Após usar seu perfil no Facebook, no sábado, para relatar ter sido vítima de racismo numa loja Riachuelo, no Shopping Iguatemi, em Salvador, na Bahia, a estudante de Produção Cultural Ana Paula Bispo, de 30 anos, vai à 16ª Delegacia Territorial nesta segunda-feira. Acompanhada de um advogado, ela quer dar detalhes sobre o que ocorreu aos investigadores.
- No sábado, estive na delegacia e fiz um primeiro relato. Mas ainda não assinei a ocorrência. Essa situação está afetando a minha vida, me tornei uma pessoa pública. Mas está valendo a pena. Estou recebendo muito apoio. É bom saber que muitas pessoas não aceitam esse tipo de atitude - disse ela.
Ana Paula contou que no sábado estava na Riachuelo quando foi abordada por um funcionária dizendo que ela havia furtado um brinco:
- Fui abordada de maneira muito grosseira. O sujeito foi tocando em mim, já mandando eu tirar o brinco da bolsa.
Revoltada, a estudante esvaziou o conteúdo de sua bolsa e o tal objeto não foi encontrado. Em seguida, Ana Paula procurou a supervisora da loja, que se desculpou alegando que era o primeiro dia do funcionário.
Depois de procurar a 16ª Delegacia, ela fez um desabafo no Facebook: “Aconteceu comigo, aconteceu hoje. Acho importante que o máximo de pessoas saibam o ocorrido, pois não acredito que seja um fato isolado. Passei no shopping Iguatemi depois da aula pra resolver umas coisas, entre elas efetuar um pagamento na loja Riachuelo, entrei na loja pelo terceiro piso e umas bijuterias em promoção chamaram minha atenção, parei para olhar e vi um brinco no formato de filtro dos sonhos, mas para mim estava meio caro e segui, parei novamente próximo aos caixas para ver o preço de um copo, quando um funcionário tocou em mim, a princípio imaginei que queria passagem, quando ele me perguntou se eu estava assustada. Antes que eu respondesse qualquer coisa, pois estava atônita, ele foi ordenando que retirasse o brinco da bolsa. Que brinco, meu Deus!!!”
No relato, a estudante deixou clara a sua intenção de levar o caso adiante: “Provavelmente será apenas mais um processo contra a loja, mas é questão de honra levar até a última instância, como disse no princípio isso não é uma situação isolada, senti hoje o verdadeiro peso do racismo, aquele que transforma negra, de cabelo crespo em ladra. Podem dizer que não há relação, mas enquanto eu não vir moças brancas com seus cabelos lisos relatarem fatos iguais não me convencerei. Estava vestida de maneira simples, como grande parte das mulheres jovens numa tarde de sábado muito quente, um short e sandálias havaianas.”
Junto com o desabafo, Ana Paula postou uma cópia da queixa prestada na delegacia.
Mudança para Salvador há três anos
Ana Paula contou que morava em Candeias, na Região Metropolitana de Salvador, e seu mudou para a capital há três anos, para estudar na Universidade Federal da Bahia (UFBA).
- Nunca antes havia sido vítima de preconceito. Mas já percebi que aqui em Salvador os casos são mais comuns.
Neste domingo, a estudante voltou ao Facebook para agradecer aos apoio recebido:
- Foram apenas mensagens de apoio. Esse caso está afetando a minha vida. As pessoas me reconhecem, entram no meu perfil. De repente, a minha vida se tornou pública. Mas é por uma boa causa, para expor essa prática absurda. Essa repercussão, pelo menos, fará com que pensem duas vezes antes de tratar alguém dessa maneira.
Procurada, a Riachuelo ainda não se pronunciou sobre o assunto.
Ana Carolina Torres
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