Reclamações de falta d'água em São Paulo e cidades vizinhas se intensificaram desde o fim da semana passada. Nesta quarta-feira (15), clientes da Sabesp afetados por falta d'água por dias consecutivos chegaram a dizer que preferem um "racionamento oficial" às interrupções sem aviso prévio.
A Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) disse por nota que houve casos de falta d'água causados por causa do aumento do consumo em dias de calor e por serviços de manutenção na rede. Oficialmente, a Sabesp nega racionamento e admite apenas uma “administração da disponibilidade” dos recursos hídricos.
Moradora do Jardim Piratininga, na Zona Sul, a dona de casa Nair de Souza Brun, de 59 anos, comemorava nesta manhã a normalização do fornecimento após praticamente cinco dias com as torneiras secas. “Na sexta, a água acabou, mas voltou depois. No sábado já não tinha mais. Ela só voltou hoje, umas 9h”, contou.
Ela relatou que o bairro tem sido tido frequentes cortes na distribuição. “Quando ligamos para reclamar, eles disseram que estavam fazendo reparos na rede. Mas, no meu entender, o racionamento já está acontecendo, sim. Tem dia em que a água vai e volta. Há um mês faltou três dias direto. Acho que se eles divulgassem o cronograma seria melhor, porque aí você se prepara um pouco. Antigamente, eles avisavam. Agora não”, observou.
Nesses últimos dias, a família teve que racionalizar o uso. “Eu fiquei sem lavar roupa. Como a minha caixa é pequena, só tem 500 litros, eu tenho que buscar água de balde na casa da minha mãe, que fica no mesmo terreno. Banho era só de canequinha. Eu tinha pensado em pagar para lavar o cabelo no salão, porque tenho muito cabelo. É muito difícil lavar só com a canequinha. Ainda bem que voltou”, contou.
A dona de casa Maria Conceição Faustino, moradora de Americanópolis, também ficou cinco dias sem água e só teve o abastecimento normalizado nesta manhã. Para ela, decretar o racionamento seria a melhor solução.
“Não precisa ficar escondendo, vamos colocar a público, todo mundo sabe como está a situação. É mais feio esconder do que declarar o racionamento logo de uma vez. Assim, as pessoas têm tempo de se preparar, de estocar”, disse.
Maria Conceição acredita que a população pode reclamar no começo, mas irá se habituar. “Não tem rodízio de carro? Então, no começo o pessoal reclamou, mas depois se acostumou. Isso tem que ter, as pessoas vão se acostumar, as pessoas tem que se acostumar”, sugeriu.
Veja abaixo relatos de leitores do G1 sobre a falta d'água em São Paulo
Quarta-feira (15): Nair de Souza Brun - Jardim Piratininga (Zona Sul)“Na sexta, a água acabou, mas voltou depois. No sábado já não tinha mais. Ela só voltou hoje, umas 9h. Quando ligamos para reclamar, eles disseram que estavam fazendo reparos na rede. Mas, no meu entender, o racionamento já está acontecendo, sim. Tem dia em que a água vai e volta. Há um mês faltou três dias direto. Acho que se eles divulgassem o cronograma seria melhor, porque aí você se prepara um pouco”.Terça-feira (14): Maria Conceição Faustino – Americanópolis (Zona Sul)"Nós estamos super revoltados, estamos comprando água mineral para tudo, para usar no banheiro, para lavar louça. Nós somos chiques, estamos tomando banho com Bonafont. Meu filho tem Síndrome de Down, tem que ter um cuidado extra com a higiene, e a roupa dele está suja desde sábado. Acabou a água até do mercado, está todo mundo comprando. E eu sou uma pessoa que economiza não por causa dos 20%, mas pela consciência"Terça-feira (14): Vileide Bueno – Americanópolis (Zona Sul)"Eu estou gastando de R$ 50 a R$ 60 por semana com água mineral. Para banho, para louça, para escovar os dentes, tudo. É um dinheiro que faz muita falta. Você liga na Sabesp, eles falam que domingo à noite volta, aí ligamos ontem, diz que vinha ontem. Hoje de novo, e ainda não veio. Os vizinhos estão todos revoltados"Terça-feira (14): Valdira Santana - Santana de Parnaíba"Estou há nove dias sem água. Liga na Sabesp, e eles não dão a mínima atenção para a gente, colocam uma gravação. É um absurdo, é uma vergonha. E eu não sei mais o que fazer para economizar, faço tudo o que mostram e falam para fazer. Eu só estou fazendo comida porque estou comprando água. A higiene pessoal não tem condição, está um absurdo”Segunda-feira (13): Alessandra Coelho - Campo Limpo (Zona Sul)"Todos os dias, de noite, a gente fica sem água. Nesse final de semana ficou durante o dia também sem água. Fiquei das 20h do sábado até as 5h de segunda. A gente vai guardando água. Vou estocando em containers, em baldes, e vou me virando assim. E ainda tem que comprar água potável pra beber”.Segunda-feira (13): Gabriela Mendes - Jardim Conceição (Osasco)“Normalmente o abastecimento para na sexta, de noite, e fica sem água até domingo de madrugada. Isso era o normal, mas agora estamos desde quinta sem água e ainda não voltou hoje, segunda. Está difícil, não tem água pra beber, pra tomar banho, pra dar banho nas crianças. Estamos tendo que comprar água. Meu marido ligou lá e a Sabesp disse que não tem água pra mandar”.
Segunda-feira (13): Valter Fernandes Teixeira - Vila Dirce (Carapicuíba)
“Você não tem água pra lavar o rosto, pra escovar o dente. Trabalhei o dia inteiro ontem, naquele sol, a roupa chega a grudar no corpo. Aí cheguei em casa e não pude tomar um banho, tive que ir na casa da minha mãe. Está faltando com frequência, normalmente é de dia, às vezes volta de noite. Tem dia que não volta. Aí tem que ficar estocando”.
Segunda-feira (13): Daniele Reis - Vila Santa Catarina (Zona Sul)
“Desde sexta-feira está assim, sem água direto. Normalmente para de dia, e volta a noite, de madrugada. Enche a caixa e no dia seguinte está sem de novo. Mas dessa vez não voltou ainda, ficou direto. No final de semana tivemos que comprar água, tem um pingo só pra tomar banho, aí não tem pra beber, pra cozinhar”.
Segunda-feira (13): Tainá Andrade - Americanópolis (Zona Sul)
“Todos os dias durante a noite ficamos sem água, mas esse final de semana está direto. Desde sábado até agora estamos sem água, não voltou ainda. Final de semana todo sem nem uma gota. Tivemos que comprar água pra beber e pra poder fazer comida. De resto, ficamos sem fazer, a louça está amontoada na pia, tudo.”
Segunda-feira (13): Caíque Ferreira - Jardim Santa Terezinha (Zona Leste)
“Estamos sem água desde sexta. Segundo a Sabesp, tiveram que fazer um conserto, mas não informaram onde e nem quando a água voltaria”.
Segunda-feira (13): Joraci Veiga - Casa Verde (Zona Norte)
“Não é a primeira vez, nos últimos dois meses já foram várias vezes. Mas dessa vez está mais tempo. Desde sábado, acordei de manhã, fui pro banho e não tinha água. Hoje ainda não fui trabalhar porque estou sem banho. Parece que a água voltou na rua, mas ainda não chegou aqui porque a pressão está muito baixa. De que adianta mandar água com pressão fraca?”
Segunda-feira (13): Ligia Silva Frazão - Luz (Centro)
"Hoje cedo abri a torneira e não saía água. Creio que esteja desde ontem, por que pra caixa do prédio ter secado, é porque não vem água da rua já faz tempo. Eu tenho duas crianças pequenas, a gente não se preparou nem nada, a Sabesp tinha que avisar quando for fazer isso. Meu marido ligou lá e eles assumiram que não tem água, disseram que é ‘uso excessivo de água na região”.
Segunda-feira (13): Juliana Barbosa da Silva – Parque Santa Tereza (Carapicuíba)
“Ficamos sem água de sexta feira das 12h até domingo às 20h. Aí agora de manhã, umas 10h30 acabou e não voltou mais. Entrei em contato várias vezes [com a Sabesp], disseram que tinha passado o limite de gasto de água da região. Mas ninguém nos avisou disso. Agora, quando ligamos colocam uma gravação afirmando isso. Ela volta bem fraca, demorou um tempão para encher a caixa. É difícil, porque praticamente não podemos tomar banho, mal tínhamos como fazer comida. Precisamos tomar banho frio para poder cozinhar”.
Segunda-feira (13): Marcília Olivieri - Granja Viana (Cotia)
“Desde ontem por volta das 10h [falta água] e até agora ainda não voltou. Eu e outros moradores entramos em contato com a Sabesp, que diz que não tem problemas de abastecimento de água na região. A gente já está acostumada a isso, sempre falta água aqui. É o racionamento que não existe, mas existe. Não dei banho na minha bebê hoje, não consegui nem lavar a louça”.