Irmão de Eloá diz que Lindemberg era um 'monstro'

Lindemberg era um 'monstro', diz irmão de Eloá

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 9:15

Ronickson Pimentel dos Santos, irmão de Eloá Pimentel, definiu Lindemberg Alves, acusado de matar sua irmã em 2008, como "louco", "vingativo" e "extremamente agressivo". Nas palavras de Ronickson, que foi ouvido durante o julgamento do caso Eloá na manhã desta terça-feira (14), o réu é um "monstro". Ronickson foi o primeiro a ser interrogado nesta manhã, segundo dia de julgamento.

Os trabalhos do tribunal do júri foram retomados por volta das 9h30. Lindemberg passou a noite desta segunda-feira  (13) no Centro de Detenção Provisória (CDP) de Pinheiros, na Zona Oeste de São Paulo.

O júri presidido pela juíza Milena Dias ocorre mais de três anos após um dos sequestros mais longos do país - cerca de cem horas - acompanhado ao vivo pela TV, que terminou com a morte da estudante, com 15 anos à época.

Nesta terça deve ocorrer o último dos cinco depoimentos das testemunhas de acusação. Além de Ronickson, devem começar a ser ouvidas as dez testemunhas da defesa.

Vídeos

O primeiro dia de julgamento de Lindemberg começou por volta 10h50 desta segunda-feira. Durante a manhã, houve a exibição de vídeos tanto do Ministério Público quanto da defesa do réu aos jurados. Seis homens e uma mulher compõem o conselho de sentença, definido no início do julgamento.

Durante uma hora e meia, a defesa de Lindemberg exibiu cerca de 15 vídeos jornalísticos que retratam a cobertura da imprensa e também a invasão da Polícia Militar ao apartamento onde a Eloá foi mantida refém por cinco dias, entre 13 e 17 de outubro de 2008.

Entre as reportagens apresentadas pela advogada Ana Lúcia Assad, que representa Lindemberg, há entrevistas do réu logo após a prisão, em imagens divulgadas por uma emissora de TV, na qual ele diz que “gostaria de voltar o tempo”. Há também entrevistas com Nayara Rodrigues da Silva, mantida refém e baleada por Lindemberg, na qual diz que só efetuou os disparos após a entrada da PM no apartamento.

A promotora Daniela Hashimoto também exibiu um vídeo retratando o comportamento agressivo de Lindemberg Alves.

Depoimentos

Após a apresentação dos vídeos, três amigos de Eloá que também foram mantidos reféns por Lindemberg em 2008 e um policial militar depuseram. Nayara Rodrigues, que foi baleada pelo acusado, disse que o namoro de Lindemberg e Eloá tinha "idas e vindas". Segundo ela, os dois terminaram "várias vezes".

A garota acrescentou que o acusado passou a odiá-la depois que Eloá terminou definitivamente o relacionamento. "Ele achava que eu influenciava negativamente a Eloá. Ele achava que ela tinha terminado o namoro por minha causa. Ele me odiava e odiava minha mãe", disse. A pedido da jovem, Lindemberg foi retirado do plenário do júri.

Durante as quase duas horas em que falou, Nayara contou que sofreu muito após o cárcere privado. "Fiquei o resto do ano fora da escola, mas não perdi o ano porque fiz trabalhos em casa", afirmou. Ela afirmou também que fez tratamento "psicológico e psiquiátrico". "Tomei remédio, mudei de escola. E ainda tenho cirurgias para fazer."

Nayara começou a chorar ao lembrar da amiga. "Ele batia nela o tempo todo dentro da casa, não largava a arma", disse, emocionada. A advogada de defesa de Lindemberg, Ana Lúcia Assad, porém, afirmou que Nayara "simulou choro". “Teve dramatização demais, ela estava bem orientada”, disse. Para o advogado de Nayara, Marcelo Oliveira, a defesa está "desesperada".

Iago Vilera

Já Iago Vilera, um dos adolescentes também feitos reféns, prestou depoimento por mais de 30 minutos. O acusado voltou à sala do júri sem algemas e escoltado por dois PMs para assistir ao depoimento, já que o jovem não se opôs à presença dele. "Eu vi o Lindemberg perseguindo a Eloá, passando de moto e encarando os amigos de forma ameaçadora", disse Vilera. "Fiz tratamento psicológico para me curar do trauma."

Victor Campos

Antes dele, o estudante Victor de Campos, que também foi mantido refém, contou que Lindemberg, durante o cárcere privado, falou que "não estava para brincadeira". "Ele dizia que ia fazer uma besteira. Me deu uma coronhada porque achou que eu tinha algo com a Eloá."

Segundo ele, o acusado dizia aos reféns: "Vou atirar em um de vocês para botarem fé em mim". "O que me dava mais medo era ver meus amigos tomarem um tiro, acontecer alguma tragédia", disse.

Atos Valeriano

Além dos três jovens, prestou depoimento nesta segunda o sargento da Polícia Militar Atos Antonio Valeriano, que escapou de um tiro durante o sequestro. Ele foi o último a falar no primeiro dia do júri. Segundo o PM, Lindemberg Alves atirou para matá-lo. "O tiro passou a 30 centímetros da minha cabeça." Valeriano disse que o acusado repetia várias vezes que ia "matar todo mundo" e depois se matar.

Avaliação

A advogada de Lindemberg disse ainda que considerou satisfatório o resultado do primeiro dia. "Houve respeito ao direito de defesa, estou satisfeita com o amparo jurídico dado", afirmou Ana Lúcia Assad.

Para o representante de Nayara e assistente de acusação, o advogado Marcelo Augusto de Oliveira, todos os depoimentos deixaram claro que Lindemberg tinha a intenção de matar Eloá desde o começo. José Beraldo, que representa a família de Eloá, avaliou que os depoimentos das quatro testemunhas desta segunda-feira foram coerentes. "Todos falam em situações parecidas, são falas complementares, que relatam o mesmo caso", afirmou.

Lindemberg responde por 12 crimes. Além da morte de Eloá, são duas tentativas de homicídio (contra Nayara e o sargento Atos Antonio Valeriano, que escapou do tiro); cárcere privado (de Eloá, Victor, Iago e duas vezes de Nayara) e disparo de arma de fogo (foram quatro).

Segundo o Ministério Público, se Lindemberg for condenado por todos os crimes atribuídos a ele, a pena mínima poderá ser de 50 anos e a máxima, de 100 anos de reclusão. Pela legislação do país, no entanto, ninguém pode ficar preso a mais de 30 anos. O julgamento de Lindemberg deve durar três dias, segundo o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP).

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