Ceará: Ministério Público propõe plebiscito sobre rodízio

Ceará: Ministério Público propõe plebiscito sobre rodízio

Fonte: Atualizado: sábado, 29 de março de 2014 às 3:29

Hoje é o Dia Mundial Sem Carro, que tem por objetivo refletir sobre mobilidade urbana e mudanças climáticas devido ao efeito estufa. O caos diário no trânsito é um dos graves problemas enfrentados por Fortaleza. Motivo de várias matérias publicadas pelo Diário do Nordeste e da interferência do Ministério Público Estadual (MPE) que defende a realização de plebiscito sobre a implantação de rodízio de veículos como forma de minimizar o sufoco vivenciado por motoristas e pedestres nas principais vias da cidade.

O promotor de Justiça Antônio Gilvan de Abreu afirma que já deu tempo demais para a Prefeitura tomar as medidas cabíveis e colocar em prática as sugestões enviadas por ele no início do ano. Na relação das recomendações, a implantação de paradas exclusivas para as topiques; reboque de veículos que obstruem o acesso às escolas, calçadas e repartições públicas; proibição de caminhões no Centro da cidade entre 7 e 19 horas e o aumento do número de agentes de trânsito. ''A AMC não pode simplesmente deixar de lado a proposta do rodízio sem a palavra da população. Por isso, gostaria da realização da consulta pública'', reafirma.

Na defesa da proposta, Gilvan de Abreu diz, o que não é segredo para ninguém: a Capital cearense tem, hoje, suas principais vias absolutamente saturadas pelo volume de carros - são 600 mil, segundo o Departamento Nacional de Trânsito (Detran) - que circulam por elas. E o número não pára de crescer: a cada mês, mais de 10 mil veículos são acrescidos à frota.

''O que torna impossível ter acesso à cidade'', diz o promotor, que reafirma sua intenção, se nada for feito, em solicitar à Justiça a abertura de inquérito policial para apurar responsabilidades dos gestores públicos e órgãos municipais.

O presidente da Autarquia Municipal de Trânsito, Serviços Públicos e Cidadania (AMC), Fernando Bezerra, reconhece o problema, no entanto, descarta a proposta do rodízio que, na sua avaliação, não vai reduzir o volume de veículos em circulação. ''Para isso, seria necessário mudar os hábitos de quem não vive sem o carro''.

E quais seriam as alternativas para essa pessoa? ''Nenhuma'', responde. ''Não temos um transporte público eficiente, confortável e seguro'', avalia.

Segundo Bezerra, a questão só terá solução com a implantação de uma infra-estrutura urbana que ofereça alternativas para o condutor. ''O metrô ainda é um sonho distante e as obras precisam de recursos''.

Sobre isso, a Prefeitura de Fortaleza, por meio do Programa de Transporte Urbano de Fortaleza (Transfor), promete implementar diversas obras de alargamento e restauração viárias, túneis, viadutos, ampliações dos terminais de integração, além de implantar ciclovias, calçadas padronizadas e três corredores exclusivos para o transporte coletivo. ''As obras têm como objetivo exatamente a melhoria da mobilidade urbana'', diz em nota.

A primeira etapa do programa já está em andamento desde maio de 2008 com a execução de alargamentos, restaurações viárias, a implantação do corredor Antônio Bezerra-Papicu, interligando os dois terminais, que também serão ampliados.

Estão previstas ainda as construções de túneis e viadutos na Avenida Engenheiro Santana Júnior, nos cruzamentos com as vias Padre Antônio Tomás e Antônio Sales (Cocó), além do túnel da Avenida Humberto Monte com a Avenida Bezerra de Menezes (Presidente Kennedy/Parquelândia/Pici). Além disso, o projeto inclui ciclovias e padronização das calçadas. O ritmo de obras deve ser intensificado nos próximos meses e. ''Os transtornos são pontuais . Vamos dotar Fortaleza de uma infra-estrutura satisfatória no que diz respeito à mobilidade urbana'', reforça o coordenador do programa, Daniel Lustosa.

A presidente da Associação Terra Azul, Gabriela Batista, avalia o rodízio como uma proposta positiva para a cidade. ''Fortaleza parece feita somente para quem tem carro. Não existem alternativas seguras para outros meios de transportes''.

O uso da bicicleta seria, em sua análise, uma ótima opção para uma cidade como a Capital cearense. ''No entanto, o ciclista não é respeitado pelos motoristas que acham que eles não são trânsito também''.

Segundo dados do Instituto José Frota, em 2008, 1.502 ciclistas sofreram acidentes graves. Este ano, entre janeiro e agosto, 858 já deram entrada no IJF, vítimas do trânsito, que nem eles respeitam.

Qualidade do ar: Emissão de CO2 é de 2 mil ton por dia

O caos no trânsito não é uma dor de cabeça só para Fortaleza, a maioria das metrópoles sofre com o excesso de veículos circulando em suas ruas e avenidas. Congestionamentos infindáveis, fumaça saindo pelos escapamentos, buzinadas e xingamentos: cenas que lamentavelmente fazem parte do cotidiano de seus habitantes. Isso sem falar na emissão de gás carbônico (CO2), responsável pelo efeito estufa e, conseqüentemente, pelo aquecimento global.

Pelas contas do doutor em Ciências Atmosféricas e professora do Curso de Física da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Alexandre Costa, a frota de 600 mil veículos libera por dia duas mil toneladas de CO2 na atmosfera terrestre. ''É muito, mesmo para uma cidade como Fortaleza que ainda não registra poluição do ar tão grande como São Paulo''.

O especialista concorda que é preciso reduzir a frota de veículos para melhorar a qualidade do ar e alerta que, se nada for feito a curto prazo, a concentração nos índices de monóxido de carbono e de material particulado irá piorar e muito o ar, ainda considerado limpo. ''Fortaleza tem sorte por ter grande circulação de ar e não enfrentar temperaturas baixas como outras cidades''. Para ele, o cidadão pode colaborar no combate à emissão de gases com atitudes simples, como a escolha por carros com motor menor e que use combustíveis alternativos.

Costa chama a atenção para o período de 7 a 18 de dezembro deste ano, quando lideranças de todo o planeta estarão reunidas em Copenhague, durante a 15° Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, para firmar acordos mundiais sobre a grave ameaça das mudanças climáticas. ''É preciso alertar a sociedade que as mudanças climáticas são reais e de que é necessário um tratado climático entre os países justo, ambicioso e com objetivos reais''.

Competição: Fortaleza realiza 1º desafio intermodal

Os ativistas do Dia Mundial Sem Carro em Fortaleza defendem a integração da bicicleta com o transporte público e o uso racional do automóvel. Para marcar a data, será realizado hoje, o 1º Desafio Intermodal de Fortaleza. A proposta é, utilizando ônibus, bicicletas, carros e motos, os participantes sairão em dois grupos da Praça da Estação, no Centro, em direção aos terminais do Papicu e do Antônio Bezerra. O desafio é uma espécie de competição entre os usuários dessas diferentes modalidades de transporte.

Para verificar exatamente qual o tempo gasto para cumprir o percurso combinado, a equipe de coordenação do evento estará dividida entre os três pontos, garantindo o horário de saída da praça, às 18horas, e marcando o momento da chegada de cada participante nos terminais. Lá, os participantes responderão a um questionário de avaliação do transporte utilizado, que levará em conta a eficiência do modal em relação ao custo, velocidade média, conforto, segurança, interação com a cidade e emissão de gases poluentes como o CO2.

Além disso, um projeto de lei, em tramitação na Câmara Municipal, propõe a criação do Sistema Cicloviário de Fortaleza, como incentivo do uso de bicicletas para o transporte na cidade, contribuindo para o desenvolvimento de mobilidade sustentável. De acordo com o autor da proposta, vereador João Alfredo, a rede viária será formada por ciclovias, ciclofaixas e faixas compartilhadas.

Para dar o exemplo, um grupo de vereadores irá hoje para o trabalho de bicicleta. Eles vão se encontrar na Avenida Antônio Sales e seguir para a Câmara.

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