Lula começa a tirar do papel plano para criar instituto em 2011

Lula começa a tirar do papel plano para criar instituto em 2011

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 10:14

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva procura um imóvel em São Paulo para instalar um escritório a partir de onde pretende manter seu protagonismo no cenário político depois que deixar o governo, no dia 1º de janeiro.

O local preferido é a Vila Clementino, bairro de classe média na Zona Sul paulistana, onde ficava o comitê eleitoral do presidente na campanha de 2002. A escolha ocorre por dois motivos práticos: a proximidade do aeroporto de Congonhas e a facilidade de acesso a São Bernardo do Campo, para onde o presidente voltará depois do mandato.

Lula tem dito que pretende tirar dois meses de férias e depois “voltar com tudo” para trabalhar pela reforma política e eleitoral e a criação de uma frente que dê estabilidade a um possível governo da presidenciável petista Dilma Rousseff.

O chefe do gabinete-adjunto de Gestão e Atendimento da Presidência, Swedenberger do Nascimento Barbosa, foi encarregado de fazer uma pesquisa e apresentar opções de formato jurídico para a entidade que servirá de suporte a Lula. Ex-secretário-executivo da Casa Civil na gestão de José Dirceu, Barbosa tem estudado exemplos de ex-presidentes no exterior. As opções são a criação de uma fundação ou um instituto.

Embora falte menos de quatro meses para o fim do governo, Lula ainda é lacônico ao falar de seus planos. “Ele sofre para admitir que o mandato está acabando”, disse um assessor próximo.Pelo menos uma coisa Lula tem deixado bem clara a seus interlocutores - mesmo fora da Presidência manterá seu papel de destaque na política nacional.

A primeira providência será a extinção formal do Instituto Cidadania, o “governo paralelo” criado em 1990 depois da derrota para Fernando Collor de Mello em 1989 e que, na prática, já não funciona desde a posse de Lula em 2003.

Segundo assessores, o presidente dividirá o tempo entre uma agenda interna e outra externa. Na área internacional, vai priorizar a integração entre países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento com foco na África e América do Sul. Durante os oito anos de governo ele recebeu dezenas de convites para receber títulos de doutor honoris causa, aceitou todos mas com a condição de só recebê-los depois de deixar a Presidência. Isso vai garantir anos de convites para viagens mundo a fora.

Reforma política e defesa de Dilma

Na frente interna, Lula vai se dividir entre viagens pelo País - semelhantes às caravanas da cidadania que realizou antes de ser eleito - e a articulação político-partidária. As prioridades são a reforma política e a criação de uma frente que garanta hegemonia no Congresso e tranqüilidade a um eventual governo Dilma.

Lula tem defendido a realização de uma reforma política, apoiado no discurso de que é preciso um sistema político com partidos fortes. A ideia, entretanto, não é propor a extinção dos partidos atuais e criação de novas siglas. “Ele quer uma espécie de refundação dos partidos com base no binômio militância/reflexão”, disse um interlocutor.

A aliança entre PT e PMDB é a base para a mudança. Os dois partidos vivem uma espécie de lua-de-mel. De um lado peemedebistas estão encantados com a eficiência da máquina do PT. De outro, petistas se dizem impressionados com a capilaridade e extensão do PMDB.

Mas a principal preocupação do presidente é a estabilidade de Dilma. “Ele tem dito que a Dilma é mais frágil politicamente do que ele e se a oposição fez o que fez com ele imagine o que poderá tentar fazer com Dilma”, disse outro assessor palaciano. Sob a justificativa de manter a unidade dos partidos aliados Lula tem dado palpites, “nomeado” assessores e opinado na configuração do eventual futuro governo.

Em Recife, há duas semanas, Lula chegou a falar em criar uma “organização política”. A assessores, tem dado sinais contraditórios. Às vezes fala em uma entidade orgânica, com caráter institucional, outras na articulação de uma base partidária. Nos dois casos, o ponto de convergência seria ele próprio. “Lula é protagonista há mais de 30 anos e não vai sair de cena assim, de uma hora para outra”, disse um interlocutor. “Mas isso não significa que vá interferir no governo”, completou.

Centro de memória

Para isso, Lula vai precisar de uma estrutura física cuja organização está a cargo de Swedenberg Barbosa. Além de servir de espaço para articulação política, o local será um centro de memória dos oito anos de governo. A legislação prevê que o presidente deixe o gabinete vazio para o sucessor e cuide da preservação de seu acervo.

A lei garante três funcionários, dois seguranças, um carro e combustível. No caso de Lula a estrutura será insuficiente. Seu acervo inclui mais de meio milhão de cartas (todas respondidas e guardadas), milhares de retratos, camisas de times de futebol, bonés e presentes recebidos nestes oito anos e guardados pela diretoria de documentação histórica da Presidência. A viabilização financeira desta estrutura, por enquanto, é assunto tabu entre os interlocutores do presidente.

Postado por: Thatiane de Souza

Este conteúdo foi útil para você?

Sua avaliação é importante para entregarmos a melhor notícia

Siga-nos

Mais do Guiame

O Guiame utiliza cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar a sua experiência acordo com a nossa Politica de privacidade e, ao continuar navegando você concorda com essas condições