Só em 1991, um ano depois de deixar a Presidência, o já então senador José Sarney teve acesso ao dossiê que o general Ivan de Souza Mendes usou contra ele na década de 1970 e que por pouco não acarretou a sua cassação durante o governo do também general Ernesto Geisel.
A informação sobre a papelada, que questionava a conduta ética de Sarney, chegou tarde demais até ele. Souza Mendes tinha sido, nada mais nada menos, chefe do Serviço Nacional de Informações, o temido SNI, durante todos os seus cinco anos na Presidência.
"Eu dormia com uma cascavel e não sabia", reagiu o ex-presidente quando o jornalista Elio Gaspari, estudioso do regime militar e hoje colunista da*Folha*, lhe mostrou o dossiê em Nova York.
"O (...) general Ivan, tendo feito tudo isso contra mim, passou cinco anos como chefe do SNI ao meu lado. Nenhum presidente deve ter sido antes tão vigiado e seguido quanto eu", disse.
Ivan de Souza Mendes, morto aos 88 anos em 2010, é um símbolo da solidão de Sarney num Planalto e num governo moldados para um outro presidente, Tancredo Neves, internado na véspera da posse, em 15 de março de 1985, e morto em 21 de abril.
Com 624 densas páginas, pesquisadas ao longo de cinco anos e guiadas por mais de 70 horas de entrevistas com o senador, a obra "Sarney - A Biografia", da jornalista Regina Echeverria, retrata essa angustiante solidão de Sarney, inclusive sob o ponto de vista pessoal.
Vice eleito, mas não empossado; que vinha da Arena e do PDS, aliados aos militares; de um Estado periférico como o Maranhão. Sarney era um anticlímax para um país que saía de 20 anos de ditadura e se preparara para um presidente de oposição.
Ainda por cima, Sarney vinha de dois anos de profunda depressão, tratada com medicamentos. Diante da iminência da posse, entrou em pânico. Mas assumiu, resistiu às pressões e manteve-se cinco anos na Presidência.
Mais 20 anos e lá está Sarney em 2009 numa nova crise, no Senado, com as denúncias de nepotismo e de atos secretos, além de desdobramentos da Operação Boi Barrica da PF, envolvendo o filho do meio de Sarney, o empresário Fernando. De novo, o chamado "último cacique político brasileiro" balançou, mas não caiu.
Para os críticos de Sarney, o livro, escrito por uma jornalista especializada antes em cultura e música do que em política, lhe é excessivamente favorável. Talvez por isso coubesse melhor o título "Sarney --'uma' biografia". Haverá outras.
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