"É hora de refletir", diz comandante da PM a bombeiros em quartel

"É hora de refletir", diz comandante da PM a bombeiros em quartel

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 9:40

Na tentativa de convencer os mais de 2 mil bombeiros a deixarem o Quartel Central do Corpo de Bombeiros, no Centro do Rio de Janeiro, o comandante-geral da Polícia Militar (PM), Mário Sérgio Duarte, afirmou na madrugada deste sábado (4), durante discurso aos manifestantes, que o momento é de reflexão. Mas após a fala do militar, o clima voltou a ficar tenso no complexo invadido.

Por volta das 2h50, Duarte subiu num carro e, diante dos manifestantes, pediu para que todos retornassem para casa. “É primeira vez que venho aqui numa situação inusitada. Sou apenas um homem diferente, mas eu tenho a força dos meus e quero ter a dos seus. Nós precisamos resolver esse dilema, embora isso não signifique rendição para ninguém. Tenho certeza que nenhum de nós vai usar a força. Gostaria que as senhoras e os senhores refletissem. A minha proposta é que retornem para suas casas”, disse o comandante.

Durante a fala que durou cerca de 20 minutos, o comandante foi interrompido por gritos e cantos dos manifestantes, que repetiam: “nem um passo daremos atrás”.

Diante da resistência, o comandante ressaltou que não pretende usar a força e afirmou estar diante do melhor Corpo de Bombeiros do Brasil. “Mais uma vez peço vocês sentem e conversem sobre isso. Nesse momento eu preciso ver o meu coronel ferido e enterrar um outro, vítima de ‘saidinha’ de banco. Tenho certeza que vocês aqui não tinham a intenção de quebrar a mão do meu coronel, que também teve o joelho lesionado. Eu não estou propondo derrotados nem vitoriosos”, completou Duarte.

Mais de duas mil pessoas ocupam o Quartel Central dos Bombeiros. (Foto: Rodrigo Vianna / G1) Em seguida, o cabo Benevenuto Daciolo, porta-voz do movimento, elogiou a iniciativa do comandante da PM. Mas ele disse que quer a presença do governador Sérgio Cabral ou do vice Luiz Fernando Pezão.

O porta-voz reafirmou que a manifestação é pacífica, mas disse há 50 homens armados entre eles. “Nós temos essa casa (quartel) como nosso lar. E enxergamos o comandante-geral como nosso pai. Mas nós temos que pagar aluguel, compras, remédios. Estamos há mais de dois meses tentando falar com as autoridades. Aqui tem mulheres, homens de bem e famílias inteiras. Por favor, coronel, não permita que o mal aconteça”, pediu Daciolo.

Logo após o comandante-geral da PM deixar o local, o clima, que era calmo, voltou a ficar tenso. Os militares sentaram no meio do pátio, de frente para a saída e esticaram mangueiras de água. Além disso, os manifestantes usaram caminhões como barricada, bloqueando as entradas do quartel. Alguns chegaram as esvaziar os pneus dos veículos.

Muitos policiais militares foram deslocados para a frente do quartel. Pelo menos 29 carros da PM também cercam o prédio. A área foi isolada e ninguém pode entrar ou sair do quartel, já que os acessos ao local foram bloqueados.

Há cerca de 150 policiais do Batalhão de Choque dentro e fora do quartel, além de policiais de outros batalhões e do Regimento de Polícia Montada (Rpmont).

Bombeiros ocupam pátio central do quartel da corporação. (Foto: André Teixeira/ Ag. O Globo) Segundo os manifestantes, a invasão ao quartel central não foi planejada. Pouco após a invasão e depois de uma breve chuva que caiu no fim da noite, os manifestantes se reuniram no meio do pátio do quartel central e fizeram uma oração.

O cabo Benevenuto Daciolo disse que a categoria foi às ruas para reivindicar aumento de salário líquido de R$ 950 para R$ 2 mil, melhores condições de trabalho, além de vale-transporte.

Os manifestantes estão com apitos e faixas no pátio do quartel central. Além de bombeiros da ativa, há funcionários aposentados, mulheres e até crianças. Segundo Daciolo, participam do protesto bombeiros de quartéis de todo o estado. Ele informou ainda que as praias devem amanhecer sem guarda-vidas neste sábado.

De acordo com Cláudio Lopes, procurador-geral de Justiça do Rio, o   governo pode decretar a prisão dos manifestantes   se considerar que houve insubordinação.  "A Polícia Militar está diretamente subordinada ao governo do estado, ao governador, hierarquicamente. E pelo regulamento militar, o governador pode, sim, decretar a prisão administrativa daquelas pessoas que ele venha a entender que violaram a legislação militar, sem prejuízo - dependendo exatamente do que aconteceu - de isso constituir algum tipo de crime militar", explicou.

Mais cedo, a Secretaria estadual de Saúde e Defesa Civil afirmou que os manifestantes serão presos por invadir órgão público, agredir um coronel e desrespeitar o regulamento de conduta dos militares.

Bombeiros se espremem para entrar no quartel central da corporação (Foto: André Teixeira/ Ag. O Globo) Mandados de prisão Em maio, houve uma série de protestos da categoria por aumento de salário e melhores condições de trabalho. Cinco bombeiros chegaram a ter as prisões decretadas. No dia 17 de maio eles anunciaram o fim da greve. Na ocasião, segundo os manifestantes, durante uma reunião realizada na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) com integrantes do governo do estado foram pedidos a revogação da prisão dos bombeiros, o cancelamento das punições, transferências e inquéritos administrativos e judiciais e o abono das faltas.  

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