Ex-presidiário ator de 'Tropa de elite 2' conta como foi feita cena de rebelião

Ex-presidiário ator de 'Tropa de elite 2' conta como foi feita cena de rebelião

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 10:10

Por trás de um dos momentos mais fortes do "Tropa de elite 2", quando o traficante Beirada, interpretado por Seu Jorge, lidera uma rebelião no presídio, está um personagem desconhecido do grande público, que atua como coadjuvante, mas que foi fundamental para que a cena tivesse o impacto de realidade que o filme transmite.

Depois de contribuir para a produção do "Tropa 1", Alexandre Santos Rodrigues, 36 anos, mais conhecido como o rapper MC Jovem Cerebral, vocalista da banda Stereo Maracanã, voltou a ser chamado pelo diretor José Padilha para ajudar a elaborar o perfil dos traficantes que atuam na cena.

Ex-presidiário, Cerebral, que já foi assaltante e fez parte de uma facção criminosa, cuidou dos mínimos detalhes para que o elenco reproduzisse a postura, gestos, gírias e até a maneira de se vestir dos criminosos.

"Entre as facções rivais, até as marcas dos tênis são diferentes. É uma forma de identificar um rival ou aliado", ensina o instrutor da cena.

Cerebral, que conviveu com traficantes dos morros da Mineira, Prazeres e São Carlos – comunidades onde hoje participa de projetos sociais e virou referência positiva para os jovens por seu trabalho como músico e participação em "Tropa de elite"-, incorporou todos os cacoetes dos integrantes das quadrilhas daquela época.

Rebeliões de verdade

Cerebral participou de pelo menos três rebeliões nos antigos presídios da Polinter, na Zona Portuária, e complexo da Frei Caneca, no Estácio.

"Foram momentos de muita violência. Uma vez a quadrilha conseguiu botar duas pistolas e um 'oitão' pra dentro com ajuda de um faxina", relembra, revelando a corrupção nos presídios que atinge desde os agentes até os presos que são liberados para fazer a limpeza das galerias devido ao bom comportamento.

O MC elogia as atuações dos colegas de cena, mas exalta Seu Jorge pela interpretação perfeita. "Ele atua com muita emoção. Tem um olhar que diz tudo. E é um cara que também veio de comunidade. Trocamos muito. Foi uma experiência inesquecível", afirma.

Outro elogio vai para a preparadora de atores Fátima Toledo que, além de "Tropa de elite", é reconhecida por seu trabalho de elenco em "Pixote" e "Cidade de Deus".

"Passei para ela todas as histórias que vivi no mundo do crime, os detalhes do comportamento dos criminosos, como eram divididas as galerias das facções rivais dentro do presídio... Enfim, dei elementos para elaborar o perfil dos atores. O resultado é o que todo mundo está vendo no cinema", diz Cerebral.

Sangue quente em cenas de impacto

Ele lembra ainda que em várias cenas ensaiadas em um estúdio da Barra da Tijuca, na zona oeste, a ebulição emocional era muito intensa.

"No esquenta, a gente, que fazia parta da facção criminosa, gritava com os policiais do Bope, instigando o outro elenco, como se fôssemos inimigos de verdade. Houve um momento em que quase aconteceu uma pancadaria sem que a cena estivesse sendo gravada. A Fátima, que excitou o grupo, veio para acalmar os ânimos", conta, rindo.

Mas o resultado final agradou a todos e foi um clima de muita euforia e emoção. "Fiquei com os olhos cheios d'água. O Padilha me abraçou, Seu Jorge também e, ao fim, todo o elenco se abraçou, emocionados. O trabalho estava feito. Estou feliz de ter transformado uma passagem ruim da minha vida em um projeto de trabalho tão positivo", conclui, ainda comovido com as lembranças.

Por: Aluizio Freire

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