Quando o economista paulistano Pérsio Davison, de 63 anos, mudou-se para Brasília, em 1973, encontrou uma cidade ainda em construção, habitada por cerca de 200 mil pessoas. As ruas vazias e as grandes distâncias convidavam ao uso do carro. Na lembrança do economista ficou o fato de a capital, naquela época, contar com apenas um semáforo. Apesar das facilidades do transporte individual de uma Brasília jovem, Davison já gostava de fazer suas caminhadas.
Na série Vida em trânsito , o G1 vai mostrar como a rotina de pessoas em diferentes lugares no Brasil, em cidades de tamanhos diversos, tem passado por mudanças por causa do tráfego intenso. E o seu cotidiano, mudou por conta do trânsito? Deixe sua história na área de comentários ao final da reportagem.
Com o crescimento do Distrito Federal, que hoje conta com uma frota de mais de 1,2 milhão de veículos e transporte público alvo de constates reclamações da população, o hobby do economista virou também necessidade. Hoje, a rotina dele inclui fazer o percurso de ida e volta para o trabalho a pé. Comecei a ter a essa visão das dificuldades do transporte individual e a tensão na direção, diz.
Da quadra 308 Sul, onde mora, ao Setor Bancário Sul, no centro da capital, local de trabalho de Davison, são cerca de quatro quilômetros trajeto percorrido em 40 minutos.
O economista conta que certa vez, por curiosidade, resolveu calcular quantos passos eram necessários para atravessar uma das superquadras típicas de Brasília. Foram 530 para cobrir a extensão de 250 metros. Por essa média, Davison dá 16.960 passos diários para cobrir os 8 quilômetros do percurso de ida e volta entre a casa e o trabalho. Se eu fosse de carro, certamente gastaria 15 minutos a menos, mas penso que essa diferença de tempo é uma oportunidade de me dedicar mais a mim. No fim do dia, usei mais de uma hora para minha saúde, calcula.
Na conta também entram a energia e o tempo gastos em engarrafamentos. Quando você está preso dentro do carro num congestionamento, há a tensão e não há a ação. Isso se reflete em como a pessoa começa o dia, tensa e irritada, avalia.
A escolha pela caminhada também evita um problema recorrente na área central de Brasília: a falta de vagas. Às vezes tentamos fazer uma reunião de trabalho e os convidados não comparecem por causa da dificuldade de encontrar vaga para estacionar, conta o economista.
Pérsio Davison em sua sala e caminhando para casa após deixar o trabalho (Foto: Marcelo Parreira/G1)
Para ele, as pessoas já começaram a refletir sobre as restrições causadas pela opção de mobilidade. Estamos vivendo um delírio em relação ao transporte individual. Mas estamos começando a perceber as dificuldades. As pessoas estão tomando consciência e se percebem dentro do contexto, comenta Davison.
O economista, que usa o carro para ir ao trabalho apenas ocasionalmente, cerca de quatro vezes por mês, disse que a cidade de 51 anos precisa planejar uma saída para os dilemas de mobilidade urbana que enfrenta.
Temos que ter habilidade de pensar Brasília daqui a 50 anos. Precisamos romper com algumas lógicas em vigor. O fato de a cidade ter sido pensada como moderna para a indústria automobilística não significa que ela vai ser moderna utilizando apenas essa opção, afirmou.
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