Rodar até 250 km por dia no conturbado trânsito paulistano não é nada fácil. Se para a maioria de nós que não está o tempo inteiro no trânsito já é um desafio, imagine para o Leandro Castro que passa o dia todo dirigindo o táxi. Ele corre riscos não só de acidentes. A poluição fica bem visível pelo teto do carro. Você passa a mão e a mão sai preta, relata o taxista.
Toda a fuligem vai parar lá dentro do pulmão do Leandro e de todo mundo que passa muito tempo nas ruas da capital. Para saber o quanto dessa poeira vai parar dentro dos pulmões, cem taxistas e agentes da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) são voluntários em uma pesquisa do Instituto do Coração. Todos têm menos de 60 anos e não fumantes. Se a gente encontrar alguma alteração importante ou relevante, isso significa que, eventualmente, outras pessoas que trabalham em situações semelhantes estão expostas e, portanto sofrendo algum tipo de risco, diz o pneumologista do Instituto do Coração Ubiratan de Paula Santos.
O aparelho tem dois filtros: um para medir o ozônio e outro, as partículas. Ele é colocado no banco do carro do taxista porque ele tem que respirar o mesmo ar que o próprio motorista. No caso dos marronzinhos, a situação é crítica porque geralmente eles ficam no meio da rua, respirando direto a fumaça que sai do escapamento dos carros, ônibus e caminhões. O filtro, parecido com o usado nos táxis, fica preso ao corpo. Depois de um dia de trabalho, cada um passa por exames detalhados.
O resultado da pesquisa só fica pronto em outubro deste ano. Ao sair com esse medidor nós temos uma ideia da carga de exposição das pessoas que trabalham na rua. Quem é jornaleiro na Avenida Paulista, quem trabalha em todas as lojas nos grandes corredores de tráfego. Não é só quem trabalha na rua, mas quem trabalha numa loja na Avenida Bandeirantes, na Avenida Celso Garcia, na Radial Leste etc. São situações muito parecidas, explica o pneumologista.
Os voluntários entregam os aparelhos na manhã seguinte e vão para a bateria de exames. Tiram sangue, medem a pressão, correm na esteira, fazem exames no nariz e até da lágrima. Nós estamos vendo se dias mais poluídos alteram mais a frequência cardíaca e a pressão arterial que dias menos poluídos. Nós realmente temos visto que isso vem sendo observados em dias mais poluídos, diz o fisioterapeuta Daniel Antunes Alveno.
No laboratório, é possível notar que os filtros que saíram no carro dos taxistas ficaram completamente escuros. O teste foi repetido com os participantes do desafio intermodal no ano passado. Na prova, que é sempre em setembro, 20 competidores vão de um ponto ao outro da cidade em meios de transportes diferentes. Tudo pra saber qual veículo é mais rápido e polui menos.
A conclusão que o desafio tem colocado todos os anos é que o transporte não motorizado é um transporte eficiente, viável e merece atenção dos gestores e merece investimento maior, principalmente no sistema de ciclovias para seguranças desses usuários que é mais saudável não poluente e bem mais rápido, diz o arquiteto urbanista especialista em transportes Ronaldo Tonobohn.
A bicicleta e o carro fizeram o percurso em mais ou menos uma hora e, no laboratório da USP, foi possível ver quem respirou mais poluição. O resultado dessa experiência foi que a pessoa que estava dentro do carro estava mais exposta ao material particulado do que a pessoa que foi de bike, revela o engenheiro agrônomo Marco Antônio Martins.
Foi medida a concentração de material particulado, a poeira preta e fina que entra no pulmão. No carro, a pessoa ficou exposta a 127 mg/m³. Já na bicicleta, o participante ficou exposto a 105 mg/m³. Isso significa que o ciclista respirou um ar 17% menos poluído. A diferença é que o carro estava numa via muito poluída, com muito trânsito e a bike foi pelas vias mais arborizadas, diz Marco Antônio.
Os médicos da Universidade de São Paulo alertam: não adianta nada ficar em casa com a janela fechada achando que não vai entrar poluição. Ela entra de qualquer jeito. E o melhor é abrir a janela para o ar circular.
Sua avaliação é importante para entregarmos a melhor notícia
O Guiame utiliza cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar a sua experiência acordo com a nossa Politica de privacidade e, ao continuar navegando você concorda com essas condições