Haddad diz que Prefeitura não pode se submeter ao jogo de tudo ou nada

Haddad diz que Prefeitura não pode se submeter ao jogo de tudo ou nada

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:07

 O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, voltou a criticar na manhã desta sexta-feira (14) a violência dos protestos contra o aumento de tarifas no transporte público e reiterou que não pretende voltar atrás no reajuste. “A Prefeitura não pode se submeter ao jogo de tudo ou nada”, afirmou em entrevista ao Bom Dia São Paulo.

 
(O G1 acompanhou em tempo real a manifestação. Leia o relato completo.)
No quarto dia de protestos, mais de 200 pessoas foram presas. Manifestantes ficaram feridos. Um forte sistema policial impediu que o protesto chegasse à Avenida Paulista. O prefeito lembrou que na manifestação de terça-feira (11) foram divulgadas cenas de policiais sendo agredidos. “Hoje o Brasil está conhecendo cenas de violência que ensejaram uma abertura de investigação da parte da Secretaria de Segurança Público. São cenas lamentáveis que não condizem com o espírito da cidade de São Paulo”, disse.
 
protestos em sp_foto reprodução
“A Prefeitura fez um esforço enorme para que aumento fosse o menor possível”, declarou o prefeito. Haddad afirmou que a nova tarifa dos ônibus, com reajuste abaixo da inflação, exige o deslocamento de investimento de R$ 600 milhões de outras áreas. Caso fosse aplicado o reajuste da inflação acumulada no período pelo IPC/Fipe, o novo valor seria de R$ 3,40, segundo a Prefeitura. “Quando a gente entra em um diálogo tem que entrar com o espírito aberto, conhecer o orçamento, porque outras áreas vão perder recurso. Temos que dialogar com 11 milhões de pessoas, porque, se nós vamos reduzir a tarifa, de onde o dinheiro vai sair?”, afirmou.
 
Segundo Haddad, a Prefeitura tem costume de negociar com manifestantes. No primeiro protesto, ocorrido em frente à Prefeitura, a administração municipal estava disposta a receber a comissão de negociação. “Nós tínhamos uma comissão na porta da Prefeitura, esperando a constituição de uma comissão de negociação, que não foi formada, e os manifestantes se recusaram a entrar na Prefeitura para estabelecer diálogo. Acho que a postura deles talvez venha mudando e eles precisam de esclarecimentos.”
O prefeito afirmou ainda que, diferentemente do que é divulgado pelos manifestantes, os cobradores e motorista receberam aumento superior ao que foi repassado para a nova tarifa.
 
Protesto
A manifestação começou por volta das 17h em frente ao Theatro Municipal, no Centro de São Paulo. Enquanto lojistas fechavam as portas para evitar depredação, a Polícia Militar prendia dezenas para averiguação. Segundo a PM, foram apreendidos coquetéis molotov, facas e maconha. De acordo com a delegada Vitória Lobo Guimarães, at é o início da madrugada, 198 pessoas haviam sido detidas e encaminhadas ao 78º DP, nos Jardins. Todos foram liberados. Quatro vão responder termo circunstanciado; três deles por porte de entorpecentes e um por resistência à prisão. Outras cinco pessoas foram levadas para o 1º DP.
O ato ocupou a Rua Xavier de Toledo, o Viaduto do Chá e seguiu pela Avenida Ipiranga. Ao menos duas pessoas foram presas na esquina das avenidas Ipiranga e São Luís por causa da depredação e pichação de um ônibus.
 
 
Os manifestantes, cerca de 5.000 segundo a PM, usavam máscaras e narizes de palhaço. “Não aguentamos mais sermos explorados”, dizia uma das faixas.
A Cavalaria da PM uniu-se ao Choque na Rua Maria Antônia, onde começaram os confrontos. A Universidade Mackenzie, que fica na esquina, fechou as portas.
Segundo o major da PM Lídio, o acordo era para que os manifestantes não subissem em direção à avenida Paulista, o que não foi cumprido. “Se não é para cumprir acordo, aguentem os resultados”, disse.
 
Os manifestantes tentaram subir a Rua da Consolação, por volta das 19h15, e houve dispersão. Parte seguiu até a Avenida Paulista, que voltou a ser interditada por volta das 21h30. Uma parte do grupo fez barricada uma com objetos queimados na Rua Fernando de Albuquerque.
A polícia avançou com balas de borracha e gás lacrimogêneo sobre os manifestantes, que revidaram jogando pedras e garrafas em direção aos PMs.
O jornal 'Folha de S.Paulo' diz que teve 7 repórteres atingidos no protesto, entre eles Giuliana Vallone e Fábio Braga, que levaram tiros de bala de borracha no rosto. Um cinegrafista foi atingido com spray de pimenta no rosto por um policial.
 
Um jornalista da revista 'Carta Capital' e um fotógrafo do portal 'Terra' foram levados para o 78º DP, nos Jardins, na Zona Sul da cidade, mas foram liberados por volta das 19h30. Outros detidos relataram ao G1 terem sido levados à delegacia por portarem vinagre e spray.
O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, reafirmou no início da noite que não pretende rever o reajuste nas passagens dos transportes. "O valor será mantido porque está muito abaixo da inflação acumulada", afirmou. A tarifa de ônibus, metrô e trens de São Paulo subiu de R$ 3,00 para R$ 3,20 no começo do mês.
"A Polícia Militar atuou dentro dos preceitos constitucionais para garantir o direito de livre manifestação, contudo é seu dever assegurar os direitos de toda a população, incluindo-se o direito de ir e vir. É totalmente descabida qualquer declaração de que a PM tenha agido com o intuito de insuflar a violência", informou a corporação em nota.
O secretário de Segurança Pública, Fernando Grella Vieira, por meio de sua assessoria de imprensa, informou que determinou a apuração de possíveis abusos por parte da Polícia Militar durante a repressão aos manifestantes.
A Anistia Internacional mostrou “preocupação com o aumento da violência na repressão aos protestos contra o aumento das passagens de ônibus no Rio de Janeiro e em São Paulo”. “Também é preocupante o discurso das autoridades sinalizando uma radicalização da repressão e a prisão de jornalistas e manifestantes, em alguns casos enquadrados no crime de formação de quadrilha”, disse em nota.
 

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