Em Curitiba, taxista reclama que trânsito diminuiu número de corridas

Em Curitiba, taxista reclama que trânsito diminuiu número de corridas

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 9:43

As reclamações sobre o trânsito não são exclusividade de nenhuma cidade. Em Curitiba, para o taxista, Júlio Roberto Barbosa, a situação ficou mais delicada nos últimos cinco anos. Ele já foi motorista de ônibus, de caminhão-cegonha e há 12 anos dirige um táxi na capital paranaense. É do transporte que ele obtém a renda familiar.

Na série Vida em trânsito , o G1 vai mostrar como a rotina de pessoas em diferentes lugares no Brasil, em cidades de tamanhos diversos, tem passado por mudanças por causa do tráfego intenso. E o seu cotidiano, mudou por conta do trânsito? Deixe sua história na área de comentários ao final da reportagem.  

Se antes Júlio Barbosa fazia de 12 a 14 corridas por dia, hoje são sete ou oito. Segundo ele, o taxista fica muito tempo com o mesmo passageiro por causa dos congestionamentos, principalmente, na região central da cidade. "Eu ganho muito menos dinheiro, muito menos", enfatizou o taxista. A opção foi alugar o carro durante a noite. O que o motorista noturno fatura é dividido: 40% ficam com o Júlio. Mas, na avaliação dele, a estratégia nem sempre é eficiente porque gera mais custos com manutenção, porque o carro roda mais.

O pior horário do trabalho é das 17h30 às 19h e apesar de ser comum o engarrafamento na região central, Júlio destaca que o trânsito intenso se espalhou pela cidade e chegou até os bairros mais distantes. "Se você pega a Isaac Ferreira do Amaral, você encontra trânsito o dia inteiro", disse. A rua mencionada pelo taxista é a principal do bairro Sítio Cercado e fica a, aproximadamente, 32 km do marco zero de Curitiba, na Praça Tiradentes. De acordo com dados de março deste ano  do Departamento de Trânsito do Paraná (Detran/PR), existem em Curitiba 1.210.839 carros circulando. Segundo o Censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população da capital paranaense é de 1.746.896. “A cidade não está suportando está enchente de carros”, observa o taxista.

O resultado de um trânsito mais intenso se reflete na saúde de Barbosa. Há três anos, o taxista  toma remédio para estresse. Ele conta que no fim do expediente sente dores musculares. "Tem dia que quando eu entro em casa parece que sinto um alívio", comentou. Ele lembra com saudades da época em que era motorista de ônibus. "Era bem mais tranquilo", diz.

Para Júlio, apesar do crescimento da cidade e do número de carros circulando em Curitiba, a estrutura da cidade mudou pouco. Na opinião dele, as obras que a prefeitura realiza não contribuem de forma definitiva para a melhoria do trânsito. "Você já viu um sinaleiro debaixo  de um viaduto?", questionou o taxista. O ponto mencionado por ele fica na Rua Anne Frank, no viaduto com a Linha Verde -- antiga BR-116 -- que também é apontada pelo taxista como uma obra que não trouxe benefício para Curitiba. “Ficou bonita, mas para o trânsito não adiantou”, avaliou.

Obras

Para o assessor técnico José Álvaro Twardowski, da Área de Mobilidade Urbana do  Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), ligado à Prefeitura, alguns problemas como o congestionamento na via citada pelo taxista são causados pelo alto fluxo de caminhões e pela novidade da estrutura. A Linha Verde era uma rodovia e está sendo transformada em uma avenida que vai ligar a capital do Sul, no bairro Pinheirinho, ao Norte, no bairro Jardim das Américas.

O assessor técnico afirmou que em junho será emitida uma portaria que vai proibir o tráfego de veículos de carga na avenida e que isso deve melhorar o trânsito. Ele disse também que o sistema de controle dos sinaleiros é mais moderno do que o que opera em outras regiões da cidade – que é de 1978 – e que isso exige um maior tempo de adaptação.

Avenida Visconde de Guarapuava, em Curitiba (Foto: Reprodução RPC TV) Outro ponto delicado da cidade apontado pelo taxista Barbosa e que, segundo ele, também retrata a saturação no trânsito de Curitiba, é a Avenida Visconde de Guarapuava – na região central do município e que tem aproximadamente 4 km de extensão. “Antes você cruzava a Visconde Guarapuava e passava por todos os sinais abertos, agora não”, afirmou.

Neste caso, o técnico do Ippuc ressalta que os sinais são sincronizados a uma velocidade de 50 km/h, mas que a sincronização não é valida para todos. “Depende do momento que você entra na avenida”, explicou José Twardowski. Além disso, ele disse que os congestionamentos são causados principalmente pela quantidade de carros. “São de 50 a 60 mil carros por dia”. Ele lembra ainda que os espaços para estacionamento foram retirados da via para comportar o maior número de veículos.

A Prefeitura de Curitiba, para desafogar o trânsito, tem optado pela construção de binários, que são avenidas paralelas com sentidos opostos. Na opinião do taxista, entretanto, os binários não funcionam porque os carros acabam saindo no mesmo ponto, como num funil. Twardowski, do  Ippuc, defende a medida. O Plano Diretor de Curitiba tem como base o sistema viário formado por binários, diz ele, que acrescenta que o sistema traz rapidez e segurança por não permitir conversões à esquerda, já que não há opção para contorno pelo sentido contrário. O técnico disse que para fevereiro de 2012, um Anel Viário da cidade que vai ligar os principais binário das quatro regiões de Curitiba deve ficar pronto.

E o trânsito não incomoda apenas os motoristas, os passageiros também ficam irritados com os congestionamentos. Júlio Barbosa contou que alguns passageiros tentam forçar o motorista a passar no sinal vermelho. O taxista afirmou também que os passageiros são resistentes a caminhos alternativos. "Quando o passageiro quer a gente dá opção, mas geralmente o passageiro acha que agente está tentando enganar."

Oferta de táxis

De acordo com a Associação Nacional de Transportes Públicos, são 2.253 os táxis em atividade  em Curitiba. Em 1976, era um carro para cada 358 habitantes; hoje é um para cada 775. A Urbanização de Curitiba (Urbs), órgão da Prefeitura responsável pela regulamentação do trânsito, e o Sindicato dos Condutores Autônomos de Veículos Rodoviários do Paraná (Sicavrep) dizem que a quantidade de veículos disponíveis no município é suficiente. A discussão sobre a frota está na Câmara de Vereadores, onde parlamentares temem que faltem táxis durante a Copa do Mundo de 2014, uma vez que Curitiba será uma das sedes do Mundial.

Na opinião de Barbosa, contudo, táxi não falta. “O problema é que ninguém consegue trabalhar por causa do trânsito”, declarou. Segundo ele, às 18h – horário em que a demanda pelo serviço aumenta -- há carros nos pontos, mas todos procuram as rádio taxis, que possuem apenas mil veículos cadastrados e isso faz as pessoas reclamarem que o taxi não chega .

"Como as pessoas têm a possibilidade de o carro pegá-las na porta de casa, elas não vão até o ponto”, avaliou Barbosa. Os outros carros, de acordo com o taxista, ficam parados sem serviço. "Elas [as pessoas] reclamam muito e tem gente que não tem noção do trânsito."          

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