"Mulher aranha", Sonia Braga volta a seduzir Cannes 25 anos depois

"Mulher aranha", Sonia Braga volta a seduzir Cannes 25 anos depois

Fonte: Atualizado: sábado, 29 de março de 2014 às 03:25

Sonia Braga, Herson Capri, Nuno Leal Maia, Milton Gonçalves, José Lewgoy. O cinema brasileiro esteve em Cannes na noite desta quinta-feira (13) em uma projeção com sala cheia, ainda que discreta, de uma versão totalmente restaurada de "O beijo da mulher aranha", de Hector Babenco.

Exibido 25 anos atrás no mesmo Festival de Cannes, o filme ganhou cópias digitais com som dolby stereo e uma qualidade de imagem que há muito não se via. "Os negativos estavam estropiados. Não foram preservados porque no Brasil nunca houve uma política de preservação dos filmes importantes. As políticas públicas eram muito pobres e nós éramos ignorantes e não exigíamos isso", afirmou Babenco ao G1 logo após a sessão, bastante aplaudida pelo público.

"Acho um milagre que um filme que a gente há tanto tempo esteja vivo de uma forma tão transparente, tão lúcida, tão forte. Foi uma surpresa para mim. Não imaginava essa plateia tão boa e essa resposta tão quente ao filme", comentou o diretor, que é nascido na Argentina mas fez sua carreira de cineasta filmando no Brasil e nos Estados Unidos.

Abordada pelo G1 ao final da sessão, Sonia Braga, única atriz do elenco presente na exibição, se mostrou dividida quanto a suposta atualidade do "Beijo...", que conta a história de um preso político e um homossexual que dividem uma cela em um presídio brasileiro nos tempos da ditadura militar e sofrem todos os tipos de torturas, físicas e morais.

William Hurt, que faz o personagem gay ao lado de Raul Julia, o jornalista "subversivo", venceu o Oscar e a Palma de Ouro por sua atuação no longa na época. Babenco também foi indicado aos dois prêmios, mas não levou.

"Fico até triste em dizer que esse filme é tão atual. Queria que todos esses temas - tortura, preconceito, insanidade humana - já tivessem acabado no mundo. Mas a gente olha fotografias de ontem nos jornais de hoje e vê aquelas histórias horrorosas sobre tortura no exército americano [ela se refere ao escândalo de Abu Gharib, no Iraque] e coisas terríveis sendo ditas sobre  homossexualidade na sociedade", lamentou a atriz.

Indagada sobre, se o filme fosse refeito hoje, os diálogos dos atores brasileiros seriam em português e não em inglês como na versão original, Sonia disse achar que seria a mesma coisa. "Infelizmente, acho que seria feito em inglês mesmo. Você vê aquelas fotografias de tortura de presos e o fato de aquilo ter sido publicado na América foi muito importante. Assim como no Brasil foi importante denunciar a ditadura", defende. "Uma das pessoas que me fizeram ser atriz é uma das desparecidas [da ditadura] até hoje. O nome dela é Leni Guariba, foi a primeira pessoa com quem fiz teatro", lembrou.

Mas rever o filme não trouxe só memórias tristes à estrela brasileira. Espécie de contraparte cômica às passagens do filme ambientadas na cadeia, Sonia se divide em três papeis no longa, o mais importante deles como uma cantora de cabaré sedutorade em um "filme de amor nazista" que é narrado pelo personagem de Hurt ao companheiro de cela.

"Fazer a Leni La Maison foi uma coisa fantástica. Porque enquanto o Babenco estava sofrendo naquela cela com o William Hurt e o Raul Julia, que é a parte pesada do filme, eu estava do meu lado com o [escritor Manoel] Puig, com o [produtor] David Weissman e com o Patricio Bissa, que é também figurinista e faz a homenagem a Leni La Maison no final", recorda a atriz.

"A gente cuidava do glamour, da alegria, da arte leve, e ria muito. Não sei a lembrança que o Babenco tem, mas acho que quando ele terminou a parte da cela, ele veio para dirigir a parte leve, que é o filme [dentro do filme] nazista. Depois de ter entregado a cela, que era a parte de maior responsabilidade, aquilo virou para nós todos uma válvula de escape, de alegria. Lembro sempre do Babenco fumando charuto ali e se divertindo."

O clima familiar era ainda mais profundo, segundo Sonia. Todos os figurinos que ela veste no filme foram costurados pela sua própria mãe, e a irmã mais nova, Ana Maria, acabou também fazendo uma participação na trama. "É ela queque mata o Bill [William Hurt] no final. Daí que veio o nome do filme [do Tarantino]. Ela foi quem "kill o bill" primeiro", brincou.

Quanto à sobrinha Alice Braga, filha de Ana Maria e atual queridinha de Hollywood, Sonia é econômica nos elogios. "Eu acompanho a carreira da Alice como acompanho a de todos os novos talentos dentro do cinema em qualquer parte do universo. Não dou privilégio por ser uma pessoa da minha família", afirma. "Mas tenho uma visão para os novos talentos e espero que eles aprendam com as coisas que já viram. A mãe da Alice é a maior atriz da família. Então ela já tem uma boa escola", conclui.

Por Diego Assis

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