Cerca de 500 famílias se recusam a sair de Três Vendas

Cerca de 500 famílias se recusam a sair de Três Vendas

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:17

O coronel Moacir Pires, coordenador Defesa Civil estadual no Norte Fluminense, disse que até o meio-dia desta sexta-feira (7) não conseguiu convencer nenhum dos moradores da localidade Três Vendas, em Campos dos Goytacazes, no Norte Fluminense, a deixar suas casas. Das mil famílias que vivem na região, 500 permanecem na comunidade, segundo cálculos da prefeitura de Campos.O coronel disse ainda que a água Rio Muriaé parou de subir. Mas ainda há risco para os moradores, já que o escoamento de toda a água vai demorar a ocorrer. Ele teme que as estruturas das casas fiquem abaladas com a inundação.

“Os moradores estão achando que a água vai baixar logo. Eles estão irredutíveis”, disse o coronel. A comunidade sofre com uma inundação depois que um dique se rompeu na quinta-feira (5).

Moradores temem saques

O morador Joilson Ferreira, de 40 anos, vive há 30 anos na localidade e disse que não vai sair de casa. Ele contou que já passou por outra enchente em 2008, quando o local também ficou inundado. Na ocasião, segundo ele, as casas abandonadas durante a enchente foram saqueadas. “Já estamos acostumados. Meu pai até vendeu o carro e comprou um barco. Para nós o barco é mais útil do que um carro ou uma moto”, disse ele, chegando de barco à margem BR-356, para dar carona a outros vizinhos que foram conferir o estado de suas casas.

A casa de Marciano Machado Pitanga já estava com o primeiro andar totalmente tomado pelas águas, mas ele também não pretende sair do local. Ele colocou móveis e pertences no segundo andar imóvel onde passou a noite. Nesta manhã, Marciano conseguiu carona num barco para chegar a BR- 356 onde trabalha num trailer.

"Não vou sair. Tenho medo de saques. Sou da Bahia, estou aqui há pouco tempo e me contaram que quando tem enchentes e a gente sai de casa, tem saque", contou ele.

Energia cortada

A energia elétrica foi cortada em Três Vendas nesta manhã por causa do volume de água que invadiu a comunidade, segundo o secretário de Defesa Civil da cidade, Henrique Oliveira. Um abrigo para os moradores foi montado em Travessão, distrito de Campos onde fica a localidade de Três Vendas. O secretário acredita que nesta sexta o volume de água que invadiu a comunidade não deverá subir, pois já alcançou o nível do Rio Muriaé.

Mais cedo, o major Edson Pessanha, comandante adjunto da Defesa Civil da cidade, disse ao G1 que o nível da água pode chegar a 3 metros de altura em alguns pontos de Três Vendas . A tendência, no entanto, é que no fim do dia as águas que invadiram a comunidade se igualem ao Rio Muriaé e se estabilizem em dois metros de altura, segundo Pessanha.

Como a localidade fica abaixo nível do rio, a BR-356 funciona como um dique para conter as águas. Mas, com o afundamento de um trecho e o grande volume de água do rio, causado pelas chuvas durante a semana, a inundação da comunidade não poderia ser evitada, explicou o major.

Sem emergências

Pessanha disse, ainda, que durante a madrugada não houve qualquer emergência em relação às famílias que decidiram permanecer em suas casas. Equipes da Defesa Civil passaram a madrugada no local caso houvesse necessidade de retirar os moradores com rapidez.

Nesta manhã, equipes da Defesa Civil farão uma visita aos abrigos da cidade para onde os moradores foram levados.

Casal diz que vai sair

Na quinta-feira, quem mora em casas térreas aceitou a ajuda de bombeiros para carregar caminhões com móveis e seguir de mudança provisória para a casa de parentes ou para abrigos da prefeitura.

Casal com a filha de 11 meses nos braços foi para

estrada ver estragos de rompimento de dique em

Campos (Foto: Lilian Quaino/G1) Tatiana Pessanha, com a filha Jamile, de 11 meses, nos braços, e o marido Lucas Florbelis, olhavam, na quinta, o trecho da estrada rompido, e as águas que avançavam. "Viemos ver se é grave mesmo para ver se temos que sair de casa. Já vi que vamos fazer ter que sair sim. Mas vamos para casa de parentes num local mais alto", disse.

Em 2008, quando ainda não estavam casados, eles também tiveram de sair de suas casas por causa da enchente causada também pelo desmoronamento daquele trecho da estrada. Tatiana foi para casa de parentes e Lucas teve que acampar num morro até ser acolhido por um primo.

O dono de um bar bem na entrada de Três Vendas encheu um caminhão com mercadorias para sair do local que deverá ser alagado. A Prefeitura de Campos coloca pedras na entrada da comunidade para tentar conter a água do Rio Muriaé, que ameaça invadir o local após o rompimento de um trecho da BR-356.

Risco de desmoronamento

Agentes da Defesa Civil disseram ainda que adiante do ponto onde ocorreu o rompimento da estrada existem mais três pontos de alto risco de desmoronamento, porque o acúmulo de água está causando assoreamento.

Segundo o vice-prefeito de Campos, Francisco Oliveira, em 2008, a estrada se rompeu no mesmo trecho e toda a comunidade teve de ser evacuada. "O Dnit recuperou o trecho e em dois meses os moradores voltaram. Agora ruiu de novo. Estamos aguardando a equipe do Dnit para saber quais serão as providências", disse.

Segundo o Dnit, a BR-356/RJ, no local da ruptura do corpo estradal, vem funcionando como um dique – sem nunca ter sido projetada para este fim. O órgão diz que recuperou o asfalto da rodovia – neste trecho - em 2010/2011, e foram instaladas manilhas que tinham como objetivo permitir a passagem de água de chuva e não dar vazão às águas da cheia do rio Muriaé.

Na quinta-feira, o Ministério da Integração Nacional e o governo do estado do Rio liberaram uma verba de R$ 40 milhões para construção um extravasor de cheias do Rio Muriaé, obra que será realizada no município de Laje do Muriaé, no Noroeste Fluminense. A obra, de acordo com o prefeito José Eliezer Tostes Pinto, vai acabar com as inundações na cidade e vai beneficiar diretamente cerca de 20 mil moradores.

Em Itaperuna, a prefeitura da cidade calcula que 5 mil pessoas estão desalojadas e outras 60, desabrigadas. Segundo o coordenador da Defesa Civil do município, capitão Joelson Oliveira, a água subiu 1,3 metros acima do limite no Rio Muriaé.        

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