'Eles conseguiram me intimidar', diz juiz federal ameaçado de morte

'Eles conseguiram me intimidar', diz juiz federal ameaçado de morte

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:31

Juiz Wilson Witzel usa colete à prova de balas após

receber ameaças (Foto: Arquivo Pessoal)

  Há sete anos, o juiz federal Wilson Witzel precisou criar uma rotina diferenciada a fim de garantir sua própria sobrevivência. Todos os dias, antes de sair de casa, ele veste o colete à prova de balas e confere a movimentação pelo sistema de segurança instalado na residência.

Ameaçado de morte duas vezes, o juiz que dedicou parte da sua vida à Vara de Execuções Criminais nos estados do Espírito Santo e do Rio de Janeiro precisou trocar de área na tentativa de preservar a própria vida e da sua família. As ameaças cessaram com a troca de jurisdição, há dois anos, mas o medo da morte não abandonou o juiz nem sua família.

“Eles [criminosos] conseguiram me intimidar e isso me fere profundamente. Eles intimidaram um juiz federal. Tive de trocar de área para preservar minha vida. Desde que comecei a ser ameaçado, nunca mais deixei de usar colete à prova de balas”, disse o magistrado ao G1 .     Responsável por processos criminais, Witzel sofreu duas ameaças diretas, feitas por telefone. Quando estava no Espírito Santo, a ameaça teria partido, segundo o juiz, de uma organização criminal instalada dentro de um presídio de segurança máxima. No Rio de Janeiro, a ameaça foi mais direta.

“Eles ligaram dizendo: ‘A gente vai te matar. A gente vai matar você’. É uma sensação de desespero total. A gente se sente complemente desamparado”, recorda o magistrado.

Logo que foi ameaçado, o juiz passou a ter uma segurança temporária da Polícia Federal, mas a segurança era só para ele e não incluía a família. Witzel é casado e pai de quatro filhos.

“Uma vez, conseguiram visualizar os criminosos fotografando minha família. Anotaram a placa, mas era uma placa falsa. Ali foi a gota d’água. Minha segurança e da minha família estava à mercê dos bandidos. Foi ali que eles me venceram e eu deixei a Vara Criminal”, recordou o juiz, que agora atua na Vara de Execução Fiscal, no Rio.

Carro da juíza Patrícia Acioli, assassinada a tiros

no RJ (Foto: Bruno Gonzalez / Agência O Globo)

  Sem dinheiro para pagar segurança particular, o juiz tomou as providências que lhes eram possíveis. Além de pedir para deixar os julgamentos criminais, ele comprou colete à prova de balas e investiu em um sistema de segurança privado em casa.

Gastou cerca de R$ 20 mil, em prestações que serão concluídas em dezembro deste ano. O carro blindado é o próximo investimento do juiz.

“Eu não tenho dinheiro para manter segurança particular. As pessoas acham que juiz ganha fortunas, mas não é assim. Não podemos morar em qualquer lugar.”

Magistrado luta por projeto

Diretor da Associação dos Juízes Federais (Ajufe), Wilson Witzel é um dos autores do projeto que tramita no Senado que pede a criação de uma guarda especial dentro da Justiça para a segurança dos magistrados. O projeto está na pauta do Senado, mas ainda não tem acordo para ser votado.

O assassinato da juíza Patrícia Acioli na madrugada desta sexta-feira (12) na porta de casa, em Niterói, na Região Metropolitana do Rio, acelerou a batalha do magistrado pela aprovação da proposta. A juíza estava em uma lista de doze pessoas marcadas pra morrer, segundo os investigadores. De acordo com fontes da polícia, nos últimos dez anos a juíza foi responsável pela prisão de cerca de 60 policiais ligados a milícias e a grupos de extermínio.

“Eu espero que este caso [da juíza] sensibilize os parlamentares. Este não é o primeiro juiz que morre depois de ameaças. Quantos juízes defuntos o Congresso ainda vai velar até que se tome vergonha e combata o crime organizado”, disse o juiz.            

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