Com medo, motoristas 'riscam' ruas do caminho no Morumbi

Com medo, motoristas 'riscam' ruas do caminho no Morumbi

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:22

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Ladeirão do Morumbi é uma das vias mais temidas no bairro devido aos assaltos

e à proximidade com a Favela de Paraisópolis (Foto: Carolina Iskandarian/ G1)

  Por causa da violência, algumas ruas do Morumbi, bairro da Zona Sul de São Paulo, estão sendo riscadas do mapa por moradores e frequentadores da região. Para não dar de cara com ladrões em vias consideradas perigosas, algumas pessoas começaram a traçar rotas alternativas, mesmo que isso signifique passar um tempo a mais no trânsito.   “Dou uma volta enorme se tiver que pegar o Ladeirão. Se você for assaltado ali não tem para onde correr”, diz a escritora Claudia Antunes Jollo, referindo-se à Rua Doutor Francisco Tomás de Carvalho, uma das mais temidas atualmente. A via, uma enorme ladeira em mão dupla, dá acesso à Avenida Giovanni Gronchi, uma das mais importantes do bairro, e à Favela de Paraisópolis. Isso basta para que os motoristas não gostem de passar por ali.

“Dou uma volta pelo estádio (do Morumbi), pego a Avenida Padre Lebret e sigo por outro caminho para não pegar o Ladeirão. Se fosse por ele, em um estalo de dedos chegava em casa”, lamenta Claudia. Moradora do bairro há um ano e meio, a escritora, que diz também nunca repetir o mesmo caminho quando leva seu filho à escola, justifica o medo dos últimos meses: “Meu marido sofreu uma tentativa de assalto em junho no portão de casa, quando ia sair para trabalhar”.

De acordo com ela, o criminoso estava com uma pistola e disparou, mas o tiro não atingiu o motorista porque o carro é blindado. “Hoje em dia eu tenho segurança. Ele vem até o portão quando chegamos em casa, tenho cinco rottweilers e câmeras. Já pensei em me mudar, mas não acredito que consiga vender bem a casa.”

Cercado por adolescentes

O estudante Felipe Fuchs, de 19 anos, tirou do seu caminho a Avenida Giovanni Gronchi. No dia 9, ele contou ter sido assaltado por um grupo de adolescentes enquanto estava parado no trânsito. Eram 23h e havia congestionamento porque era dia de apresentação do cantor Justin Bieber no Estádio do Morumbi.   “Uns cinco jovens bateram no meu vidro e havia mais uns dez batendo no vidro dos outros carros. Estavam com estiletes. Um adulto, de longe, me viu e mostrou uma arma. Estava de olho nas crianças. Abriram a porta do meu carro, entraram e roubaram o som, a carteira, o celular”, conta Fuchs.

“A gente quer se mudar daqui. Não passo mais pela Giovanni Gronchi. Corto pela Avenida Morumbi e pela Marginal (Pinheiros) por causa da violência”, diz Fuchs. A mãe dele também foi assaltada no carro há três anos no bairro. “Levaram a bolsa e os documentos dela.”

A Avenida Giovanni Gronchi também é a pedra no caminho de uma secretária de 42 anos que trabalha perto do estádio. Com medo, ela prefere não revelar o nome. “Nem se me derem R$ 1 mil eu passo pela Giovanni. Em qualquer horário”, conta a mulher. Ela afirma que sabe que a via “é a mais policiada” da região e, mesmo assim, diz que evita o trajeto.

Hora do cafezinho

Já a advogada Cida Wiederhold, de 54 anos, deixou de lado “as quebradas” que usava para driblar o congestionamento e agora só trafega pela Avenida Giovanni Gronchi. “Não ando mais pelas quebradas para fugir do trânsito. Antes, pegava o Ladeirão e cortava por dentro. Hoje, não vou mais me aventurar”, afirma Cida, que costumava passar de carro pelas ruas de Paraisópolis.

Ela mora na Rua José Carlos de Toledo Piza, que batiza de “rua do medo”, e diz que evita alguns horários para entrar e sair de casa - um dos acessos é pela Giovanni Gronchi -, tudo para não enfrentar o movimento de estudantes de duas escolas públicas. “É um verdadeiro inferno. Os adolescentes são do bem, mas tem gente do mal que se mistura (para cometer crimes) no horário da saída.”

Como a rua é pequena e tem lombadas, Cida diz que a sensação de insegurança é ainda maior. “No mês passado, houve três roubos de carros na minha rua”, afirma a advogada, moradora do bairro há 20 anos. A tática para fugir da saída escolar é simples. “A gente vai tomar cafezinho. Ninguém entra ou sai de casa entre 18h45 e 19h20. É um absurdo, mas é a realidade do Morumbi.”

Policiamento

Desde agosto, o bairro é alvo da operação Colina Verde, da Polícia Militar. O objetivo é reforçar a segurança no Morumbi e regiões próximas. Em entrevista ao G1 na terça-feira (25), o comandante-geral da PM, Álvaro Camilo disse que os policiais “não vão sair do bairro” e admitiu que o “Ladeirão não pode mais ficar sem policiamento”.

Segundo Camilo, de 25 de agosto a 21 de outubro, a Polícia Militar prendeu 13 pessoas, recapturou seis foragidos da Justiça e apreendeu 14 adolescentes cometendo delitos na região durante os desdobramentos da Colina Verde. No mesmo período, o coronel informou que houve 64 carros e 23 motos apreendidos em mais de 7 mil abordagens.

Ele disse ainda que os índices de criminalidade no Morumbi caíram desde que a Operação Colina Verde teve início. De 25 de agosto a 7 de outubro, o número de homicídios diminuiu 67%, passando de 6 para 2. O porcentual de roubos também apresentou redução, segundo ele.        

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