A campanha de Marina Silva confirmou nesta terça-feira que a primeira prestação de contas da candidata ao Tribunal Superior Eleitoral declara a arrecadação de R$ 4,6 milhões durante o mês de julho. O valor corresponde a 5,2% do teto máximo de gastos estimado pelo comitê fiscal da candidata, que é de R$ 90 milhões.
O coordenador da campanha do PV, João Paulo Capobianco, explica que os R$ 90 milhões são o valor máximo que o partido planeja arrecadar até o fim do primeiro turno. Segundo ele, a arrecadação de fato deve ficar um pouco abaixo disso, mas ainda impossível de ser calculada em virtude do estágio inicial da campanha, diz ele.
Segundo Capobianco, os R$ 4,6 milhões arrecadados até o final de julho correspondem a cerca de 10% de tudo o que se espera arrecadar de fato até o fim do pleito. A quantia é superior ao que já foi arrecadado por José Serra (PSDB) até o momento, que totaliza R$ 3,6 milhões. A arrecadação tucana corresponde a 2% do montante máximo de R$ 180 milhões que o PSDB planeja angariar até o final do pleito.
Conforme o iG adiantou ontem, a campanha que mais arrecadou recursos até agora foi a de Dilma Rousseff. A petista tem R$11,6 milhões em caixa, valor que corresponde a 7,3% do total de R$ 157 milhões previstos pelo comitê de arrecadação de Dilma, liderado pelo tesoureiro José de Filippi Júnior.
Apesar de Marina ter arrecadado mais que a campanha tucana, a candidata do PV admitiu nesta terça-feira em São Paulo que tem limitações financeiras para tocar a campanha. Segundo a candidata, as dificuldades de arrecadação estão sendo superadas pela militância voluntária. Estou caminhando com dificuldades em termos da estrutura que temos, mas a maior arrecadação que eu tenho é o capital humano. A mobilização espontânea das pessoas, daqueles que acreditam nas idéias, daqueles que acreditam no projeto que a gente está defendendo, disse Marina.
As declarações da candidata foram feitas durante o encontro com a Confederação Nacional das Instituições Financeiras (CNF), em um hotel de São Paulo. A presidenciável do PV negou que faz discurso de ocasião para agradar e atrair atenção dos doadores. "Faço o discurso que eu acredito, não é para agradar nenhum setor especificamente, é para convergir com os diferentes setores", afirmou. A dificuldade de arrecadação da campanha de Marina foi adiantada na semana passada pelo iG . O próprio vice de Marina, Guilherme Leal, que é sócio da Natura, disse hoje que vem fazendo doações periódicas para a campanha, dentro do limite ético, como ele mesmo definiu.
PV em crise
Além de Marina, outra estrela do PV com dificuldades sérias de arrecadação é o candidato Fernando Gabeira, que concorre ao governo do Rio. Em caminhada com José Serra em São Paulo, o candidato admitiu que arrecadou nesse primeiro mês apenas R$ 50 mil, quantidade considerada baixíssima para quem está em segundo lugar nas pesquisas. Apesar da crise, Gabeira se disse otimista: Vou continuar minha vida porque a gente sabe fazer campanha sem dinheiro, afirmou.
Como mostram os números das campanhas, o problema de arrecadação persiste entre todos os presidenciáveis. Segundo o cientista político Humberto Dantas, conselheiro do Movimento Voto Consciente, o problema está no descrédito na classe política e no medo dos empresários em associar suas marcas a escândalos. A imprensa e as ONGs têm cruzado os dados das campanhas e verificado que certos doadores também participam e fazem negócio com o governo. A iminência de um escândalo explica parcialmente a baixa doação de algumas empresas, que preferem participar das licitações sem fazer doação de campanha, diz Dantas.
Apesar da intensa fiscalização e da exigência da sociedade por mais transparência no processo eleitoral, o cientista político diz que não acredita que o caixa 2 seja banido das campanhas. Para ele, a prática está enraizada nas relações políticas e existirá enquanto houver desinteresse pelo trabalho legislativo. Nas candidaturas para governador ou presidente, a fiscalização da imprensa tem inibido mais a prática do caixa 2. Porém, ainda é difícil controlar as doações para os cargos legislativos. O mais grave é que 70% dos brasileiros nem se lembra em quem votou para deputado no último pleito, dificultando a fiscalização ainda mais, em virtude do desinteresse, analisa.
Campanhas infladas
Para Humberto Dantas, os partidos inflaram bastante a expectativa de arrecadação para o pleito. Na opinião dele, os tetos de arrecadação são muito difíceis de serem atingidos. Ele acredita, porém, que muito empresários estão esperando a consolidação das candidaturas presidenciais para fazerem investimentos nos partidos com reais chances de vitória.
O argumento usado pelos partidos de que a campanha ainda não começou está errado. Há pelo menos dois anos não se fala de outra coisa, desde quando Lula decidiu que Dilma seria sua candidata, destaca Dantas. O que acontece nessa fase é que os grandes doadores ainda não entraram em campo, coisa que devem fazer apenas em meados de setembro, quando a posição de cada candidato estiver mais clara, analisa.
Postado por: Cristiano Bitencourt
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