Destruída pela enxurrada de junho, Branquinha vive alheia às eleições

Destruída pela enxurrada de junho, Branquinha vive alheia às eleições

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 10:14

 Completamente destruída pela enxurrada que castigou Alagoas em junho deste ano, Branquinha, a 64 quilômetros da capital Maceió, é hoje uma cidade que parou no tempo. A pouco mais de um mês das eleições, não é a escolha do candidato ou a propaganda do horário eleitoral que mobiliza a atenção dos moradores.

Desde que as águas do Rio Mundaú tragaram centenas de casas e prédios públicos, fazendo sumir do mapa todo o centro da cidade, a rotina em Branquinha se resume a encarar filas em busca de mantimentos, cuidar dos poucos bens materiais que sobraram e esperar pelo lento trabalho de reconstrução.

 Responsável por cadastrar os moradores e organizar a distribuição de donativos, a Prefeitura de Branquinha foi instalada em um cubículo no único posto de gasolina da cidade. Em pouco mais de 20 metros quadrados, “funcionam” o gabinete da prefeita, a procuradoria municipal, o setor de Recursos Humanos, a área de cobrança de tributos e outras funcionalidades do poder público municipal. No mesmo posto de gasolina também funcionam as secretarias de Saúde e de Educação. Quem teve dinheiro, alugou casas em municípios vizinhos para hospedar parentes e a família. Os que não tiveram a mesma sorte, ou estão morando na casa de parentes na parte mais alta da cidade ou foram para abrigos e barracas, como é o caso da dona de casa Maria do Carmo, 35 anos, moradora da rua Marechal Deodoro, região mais castigada pela enxurrada.

“Estou há um mês morando na barraca. Eu, meu marido e meus dois filhos”, relatou Maria ao. “Quando o rio começou a subir, a gente só teve tempo de tirar o rack da televisão e som, porque não tinha carro para buscar o resto. Demorou uma semana para eu conseguir voltar na rua de casa, quando a água baixou. Foi uma tristeza, mas agora é tocar a vida”, complementou.

Questionada se a enxurrada havia levado embora também o ânimo de votar nas eleições de outubro, Maria se surpreendeu: “É verdade. Nem havia me dado conta. Nem lembrava da eleição. A gente nem pensa nisso. O tempo aqui parou no dia que a água levou tudo embora.” Alojamentos e barracas

A rotina nas barracas é melhor que a levada nos abrigos instalados em ginásios e clubes. Nos ginásios, há horário certo para sair e retornar, para comer e dormir, para tomar banho ou ver televisão. “A gente se sente presidiário sem nunca ter feito nada errado na vida”, afirma o aposentado João Durval Sebastiano, 67 anos.

Já nas barracas, que comportam até cinco integrantes de uma família, a privacidade é maior, mas a chuva é sempre um tormento: “Quando chove, a água escorre e molha todo o colchão, molha tudo na barraca”, reclama dona Vilma Celestina, 53 anos.

Convertido em uma imensa clareira coberta de entulho e restos do que um dia foi a área mais movimentada de Branquinha, o centro agora serve apenas ao trânsito de caçambas que carregam barro para os aterros fora da cidade. A desemprego na cidade atinge a maioria esmagadora da população e vêm da extração de areia do leito do Rio Mundaú e do corte da cana de açúcar as únicas fontes de renda informal dos desempregados. Em tardes chuvosas como a desta quarta-feira (1), a apreensão dos moradores aumenta. “Foi em um dia assim que, sem mais nem menos, o rio começou a encher e não parou mais”, relembra a dona de casa Rosimeire Limeira da Silva, 25 anos. É ela que descreve ao G1 como era o centro de Branquinha antes do “dilúvio”: “Tinha lojinhas, restaurante, escola, posto de saúde.”

Rio Largo

Mais preparado para enfrentar a chuva, mas igualmente castigado, o município de Rio Largo, na Região Metropolitana de Maceió (AL), viu um dos principais meios de transporte ser completamente inviabilizado pela enxurrada. Os trilhos do trem de dez vagões que, diariamente, levava e trazia moradores da capital ficaram completamente retorcidos pela força da correnteza.

Quase 900 moradores foram obrigados a morar em escolas públicas, a prefeitura, instalada nas margens do Rio Mundaú, foi invadida pela água transformando-se hoje em depósito de entulho e local de abrigo para mendigos.

A disputa eleitoral, apesar da destruição das chuvas, segue mais evidente na cidade. Carros de som disputam espaço e os ouvidos dos moradores. Placas e cartazes também são vistos nas calçadas e até nos carrinhos de mão dos trabalhadores. A vida segue mais fácil, porém não menos triste para quem tudo perdeu nas águas do rio.

Postado por: Thatiane de Souza

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