Estreante como diretor em "Cabeça a Prêmio", Marco Ricca quer "romper amarras" no cinema

Estreante como diretor em "Cabeça a Prêmio", Marco Ricca quer "romper amarras" no cinema

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 10:18

Ator veterano de cinema, teatro e TV – atualmente no elenco da novela “Ti-ti-ti” -, Marco Ricca estreia na direção de longas com “Cabeça a Prêmio”, adaptação do romance de Marçal Aquino, que será lançado nas salas no próximo dia 20 de agosto.

A amizade com o escritor vem de alguns anos, desde que Ricca atuou em dois filmes com roteiros extraídos de suas histórias, como o premiado “O Invasor” (2002) e “Crime Delicado” (2005). Ricca não poupa elogios a Aquino ao explicar seu interesse em filmar “Cabeça a Prêmio”: “Foram os personagens que me atraíram mais, como sempre na obra do Marçal. Ele não os psicologiza em nenhum momento, o que dá liberdade para verticalizá-los”.

Outro elogio vem do fato de que, a seu ver, nos livros do escritor “a ação predomina, toma conta, e os personagens vão se alimentando disso”. Esta qualidade, porém, foi justamente o primeiro desafio da adaptação para o cinema. “No filme, a gente tentou o contrário. Ao procurar aprofundar os personagens, privilegiamos os conflitos deles e a ação ficou num segundo plano”, destaca.

Num primeiro momento, Ricca foi tentado pela idéia de também atuar em “Cabeça a Prêmio”, justamente no papel de Brito, o matador que protagoniza a história, ambientada em Campo Grande (MS). Como acumulou muitas funções, de captador de recursos a corroteirista (ao lado de Felipe Braga, da série “Mandrake”), Ricca acabou desistindo de atuar. O papel ficou para Eduardo Moscovis.

O principal papel feminino, de Elaine, filha do traficante Mirão (Fulvio Stefanini), o patrão de Brito, sempre teve dona – Alice Braga, que contracenou com Ricca no romance “A Via Láctea” (2007) e que o ator-diretor se orgulha de dividir com Hollywood (onde ela tem atuado em superproduções como “Eu sou a lenda” e “Predadores”). “É uma parceirona”, define.

Foi de Alice também a ideia de mudar a profissão de Marlene (Via Negromonte), que no livro é uma ex-prostituta. “Nenhum de nós aguentava mais ver bordel em cinema nacional”, diverte-se Ricca. No filme, Marlene é dona de um pequeno restaurante de estrada.

Ponte para América Latina

Uma outra diferença em relação ao livro é ter tornado um personagem importante, o piloto de avião Denis, que transporta cargas ilícitas para Mirão, num estrangeiro – no caso, o ator uruguaio Daniel Hendler (visto na série “Epitáfios” e em filmes como “Whisky” e “O Abraço Partido”).

Ao seu lado, como um pequeno receptador do outro lado da fronteira, está outro uruguaio conhecido do público brasileiro, César Troncoso, protagonista de “O Banheiro do Papa”, de César Charlone. “Os dois são amigos e eu nem sabia disso quando os chamei para fazer o filme”, conta Ricca.

O diretor explica que a presença dos dois atores foi uma espécie de “flerte com a América Latina”, que ele achou que cabia bem, já que se trata de uma história ambientada na fronteira.No final, o resultado deste primeiro filme como diretor, que Ricca define como um “primeiro exercício”, foi positivo do lado artístico. “O maior orgulho que tenho são as interpretações. Os atores são meus amigos, é quase uma ‘formação de quadrilha’. Fui escrevendo o filme para eles”.

Já a experiência de captador e produtor de um orçamento que se aproxima dos R$ 4 milhões, não foi tão agradável. “Peguei um pires e saí atrás de dinheiro. Acabei com tudo o que tinha e fiquei três anos vivendo em função do filme, sem receber. Só os atores e a equipe foram pagos, porque é assim que tinha que ser”, conta o diretor.

Mas do que Ricca reclama mesmo é da falta de controle de todo o processo de produção no cinema. “O cineasta é refém de muita coisa e de muita gente. Você tem que inscrever o projeto nas leis de incentivo, ele tem que ser aprovado por burocratas que a gente nem sabe quem são. Meu filme vai estrear dia 20 e eu nem sei em que salas ele vai entrar. Isso é muito perverso”, desabafa.

Mesmo assim, o ator e diretor quer partir para outras experiências no cinema, desde que não sejam projetos de encomenda. “Recusei dois convites desse tipo. Não me interessa e eu nem saberia fazer”. Para ele, “fazer um filme é pôr ali uma visão de mundo. É algo muito ligado à sua vida. Mas há quem consiga se retirar”.

Ricca diz que tem outros projetos cinematográficos na cabeça – e que “não conta” porque já teve experiência de ver roubadas suas ideias antes. Mas o fundamental mesmo é conseguir criar uma nova forma de produzir seus filmes, mais independente do que foi “Cabeça a Prêmio”. “Não consigo lidar bem com todas essas relações. Ou eu vou romper com essas amarras ou não faço mais cinema”.

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