Motoristas inalam mais poluição dentro do carro que um ciclista

Motoristas inalam mais poluição dentro do carro que um ciclista

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:48

Rodar até 250 km por dia no conturbado trânsito paulistano não é nada fácil. Se para a maioria de nós que não está o tempo inteiro no trânsito já é um desafio, imagine para o Leandro Castro que passa o dia todo dirigindo o táxi. Ele corre riscos não só de acidentes. “A poluição fica bem visível pelo teto do carro. Você passa a mão e a mão sai preta”, relata o taxista.

Toda a fuligem vai parar lá dentro do pulmão do Leandro e de todo mundo que passa muito tempo nas ruas da capital. Para saber o quanto dessa poeira vai parar dentro dos pulmões, cem taxistas e agentes da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) são voluntários em uma pesquisa do Instituto do Coração. Todos têm menos de 60 anos e não fumantes.     “Se a gente encontrar alguma alteração importante ou relevante, isso significa que, eventualmente, outras pessoas que trabalham em situações semelhantes estão expostas e, portanto sofrendo algum tipo de risco”, diz o pneumologista do Instituto do Coração Ubiratan de Paula Santos.

O aparelho tem dois filtros: um para medir o ozônio e outro, as partículas. Ele é colocado no banco do carro do taxista porque ele tem que respirar o mesmo ar que o próprio motorista. No caso dos marronzinhos, a situação é crítica porque geralmente eles ficam no meio da rua, respirando direto a fumaça que sai do escapamento dos carros, ônibus e caminhões. O filtro, parecido com o usado nos táxis, fica preso ao corpo. Depois de um dia de trabalho, cada um passa por exames detalhados.

O resultado da pesquisa só fica pronto em outubro deste ano. “Ao sair com esse medidor nós temos uma ideia da carga de exposição das pessoas que trabalham na rua. Quem é jornaleiro na Avenida Paulista, quem trabalha em todas as lojas nos grandes corredores de tráfego. Não é só quem trabalha na rua, mas quem trabalha numa loja na Avenida Bandeirantes, na Avenida Celso Garcia, na Radial Leste etc. São situações muito parecidas”, explica o pneumologista.

Os voluntários entregam os aparelhos na manhã seguinte e vão para a bateria de exames. Tiram sangue, medem a pressão, correm na esteira, fazem exames no nariz e até da lágrima. “Nós estamos vendo se dias mais poluídos alteram mais a frequência cardíaca e a pressão arterial que dias menos poluídos. Nós realmente temos visto que isso vem sendo observados em dias mais poluídos”, diz o fisioterapeuta Daniel Antunes Alveno.

No laboratório, é possível notar que os filtros que saíram no carro dos taxistas ficaram completamente escuros. O teste foi repetido com os participantes do desafio intermodal no ano passado. Na prova, que é sempre em setembro, 20 competidores vão de um ponto ao outro da cidade em meios de transportes diferentes. Tudo pra saber qual veículo é mais rápido e polui menos.

“A conclusão que o desafio tem colocado todos os anos é que o transporte não motorizado é um transporte eficiente, viável e merece atenção dos gestores e merece investimento maior, principalmente no sistema de ciclovias para seguranças desses usuários que é mais saudável não poluente e bem mais rápido”, diz o arquiteto urbanista especialista em transportes Ronaldo Tonobohn.

A bicicleta e o carro fizeram o percurso em mais ou menos uma hora e, no laboratório da USP, foi possível ver quem respirou mais poluição. “O resultado dessa experiência foi que a pessoa que estava dentro do carro estava mais exposta ao material particulado do que a pessoa que foi de bike”, revela o engenheiro agrônomo Marco Antônio Martins.

Foi medida a concentração de material particulado, a poeira preta e fina que entra no pulmão. No carro, a pessoa ficou exposta a 127 mg/m³. Já na bicicleta, o participante ficou exposto a 105 mg/m³. Isso significa que o ciclista respirou um ar 17% menos poluído. “A diferença é que o carro estava numa via muito poluída, com muito trânsito e a bike foi pelas vias mais arborizadas”, diz Marco Antônio.

Os médicos da Universidade de São Paulo alertam: não adianta nada ficar em casa com a janela fechada achando que não vai entrar poluição. Ela entra de qualquer jeito. E o melhor é abrir a janela para o ar circular.      

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