Se o telefone toca na central, é sinal de que há um crime ou acidente em algum lugar da cidade. Pelo menos deveria ser. Ouça esta gravação:
Criança: Minha irmã tá se engasgando aqui, moço.
Bombeiro: Qual que é a idade dela, amigo?
Criança: Três anos.
Bombeiro: Três anos? Então vira ela de barriga para baixo, coloca ela em cima da sua perna. Está sentado? Senta aí. Dá uns tapinhas nas costas dela. Tá melhorando já?
Criança: Já (risos ao fundo)
Foram três ligações até o atendente perceber que se tratava de um trote.
Bombeiro: Que está acontecendo aí?
Criança: Ela se engasga e daqui a pouco ela volta.
Bombeiro: Você está passando trote aqui no bombeiro, né?
Ouvir este tipo de brincadeira é rotina para quem trabalha no setor. Todos os dias nós recebemos trotes, principalmente em horário de entrada e saída de crianças na escola, diz a soldado Jaqueline Nascimento de Arruda.
Nos últimos quatro anos, o número de trotes no serviço de atendimento da Polícia Militar e Corpo de Bombeiros em Campo Grande caiu quase pela metade. Em 2008, quase 30% das ligações eram mentira. Nos quatro primeiros meses de 2011, a média foi de 14%.
Mesmo assim, o índice ainda é alto. Em números, isso significa que das 90 mil ligações recebidas todos os meses, cerca de 15 mil não são verdadeiras. Na maioria dos casos, os trotes são feitos por crianças.
A central atende todas as ligações de emergência da Polícia Militar e Corpo de Bombeiros de Campo Grande. São apenas 13 agentes que podem atender somente 13 ligações ao mesmo tempo. De tão comuns, as ligações de crianças são facilmente identificadas.
Prejuízos
O grande problema é no numero de ligações de adultos. Muitas vezes o agente não consegue identificar e passa a ligação para outro setor, onde as chamadas são mandadas para as viaturas. Aí os prejuízos são ainda maiores.
Mulher: Companheiro, eu tô indo para Rochedo e tem uma caminhonete tombada aqui na ribanceira, na serra, que ficou uma pessoa prensada nas ferragens. Não passou ninguém até agora. Eu tô aqui, eu vou esperar até o socorro chegar.
Parecia ser um acidente grave, e por causa da chamada, viaturas dos bombeiros e da Polícia Rodoviária Federal foram parar na rodovia. Passaram quase uma hora procurando um acidente que nunca aconteceu.
O delegado Fernando Lousada explica que em casos como este a "piadinha" pode virar caso de polícia. Quando são detectados, inclusive o telefone, toda essa documentação nós encaminhamos à polícia judiciária para a instauração do processo adequado. Eles estão cometendo um crime tipificado no artigo 340 do Código Penal, cuja pena vai de um a seis meses de detenção, afirma.
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