Banda larga popular promete impactos na área econômica e social do país

Banda larga popular promete impactos na área econômica e social do país

Fonte: Atualizado: sábado, 29 de março de 2014 às 3:28

Há uma silenciosa movimentação nas proximidades da internet brasileira, que deverá desencadear a nova onda da web no país: a entrada na rede e em peso da classe C - famílias cuja renda mensal fica entre 1.100 e 4.600 reais. Ao todo, são 91 milhões de pessoas, mas hoje só cerca de 45% delas têm acesso à rede, segundo dados da Fundação Getulio Varga e TGI Brasil. Essa esperada onda é prenunciada por várias ações - públicas e privadas - que buscam explorar o novo filão. O ingresso de milhões de brasileiros no mundo digital produzirá impactos sobre várias áreas da economia e da sociedade, como comércio eletrônico, emprego, serviços e educação.

No estado de São Paulo, por exemplo, governo local e provedores já abriram mão, respectivamente, de parte dos impostos e lucros para firmar uma parceria que deu forma a um pacote de banda larga popular: a médio prazo, espera-se que até 2,5 milhões de lares recebam o sinal de até 1 MB pagando 29,80 reais. No âmbito federal, está em estudo um projeto semelhante, o Plano Nacional para Banda Larga (PNBL). As estimativas mais otimistas preveem que o eventual acordo entre iniciativa pública e privada em nível nacional poderá estimular o crescimento espontâneo do setor, elevando até 2014 o número de acessos fixos de banda larga de 18 milhões para 30 milhões - além de outros 60 milhões de acessos móveis, via celular. Estima-se que, se a mensalidade para o acesso à rede chegar a 30 reais, 9,7 milhões de lares da classe C poderiam aderir ao serviço em todo o país. Confira os dados e projeções a respeito.

A imagem construída nas panilhas é bela: a de um Brasil conectado. Mas ao tamanho das possibilidades corresponde a dimensão dos desafios - e até dúvidas. Um exemplo: para empreender um plano de tal envergadura, governo e empresas teriam de investir cerca de 75 bilhões de reais até 2014. É uma montanha de dinheiro. Mas analistas e políticos concordam que o ingresso em larga escala da classe C na rede vai de fato ocorrer - e em um prazo razoavelmente curto. "O Brasil despertou para a necessidade da tecnologia. O pais está vendo que não adianta ter um computador se não tiver acesso à internet", afirma Emilio Munaro, diretor de Educação da Microsoft Brasil. "Já podíamos ter avançado há mais tempo", diz o deputado paulista José Aníbal, líder do PSDB na Câmara, criticando o governo federal por não dar mais agilidade ao projeto.

É fato que o acesso à internet está diretamente relacionado ao desenvolvimento econômico. Segundo estudo realizado pelo Banco Mundial, a cada 10 milhões de novos acessos, o PIB de uma nação cresce até 1,3%. "Se você pensar nos 90 milhões de acessos pretendidos pelo PNBL e compará-los ao que temos hoje (cerca de 10 milhões), significa que em quatro anos poderemos fazer do crescimento do país uma realidade", prevê Pedro Cabral, presidente do IAB Brasil (Interactive Advertising Bureau), entidade de regulamentação de ações de comunicação e marketing na rede.

Operadoras e celulares - Responsáveis pelo provimento de internet, as operadoras estão dispostas a negociar com o governo para difundir a banda larga pelo território. "A Telefônica tem participado ativamente das discussões sobre o tema, com o intuito de colaborar com o governo federal e com a sociedade na criação de um Plano Nacional de Banda Larga abrangente e eficiente", afirmou em nota a companhia. A Algar Telecom, que atua em parte dos estados de Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Goiás e São Paulo, garantiu que "investirá fortemente na oferta de produtos e serviços com preços mais acessíveis" ainda no primeiro semestre. Já o diretor de produtos e serviços da NET, Márcio Carvalho, disse que a empresa aposta no mercado futuro. "Vemos a classe C ganhando poder de compra e é interessante que se inicie um relacionamento com esses clientes", afirma.

Mas a grande aposta para o salto da banda larga é a internet móvel, acessível a partir de telefones celulares. "A internet vai ser móvel e vai estar no bolso das pessoas. Será um ambiente de conectividade - da baixa renda até a classe mais alta", prevê Cabral, do IAB Brasil. O Brasil tem um entrave a essa modalidade de acesso: o baixo poder aquisitivo da população. Não por acaso, 80% dos usuários mantêm planos pré-pagos. Contudo, o país apresenta também uma facilidade à adesão: a penetração do celular no país é de 88,43 aparelhos a cada 100 habitantes - ou seja, a tecnologia já é universal por aqui. Os analistas acreditam que, no futuro, o brasileiro poderá acessar a internet a partir de seu aparelho, usando um plano pré-pago de dados. "O smartphone vai ser um elemento de universalização dos serviços de telecomunicações", aposta Marcelo Motta, diretor de tecnologia da Huawei, empresa especializada em redes de telecomunicações. "Temos a confirmação dessa tendência: mesmo com a crise financeira mundial, o mercado de smartphone registrou crescimento de 27%."

Velocidade e qualidade - Não há um consenso sobre a velocidade de transferência de dados que caracterize o sinal de banda larga. Mas analistas apontam para um modelo que possibilite ao usuário usufruir de serviços de voz, dados e vídeo. Afinal, em tempos de YouTube e Facebook, todos querem chegar à rede para ver vídeos e exibir suas próprias criações, além de interagir em redes sociais, entre outras atividades. "Para que uma conexão suporte imagens em movimento, sem prejuízo de qualidade, é preciso ter ao menos uma conexão de 300 Kbps", diz João Maria de Oliveira, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Atualmente, mesmo com o acesso restrito a algumas áreas, os serviços de banda larga apresentam problemas. Por isso, a preocupação é o que acontecerá no futuro, quando a massa de novos usuários começar a navegar na rede. "Estamos preocupados não só com o crescimento, mas também com a qualidade desse acesso", diz Milton Kashiwakura, gerente do Centro de Estudos e Pesquisas em Tecnologias de Redes e Operações (Ceptro.br), ligado ao Comitê Gesto de Internet (CGI).

Por: Natalia Cuminale com reportagem de Cecília Araújo

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