Novo delegado-geral da Polícia Civil de SP promete combate "enérgico" à corrupção

Novo delegado-geral da Polícia Civil de SP promete combate "enérgico" à corrupção

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 10:00

Nomeado delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo na semana passada, Marcos Carneiro promete combater de maneira “enérgica” a corrupção dentro da corporação e pede apoio da população para que delitos cometidos por policiais sejam denunciados.

Em entrevista ao R7, Carneiro, que já atuou da Divisão Operacional da Corregedoria, disse que acompanhará de perto investigações referentes a má conduta policial. Para ele, a corrupção é uma “deformação de caráter”. O novo chefe da Polícia Civil no Estado afirmou ainda que a melhoria do atendimento à população está entre as prioridades da corporação. Formado em direito pela USP (Universidade de São Paulo), em 1986, Carneiro respondeu pela direção da Demacro (Departamento de Polícia Judiciária da Macro São Paulo) por um ano. Ele entrou para a Polícia Civil em 1989, como delegado de polícia, e completará 22 anos na carreira neste mês.

Delegado de classe especial, também foi chefe da Divisão de Homicídios do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa). Desde 2001, Carneiro é professor de Gerenciamento de Crises na Acadepol (Academia de Polícia Civil). Leia a seguir a entrevista:

R7 - Qual será o maior desafio do senhor à frente da Polícia Civil? O que precisa melhorar com urgência na estrutura da polícia?

  Marcos Carneiro - Nós temos duas linhas de frente: a primeira é aprimorar a qualidade das investigações para que os

inquéritos policiais sejam de boa qualidade, possibilitando que, na Justiça, tenha o julgamento das pessoas envolvidas em crimes. Isso é o primeiro ponto fundamental. A segunda coisa é o melhor atendimento ao público que procura a polícia para registro de ocorrências. Essas são as duas frentes que nós vamos centralizar para melhorar.

R7 - Como melhorar o atendimento à população nos distritos policiais?

Marcos Carneiro - Nós vamos tentar otimizar os recursos humanos e materiais. Nós queremos implantar nas delegacias que ficam abertas 24 horas, no mínimo, cinco equipes para atender ao público. Se não houver essa estrutura mínima, o policial fica sobrecarregado e não consegue prestar um atendimento de boa qualidade, e nós vamos sempre ficar num ciclo vicioso. O que nós queremos é ter unidades com estrutura capaz de suportar a demanda da sociedade (...) Hoje, algumas unidades ainda não têm completas as cinco equipes e acabam improvisando o modo de agir. O que nós vamos tentar fazer agora é racionalizar isso aí para que a população tenha um serviço de qualidade. Além disso, vamos efetivar o uso da delegacia eletrônica e fazer um estudo da possibilidade de a Polícia Civil compartilhar a informação colhida pela Polícia Militar no boletim de ocorrência.

R7 - A principal reclamação da população é a demora no atendimento nas delegacias. Como torná-lo mais rápido e eficaz?

Marcos Carneiro - Tendo essas equipes, tendo essa estrutura, nós acreditamos que isso vai ter uma melhora. Dentro do estudo que vai ser feito desse compartilhamento do registro pela própria Policia Militar também quem vai ganhar é a população. Porque muitas vezes o que o cidadão quer é só registrar o fato naquele momento.

R7 - O senhor pretende apertar o cerco contra policiais corruptos?

Marcos Carneiro - Isso para nós é ponto de honra. Eu sou oriundo da Corregedoria, e trabalhei na parte mais difícil, que é a operacional. Ou seja, a parte que tem que prender o policial em flagrante na rua, quando ele está cometendo o crime. Nós vamos fortalecer o trabalho da Corregedoria. Para a sociedade, não existe nada pior do que o policial bandido. Isso é inadmissível. Nós não arredamos um milímetro das nossas convicções. A sociedade não merece que a instituição que existe para proteger a lei, para salvá-la, tenha em seus quadros policiais bandidos, policiais de mau-caráter.

O que nós destacamos é que não existe na Polícia Civil de São Paulo uma banda podre. O que existe são policiais podres. Poucos, uma minoria, que cabe à própria polícia expurgar de seus quadros, mas a grande maioria dos policiais são pessoas corretas, honestas, trabalhadoras. O policial que age voltado para o crime, para o interesse da própria torpeza, esse não vai ficar no quadro da polícia. A polícia vai ser muito enérgica com relação ao crime de corrupção. E com o apoio da delegacia-geral, que vai estar presente toda vez que a Corregedoria exigir. O próprio delegado-geral vai se fazer presente, se for necessário.

R7 - O que o senhor acha que leva um agente à corrupção? Seria o salário, a cultura, a falta de treinamento?

Marcos Carneiro - O policial que comete crime - e aí tem uma gama enorme de crimes, mas principalmente o de corrupção - já entra na polícia com uma deformação de caráter. Esse policial, muitas vezes, tenta obter lucro com o crime fazendo extorsão contra criminosos. Na cabeça dele, o dinheiro do bandido veio de forma ilícita, de forma irregular. Portanto, se eu me apropriar desse dinheiro, eu estarei me apropriando de um dinheiro que já tem a origem ilícita. É um raciocínio completamente errado, mas é o que autoriza ele a querer agir dessa forma. Ele pensa: “Eu não tô tirando dinheiro do cidadão. Eu tô tirando dinheiro de um bandido”. Esse raciocínio dá margem para que, amanhã, ele tente extorquir o comerciante, o funcionário, a dona de casa (...) O mais importante é a população confiar na polícia e denunciar os casos de corrupção.

R7 - Como o senhor pretende atuar no combate ao crime organizado?   Marcos Carneiro - Já existe a estrutura do Deic (Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado), que é voltado especificamente para o combate ao crime organizado. O Deic vai estreitar o trabalho com o Dipol, que é o departamento de inteligência. Embora sejam duas coisas distintas - investigação e inteligência -, a inteligência complementa a investigação e essa cultura de informação será melhorada.

R7 - O ano passado foi marcado por arrastões a prédios e assaltos a joalherias em shoppings. Como a polícia vai agir para que essa onda de crimes não se repitam?

Marcos Carneiro - Novamente com o trabalho da inteligência. A inteligência começa a detectar que é uma onda de crimes em razão da oportunidade. O crime é muito dinâmico. Tem épocas em que o crime mais acentuado é roubo a banco. Depois, passa a ser sequestro. Depois, roubo de carga. Essa movimentação dos criminosos é observada. No caso de roubo a condomínio, se percebeu que não havia um cuidado com a segurança dos condomínios. Depois, verificou-se que, em shoppings, não havia segurança, porque a orientação era não reagir a ladrões armados. A partir daí, começa a reação para que o crime seja evitado. Nessa mesma linha, é o trabalho de investigação associado com inteligência.

R7 - Vai mudar a maneira de se fazer segurança nos shoppings?

Marcos Carneiro - A polícia vai estreitar [a comunicação] com todos os órgãos. A gente tem feito até um trabalho com o pessoal ligado à administração de condomínios, mas o trabalho da polícia é de caráter genérico. Não dá para imaginar a polícia atuando em um único shopping. Isso não pode ser feito, porque pode parecer que a polícia está atendendo a um interesse particular. O trabalho da polícia para toda a sociedade. Só que, por ser genérico, acaba de uma forma ou de outra atingindo também o interesse particular. Não que esse seja o objetivo. O objetivo é genérico.

R7 - A polícia vai aumentar investimento em tecnologia? Em que áreas vai avançar?

Marcos Carneiro - É uma tendência, principalmente na área de informática e na coleta das informações de boletins de ocorrências. O número de dados colhidos é maior, então, possibilita melhor investigação. Nós vamos focar na investigação de forma que o investigador vá a campo e que o relatório dele seja tão importante quanto o depoimento de uma testemunha que vai à delegacia (...) Nós temos vários projetos voltados para a parte operacional. Nós querermos desburocratizar a polícia, com menos chefias e mais polícia operacional em campo.    

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