Fernandinho Beira-Mar quer participar de campanha contra o crack, diz ONG

Beira-Mar quer participar de campanha contra o crack

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 9:11

Mario Hugo Monken

Advogada que preside o Instituto Anjos da Liberdade disse que traficantes como Marcinho VP e Nem da Rocinha também aceitaram gravar um vídeo ou tirar uma foto para campanha. Justiça analisa pedidos

Alguns dos principais chefes do tráfico no Rio de Janeiro, como Luiz Ferrnando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem da Rocinha, e Márcio dos Santos Nepomuceno, o Marcinho VP, teriam aceitado participar de uma campanha contra a venda de crack nas favelas do Rio de Janeiro.

O projeto, chamado de "Anjos Contra o Crack", é organizado pela ONG Instituto Anjos da Liberdade. A presidente da instituição, a advogada Flávia Pinheiro Fróes, que defende vários criminosos, disse ao iG que foi até as penitenciárias federais de Campo Grande (MS) e Porto Velho (RO) e cadeias no Rio e estaduais onde os traficantes estão presos para conversar sobre a campanha e recebeu grande adesão. Ela disse ter pedido autorização da Justiça para que os detentos participem do projeto.

Segundo Flávia, a participação dos chefões do crime na campanha seria por meio de um vídeo onde eles gravariam mensagens de repúdio ao crack ou, então, uma foto para cartilhas que serão distribuídas na cidade.
De acordo com a advogada, um dos mais entusiasmados com a ideia é Fernandinho Beira-Mar, que está preso em Porto Velho. Segundo Flávia, ele aceitou gravar. Outro que teria topado fazer um vídeo é Marco Antônio Firmino da Silva, o My Thor, suspeito de ser um dos líderes do Comando Vermelho (CV).

Flávia afirmou que outro traficante, Márcio Lima da Silva, o Tola, vinculado ao Terceiro Comando Puro (TCP), preso no Rio, será uma espécie de "garoto-propaganda" da campanha porque foi usuário do crack e também topou gravar. Em relação ao traficante Nem da Rocinha, que está no presídio federal de Campo Grande (MS), a advogada ainda não sabe se ele aceitará gravar ou fazer foto.

"A nossa ideia é que os presos gravem mensagens dizendo que são contra o crack, que o crack faz mal. Buscamos adesão não só de líderes das favelas, mas também de outras pessoas que possuem carisma e influência dentro das comunidades. As imagens deles serão importantes: se já convencemos esses aqui, por que vocês não?", disse.

Na Justiça do Mato Grosso do Sul, o pedido para a participação dos presos na campanha foi protocolado, mas ainda está sendo analisado. Em Rondônia, o juízo da 3ª Vara Federal não quis se manifestar. O Tribunal de Justiça do Rio informou que o assunto foi remetido para parecer do Ministério Público.

O Depen (Departamento do Sistema Penitenciário), órgão que administa os presídios federais, informou ainda não ter sido notificado sobre a iniciativa.

Traficante foragido gravou entrevista

A presidente da ONG afirmou que os Anjos da Liberdade produziu recentemente uma entrevista em vídeo com o traficante Marcelo Fernando Pinheiro Veiga, o Marcelo Piloto, que comanda a favela do Mandela, na zona norte do Rio, em que ele dá um depoimento sobre a questão do crack. Na gravação, o criminoso, que está em liberdade, afirmou que, com o consumo da droga, "as pessoas viram zumbis, começam a matar e roubar as próprias pessoas dentro de casa".

"Vi que o crack não leva a nada, somente desgraça e destruição", disse Piloto.

A polêmica em torno da venda do crack no Rio começou em junho quando apareceram cartazes e placas anunciando a proibição da comercialização da droga na favela do Jacarezinho, na zona norte do Rio, apontada como a maior cracolândia da cidade. Na época, a delegada Valéria Aragão, titular da Dcod (Delegacia de Combate às Drogas), afirmou que a iniciativa poderia ser uma estratégia de marketing dos traficantes para diminuir as operações policiais nas comunidades.

Flávia Pinheiro Fróes afirmou ao iG que os líderes do crime organizado alegaram ser contra o crack por causa dos problemas que os usuários causam nas comunidades.

"Eles reclamam que, por conta do crack, os usuários praticam roubos nas comunidades onde era proibido roubar", explicou.

A campanha contra o crack da ONG conta com o apoio de desembargadores do Tribunal de Justiça do Rio e políticos, que chegaram a posar para fotos com a camisa da campanha;
Procurada pelo iG, a Secretaria de Segurança Pública do Rio informou que não iria se manifestar sobre o assunto.

Além da campanha contra o crack, o Instituto Anjos da Liberdade informou realizar um trabalho de ressocialização de presos oferecendo formação profissional para recuperá-los. De acordo com Flávia, entre os detentos que a ONG ajudou estão Cássio Monteiro das Neves, o Cássio da Mangueira, que cumpre pena em regime semiaberto e trabalha em uma fábrica em Cuiabá (MT), e Levy Batista da Penha, o Baby, que está em regime aberto e trabalha em uma firma de engenharia em Maceió (AL).

Placa na favela do Jacarezinho indica proibição da venda do crack
Placa na favela do Jacarezinho indica proibição da venda do crack
Foto: Divulgação/Rio de Paz


Rio de Paz
Ao tomar conhecimento da campanha do Instituto Anjos da Liberdade com a participação dos chefes do tráfico, o presidente da ONG Rio de Paz, Antônio Carlos Costa, disseser favorável. A Rio de Paz foi a responsável pela divulgação das fotos dos cartazes e placas que apareceram na favela do Jacarezinho proibindo a venda da droga.

"Nós que lidamos com a desgraça que é essa droga na vida de milhares de pessoas e causa sofrimento nas famílias, reagimos com contentamento desta campanha. Vender crack é vender a morte. É uma droga mortífera que leva a dependência rapidamente. Espero que eles (os traficantes) tenham compreendido isso e tenham compaixão", disse.

Costa afirmou, no entanto, que é preciso que o poder público monitore a situação dos usuários de crack que, com o fim da venda da droga em algumas favelas, passem a migrar para outras regiões da cidade.

Questionado pelo iG se a campanha contra o crack poderia estimular o consumo de outras drogas, como a cocaína, Antônio disse que, pelo raciocínio lógico, o ideal para garantir o bem estar do ser humano seria que nenhum entorpecente ou bebida alcóolica, como a cachaça, fosse vendido. No entanto, ele entende essa campanha direta contra o crack.

"A cocaína, por exemplo, provoca uma destruição menos extravagante, silenciosa. No crack, há um escancaramento. A diferença entre as duas se compara a da cerveja com a cachaça. O efeito do crack é muito visível. O efeito no comportamento é diferente. Na cocaína, o usuário se sente dono da situação, dá a falsa sensação de estar andando das nuvens. O crack provoca um efeito avassalador. É uma droga que degrada, emagrece e é usada predominantemente por quem é pobre e provoca mendicância. A degradação física é vista a olho nu", argumentou.

 

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