'Dava para ver os ossos', diz PM que socorreu garoto queimado por mãe

'Dava para ver os ossos', diz PM que socorreu garoto queimado por mãe

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 9:20

Desenhista foi presa por suspeita de torturar e

tentar matar o próprio filho (Foto: Kleber Tomaz/G1) “Ele estava se desmanchando, o corpo dele se desmanchava, dava para ver os ossos nas mãos”, afirmou nesta quarta-feira (23) Marcelo de Melo Alves, soldado da Polícia Militar de São Paulo, ao relembrar como encontrou o estudante de 10 anos que teria sido queimado pela própria mãe, na madrugada desta terça (22). O menino teve queimaduras de segundo e terceiro graus em 27% do corpo. A mãe do garoto, a desenhista Sandra Gomes Bacelar, de 35, está presa na Penitenciária Feminina de Santana, na Zona Norte, por suspeita de ter queimado o próprio filho. A Polícia Civil a indiciou por tortura e tentativa de homicídio. Ela alega inocência e nega o crime.

Nesta manhã, o garoto ainda corria risco de morrer. De acordo com a assessoria de imprensa da Secretaria Municipal de Saúde, seu estado de saúde é considerado “grave para gravíssimo”.

O garoto está internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Tatuapé, referência para queimados na cidade. Ele teve ferimentos no rosto, tórax, barriga, mãos, braços e pernas.

Segundo o soldado Alves, de 32 anos, o menino afirmou que estava dentro de casa, na Vila Esperança, deitado na cama, e sua mãe derramou álcool líquido nele quando se recusou a desligar a televisão. “Ele falou que ela jogou álcool e acendeu o fósforo para atear fogo. Depois, falou que ela o empurrou até o banheiro e ele abriu a torneira e se lavou”, contou o policial militar, que estava patrulhando a área num carro da corporação com o colega de profissão, o também soldado Felipe Goulart da Silva, de 31 anos. A versão oficial sobre a motivação do crime ainda é investigada pelo 24º Distrito Policial, em Ermelino Matarazzo, onde o caso foi registrado. Segundo o delegado adjunto Renato Batista de Oliveira, enfermeiras do hospital onde o estudante está internado disseram que ele contou que a mãe o queimou porque ele rasgou um sofá. “A informação que a gente tem é que ele estava deitado e levou uma surra dessa mulher porque rasgou o sofá. Ela, então, jogou álcool, ateou fogo, o levou para o banheiro e fechou a porta. E o menino ligou o chuveiro para apagar as chamas”, disse Oliveira.

Sinais de embriaguez

Os dois policiais chegaram ao local após terem recebido um chamado da base. Uma vizinha havia telefonado para o 190 da PM sobre uma discussão e gritaria, possivelmente uma briga de casal. “Fomos para lá achando que se tratava disso, mas nos assustamos quando vimos um homem, com sinais de embriaguez, gritar na frente da casa, dizendo para socorrer o filho dele porque a mulher havia colocado fogo na criança sem motivo aparente. Como ele parecia estar bêbado e o menino estava se desmanchando no banco traseiro, não tivemos muito tempo para pensar. Meu colega [Silva] pegou o volante do carro do homem e o levou juntamente com o garoto até o hospital de Ermelino Matarazzo”, disse Alves, que entrou na residência e viu a mãe do menino.

A mulher estava embriagada, segundo o soldado. “Ela falou que estava bebendo na cozinha, ouviu gritos no quarto e viu o filho em chamas na cama. Ele teria feito uma brincadeira com álcool e fogo para chamar a atenção dela. Mas não acreditamos na história porque só eles estava queimado e a cama não”, afirmou Alves. “Ela estava com o braço queimado, dizendo que tentou ajudá-lo a apagar as chamas”.

Apesar da suspeita de embriaguez, nenhum exame de dosagem alcoólica foi feito no casal.

Segundo o soldado, a suspeita de que a mulher ateou fogo no próprio filho aumentou quando a filha de três anos dela, fruto do relacionamento com o padrasto do menino, contou que foi a mãe quem jogou álcool no garoto. Levada a um hospital para fazer curativo e, posteriormente, ao 24º Distrito Policial, em Ermelino Matarazzo, Sandra foi indiciada por torturar e tentar matar o filho.

'Acidente doméstico'

“Foi acidente doméstico”, rebateu a mulher ao falar ao G1 , na manhã desta terça-feira, enquanto era transferida da delegacia para uma unidade prisional. A equipe de reportagem não conseguiu localizar seu advogado nesta quarta para comentar o assunto. O padrasto do menino, que é comerciante e tem 39 anos, não foi encontrado. Ele morava com Sandra na casa. Ele foi liberado pela polícia após ser ouvido na condição de testemunha. Em seu depoimento, afirmou que não viu nada.

A conselheira tutelar Maria do Céu Vara Macedo Oliveira esteve presente durante o depoimento dos dois e afirmou que irá dar informações para a Vara da Infância e Juventude, que determinará quem ficará com as crianças. O pai biológico do menino teria morrido. Já a menina deverá ficar com o comerciante. “Não havia histórico antes de maus tratos ou violência doméstica em relação ao casal”, disse a conselheira.

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