorge Lorenzetti, o churrasqueiro oficial de Lula, também citado por Gedimar, voltou a ser professor universitário em Santa Catarina e não foi encontrado.

Hamilton Lacerda, ex-coordenador da campanha de Aloizio Mercadante (PT) ao governo em 2006, visto entrando no hotel com um envelope, se desfiliou do PT, virou sócio de uma fazenda de R$ 1,5 milhão na Bahia segundo a Folha de S. Paulo , e em fevereiro se refiliou ao partido. Na administração da fazenda o funcionário que atendeu o telefone disse: “pode esquecer, você é o décimo jornalista que liga aqui hoje”.

Expedito Veloso, ex-diretor de Gestão e Risco do Banco do Brasil, flagrado em um telefonema pedindo pressa a Vedoin, voltou a ser gerente e depois foi promovido a diretor de um fundo de previdência do banco.

Oswaldo Bargas, que intermediou uma entrevista “denúncia” de Vedoin contra Serra, deixou a Secretaria do Ministério do Trabalho e abriu uma empresa especializada em consultoria sindical com sede em Brasília onde ninguém foi encontrado.

Embora na época o PT tenha ameaçado expulsar os “aloprados”, ninguém foi punido pelo partido.

Postado por: Thatiane de Souza

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