Cinco meses após chuvas, famílias de Niterói ainda sofrem consequências

Cinco meses após chuvas, famílias de Niterói ainda sofrem consequências

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 10:14

Cinco meses após as chuvas que destruíram centenas de casas em Niterói, na Região Metropolitana do Rio, muitas famílias ainda sofrem com as consequências dos temporais. Os deslizamentos atingiram diversas comunidades carentes na Zona Norte da cidade, assim como residências de luxo, de frente para a praia, na Estrada Leopoldo Fróes. Promessas, melhorias, mudanças, são as palavras mais ouvidas neste mês pelas vítimas da chuva, que viraram alvo de muitos candidatos ao cargo de governador e deputado.

Cálculos da prefeitura de Niterói apontam que 500 pessoas ainda moram em abrigos. Em um deles, instalado no Barreto, as famílias reclamaram das precárias condições, da falta de segurança e da distância do local de trabalho.

A dona de casa Daylane Pereira, de 23 anos, conta que sua vida ainda não voltou ao normal. Após perder a casa onde morava, na comunidade Cova da Onça, ela teve que se mudar com a família para um abrigo. Daylane se separou do filho mais velho, de 6 anos, para que ele continuasse a frequentar a escola onde estudava. Ela diz que não tem dinheiro para pagar sua passagem de ônibus para levar o menino ao colégio, que fica ao lado da comunidade onde morava.

“A prefeitura de Niterói diz que não conseguiu escola pra ele aqui perto. Eu não tenho como pagar a minha passagem de ônibus pra levar ele. Então preferi deixa-lo com uma tia minha, que ainda mora na Cova da Onça. Assim ela pode levar ele a escola”.

O pedreiro Alexsandro Barcelos, de 35 anos, teve a casa em que morava no Morro do Castro, na Zona Norte de Niterói, interditada. Sem ter para onde ir, ele se mudou com a esposa e mais 15 crianças, entre filhos, primos e sobrinhos, para o prédio desativado do Grupo de Companhias de Administração Militar. Ele conta que é preciso enfileirar as crianças no chão para que todas consigam dormir no único cômodo que tiveram direito no abrigo. Antes, Alexsandro morava em uma casa de três quartos, com sala, cozinha e banheiro.

“É complicado demais viver aqui. Moram 17 pessoas em apenas um cômodo. Até o banheiro é coletivo com os outros moradores, não temos privacidade nenhuma. É difícil encontrar forças para recomeçar toda uma vida. Eu tinha casa própria e agora vivo de favor. Durmo, sem saber se vou continuar o próximo dia aqui. A prefeitura quer nos tirar daqui, mas se isso acontecer não sei pra onde vou”, reclamou. No Morro do Bumba, local mais atingido pelas chuvas, foram encontrados 47 corpos. Máquinas e escavadeiras ainda continuam revirando toneladas de lixo e lama em busca de vítimas. No local onde aconteceu o desastre será criada uma praça de lazer. Para alguns moradores, a inciativa agradou. Mas outros se revoltaram, alegando que o dinheiro investido para a área de lazer poderia ser utilizado na construção de moradias.

A aposentada Marina Belo Coimbra, de 62 anos, nascida e criada no Bumba continua morando na comunidade mesmo com a casa interditada pela Defesa Civil.

Ela conta que se cadastrou no programa “Aluguel Social”, mas não recebeu as mensalidades de R$ 400 para ajudar no pagamento de uma nova casa. Sem ter um novo lar, Marina resolveu voltar para a casa em meio às encostas com o marido e o neto. De acordo com a prefeitura de Niterói, sete mil pessoas se cadastraram para receber o benefício, mas apenas 3,2 mil recebem o auxílio. “É difícil, ter esperança em mudança. Acreditar em que? Já nos prometeram tantas coisas e não cumpriram. Enfrentei fila para o Aluguel Social à toa, assim como várias pessoas da comunidade. Não vou morar em um abrigo improvisado, sem ter privacidade, preferi voltar para a casa que foi construída por minha mãe e que morei desde que nasci”, disse.

Associação de vítimas do Morro do Bumba

Com receio do descaso das autoridades, o técnico em eletrônica Francisco Carlos Pereira de Souza, ex-morador do Morro do Bumba, criou com outras vítimas, uma associação para lutar pela construção de novas habitações.

“O que mais me incomoda é essa falta de diálogo. Ninguém quer ouvir a gente. Não adianta pagar três parcelas de R$ 400 e querer que com esse dinheiro se pague aluguel, serviço de gás, água, esgoto, limpeza. É complicado. Ouvi dizer que desativaram uma antiga garagem de ônibus, nas proximidades do Morro do Bumba, para construir um condomínio para as vítimas”.

Promessa de construções de moradias Na última sexta-feira (2), o Governo do Estado iniciou a construção de 180 casas para os desabrigados dos Morros do Bumba e do Céu, onde há um lixão. A previsão é de que as moradias sejam entregues em março de 2011. O investimento será de R$ 11 milhões.

Um condomínio com 140 casas também foi construído em Várzea das Moças, Niterói, para as vítimas da chuva.

A Secretaria de Obras prevê que até agosto de 2012 outros cinco mil apartamentos serão construídos no bairro do Sapê para realocar os desabrigados. O início da construção das moradias está previsto para janeiro e será financiada pelo governo estadual. Já para as 180 casas do Morro do Bumba, os recursos são parte dos R$ 550 milhões dados pelo governo federal para a recuperação das áreas afetadas pelas chuvas, dos quais R$ 130 milhões serão investidos em Niterói.

Dos investimentos em obras de prevenção previstos para Niterói, de acordo com o secretário de Obras, R$ 60 milhões serão aplicados na contenção de encostas a fim de evitar desmoronamentos durante o próximo período de chuvas de verão.

Postado por: Thatiane de Souza

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