Juiz Wilson Witzel usa colete à prova de balas após
receber ameaças (Foto: Arquivo Pessoal)
Há sete anos, o juiz federal Wilson Witzel precisou criar uma rotina diferenciada a fim de garantir sua própria sobrevivência. Todos os dias, antes de sair de casa, ele veste o colete à prova de balas e confere a movimentação pelo sistema de segurança instalado na residência.
Ameaçado de morte duas vezes, o juiz que dedicou parte da sua vida à Vara de Execuções Criminais nos estados do Espírito Santo e do Rio de Janeiro precisou trocar de área na tentativa de preservar a própria vida e da sua família. As ameaças cessaram com a troca de jurisdição, há dois anos, mas o medo da morte não abandonou o juiz nem sua família.
Eles [criminosos] conseguiram me intimidar e isso me fere profundamente. Eles intimidaram um juiz federal. Tive de trocar de área para preservar minha vida. Desde que comecei a ser ameaçado, nunca mais deixei de usar colete à prova de balas, disse o magistrado ao G1 . Responsável por processos criminais, Witzel sofreu duas ameaças diretas, feitas por telefone. Quando estava no Espírito Santo, a ameaça teria partido, segundo o juiz, de uma organização criminal instalada dentro de um presídio de segurança máxima. No Rio de Janeiro, a ameaça foi mais direta.
Eles ligaram dizendo: A gente vai te matar. A gente vai matar você. É uma sensação de desespero total. A gente se sente complemente desamparado, recorda o magistrado.
Logo que foi ameaçado, o juiz passou a ter uma segurança temporária da Polícia Federal, mas a segurança era só para ele e não incluía a família. Witzel é casado e pai de quatro filhos.
Uma vez, conseguiram visualizar os criminosos fotografando minha família. Anotaram a placa, mas era uma placa falsa. Ali foi a gota dágua. Minha segurança e da minha família estava à mercê dos bandidos. Foi ali que eles me venceram e eu deixei a Vara Criminal, recordou o juiz, que agora atua na Vara de Execução Fiscal, no Rio.
Carro da juíza Patrícia Acioli, assassinada a tiros
no RJ (Foto: Bruno Gonzalez / Agência O Globo)
Sem dinheiro para pagar segurança particular, o juiz tomou as providências que lhes eram possíveis. Além de pedir para deixar os julgamentos criminais, ele comprou colete à prova de balas e investiu em um sistema de segurança privado em casa.
Gastou cerca de R$ 20 mil, em prestações que serão concluídas em dezembro deste ano. O carro blindado é o próximo investimento do juiz.
Eu não tenho dinheiro para manter segurança particular. As pessoas acham que juiz ganha fortunas, mas não é assim. Não podemos morar em qualquer lugar.
Magistrado luta por projeto
Diretor da Associação dos Juízes Federais (Ajufe), Wilson Witzel é um dos autores do projeto que tramita no Senado que pede a criação de uma guarda especial dentro da Justiça para a segurança dos magistrados. O projeto está na pauta do Senado, mas ainda não tem acordo para ser votado.
O assassinato da juíza Patrícia Acioli na madrugada desta sexta-feira (12) na porta de casa, em Niterói, na Região Metropolitana do Rio, acelerou a batalha do magistrado pela aprovação da proposta. A juíza estava em uma lista de doze pessoas marcadas pra morrer, segundo os investigadores. De acordo com fontes da polícia, nos últimos dez anos a juíza foi responsável pela prisão de cerca de 60 policiais ligados a milícias e a grupos de extermínio.
Eu espero que este caso [da juíza] sensibilize os parlamentares. Este não é o primeiro juiz que morre depois de ameaças. Quantos juízes defuntos o Congresso ainda vai velar até que se tome vergonha e combata o crime organizado, disse o juiz.
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