Luciano Pessanha, professor de geografia da
Escola Municipal Tasso da Silveira (Foto: Paulo Guilherme/G1)
Quase cinco meses após a tragédia que resultou na morte de 12 crianças e adolescentes, a Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, no Rio de Janeiro, começa a atrair pais e alunos da comunidade e prepara uma virada em sua história. Marcada pelo massacre da manhã de 7 de abril, quando o ex-aluno Wellington Menezes de Oliveira invadiu a escola e atirou contra os estudantes, a Tasso da Silveira tem recebido o dobro de matrículas em relação ao número de alunos que deixaram a escola após a tragédia. Professores também estão procurando a escola para trabalhar. A informação foi destacada por Luciano Pessanha, professor de geografia do colégio, na 7ª edição do Fórum Globo News, realizado nesta terça-feira (30), em São Paulo.
Pessanha diz que a Escola Municipal Tasso da Silveira passa por uma mudança física e filosófica. A escola está em obras com o objetivo de se tornar um marco na história educacional do Rio de Janeiro. Além dos recursos do governo municipal, alunos e ex-alunos estão efetivamente participando dessas mudanças. Muitos pais que tinham tirado os filhos da escola após a tragédia já estão nos procurando para rematricular as crianças, destacou o professor.
Ele se emocionou ao falar de uma aluna deficiente visual que recebeu de volta na semana passada na escola. Ela precisou da ajuda dos colegas para fugir da classe após o tiroteio. Pessanha dava aula em uma sala ao lado da classe onde o atirador fez vários disparos. Ao perceber o que acontecia, orientou os alunos a arrastarem as carteiras até a porta para formar uma barreira. Todos se deitaram no fundo da sala enquanto o professor ajudava a trancar a entrada com o pé. Percebi que o atirador forçou a entrada, mas acabou desistindo, relatou.
Fachada da Escola municipal Tasso da Silveira
(Foto: Tássia Thum/G1)
Quando o atirador parou para recarregar as armas, o professor abriu a sala e correu para fora da escola. Ele contou que pegou um celular de uma pessoa e ligou para a polícia. Ao voltar para a escola, Welllington já estava morto. Nenhum dos seus alunos foi ferido.
Foi o dia mais triste da minha vida. Me senti impotente como professor, disse durante sua palestra no encontro de educadores. A escola ganhou uma notoriedade não desejada. Balançou, mas está de pé. Ele conta que a solidariedade de pessoas do país e do mundo foi fundamental para a recuperação psicológica de alunos e professores. Os estudantes fizeram atividades pedagógicas respondendo cartas recebidas de pessoas de outros países. Ex-alunos pintaram os muros da escola. Alunos receberam azulejos para montar um grande painel que será instalado na entrada da Tasso da Silveira.
Desde o ataque, professores têm sentido fobias, agitações, ansiedade e perda de motivação. Temos de passar por cima de tudo isso sem poder chorar nosso próprio luto, afirmou. Para o professor, os investimentos também devem ser feitos na formação do corpo pedagógico.
Nada é mais importante do que investir no professor. Não adianta só colocar computador. Temos de desconstruir nossos métodos de ensino e nos adequar a esta nova realidade. Não formamos recursos humanos, nós formamos cidadãos. É na escola que se forma uma sociedade e a cidadania de um país.
Pintura do muro da escola onde ocorreu o massacre de Realengo. (Foto: Bernardo Tabak/G1)
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