O Ministério Público de São Paulo vai pedir ao Grupo de Atuação Especial de Controle Externo da Atividade Policial (Gecep), da Promotoria de Justiça, que apure a conduta da Polícia Militar durante uma briga entre skinheads e punks que deixou um morto e um ferido grave em frente a uma casa de shows em Pinheiros, na Zona Oeste da capital paulista, na noite de 3 de setembro. A promotora Mildred de Assis Gonzalez solicitará a análise de um novo vídeo que mostra a atuação da PM no confronto para saber se ela cometeu alguma irregularidade ou omissão.
As imagens mostram o que aconteceu perto do Carioca Club, na Rua Cardeal Arcoverde, onde estava programada a apresentação de uma banda de rock. Nas cenas é possível ver os grupos rivais caminhando pela calçada, a concentração deles numa esquina, um rojão ser atirado em meio à multidão e a chegada de dois policiais militares da Ronda Ostensiva com Apoio de Motocicletas (Rocam), que estacionam na contramão, mas se mantêm à distância de onde ocorreu a briga, apenas observando a confusão. O vídeo mostra ainda algumas pessoas correndo. Um dos policiais de moto aborda um suspeito, mas ele e o colega permanecem a maior parte do tempo vendo o corre-corre de longe. Carros também aceleram para escapar da confusão. Policiais com motos só vão ao local após o fim do confronto quando também aparecem carros policiais.
Em seguida, aparecem outros policiais militares caminhando pela calçada em direção à boate. Por fim, a câmera flagra a passagem do carro de resgate, que deixa a frente da casa noturna.
A própria Polícia Militar havia confirmado em entrevistas ter sido alertada pela organização da boate sobre o risco de o conflito ocorrer por causa da apresentação do britânico Cock Sparrer, que tem fãs punks e skinheads. Ao todo, 200 pessoas atenderam ao chamado pela internet para o enfrentamento.
Mesmo tendo sido avisada sobre o agendamento do confronto com quase uma semana de antecedência e ter realizado patrulhamentos ostensivos na região, a PM não conseguiu evitar a briga que resultou num assassinato e numa lesão corporal grave. O punk Jonhi Raoni Falcão Galanciak, de 25 anos, foi esfaqueado e morto. O skinhead Fábio dos Santos Medeiros, de 21 anos, levou pauladas na cabeça e acabou internado no Hospital das Clínicas. Ele já teve alta. O skinhead apontado como assassino de Galanciak está preso. O punk agressor de Medeiros ainda não foi identificado.
A promotora Mildred Gonzalez, que acompanha a investigação da Polícia Civil sobre o crime, quer esclarecer algumas dúvidas que têm sobre a atuação da PM:
1) Por que a PM não conseguiu impedir a pancadaria mesmo sabendo que ela poderia acontecer?
2) Por que a PM não comunicou a Polícia Civil que poderia ocorrer algum conflito? A Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) do Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) costuma avisar a Polícia Militar sobre riscos de brigas.
3) Por que os dois policiais militares que chegam nas motos para atender o chamado sobre a briga ficam observando o local onde ocorreu a confusão à distância sem interferir.
Skinheads e punks brigaram em frente à casa
noturna em Pinheiros (Foto: Roney Domingos/G1)
Novo vídeo
O MP vai encaminhar ao Gecep o vídeo com a atuação da PM para averiguar se existiu algum ato irregular ou omisso e apurar eventuais responsabilidades dos policiais militares envolvidos na ação. Se o Gecep achar necessário, ele poderá instaurar algum procedimento para apurar o caso, afirmou a promotora Mildred Gonzalez ao G1 .
Após assistir ao vídeo, a promotora afirmou que a conduta dos policiais tem de ser analisada pelo Gecep. Verifico que as motos observaram que estava acontecendo algo, mas não quiseram se intrometer num primeiro momento e não sabemos porque saem de lá. Depois retornam duas motos sem sabermos se são os mesmos policiais. Vou entrar em contato também com a delegada [Margarette Barreto, da Decradi] para saber se esses policiais foram ouvidos e identificados.
No entendimento de Mildred, a PM deveria ter feito um trabalho de policiamento preventivo mais eficaz. Nesse caso, não era um perigo abstrato, era um perigo concreto diante das ameaças da briga que poderia ocorrer e que na verdade ocorreu. É indiscutível que deveria ter tido um policiamento na frente da casa noturna.
Polícia Militar
Procurado para comentar as declarações da promotora, o capitão Cleodato Moisés, porta-voz do Comando de Policiamento da PM, afirmou que não era possível ter deixado um carro de polícia na frente do Carioca Club. A PM sabia que poderia haver um conflito, mas não sabia onde isso poderia ocorrer. A PM entende que procedimento foi o correto e o patrulhamento chegou rapidamente. A conduta da polícia de trabalho preventivo foi cumprida. Foram mandadas três patrulhas da Rocam e dois carros da Força Tática, disse o capitão Moisés.
O capitão Moisés não viu o vídeo que mostra dois policiais da Rocam durante a briga entre skinheads e punks no dia 3, mas foi informado sobre o seu conteúdo. Indagado se a atuação deles foi adequada, o oficial respondeu que sim. Eles foram os primeiros a chegar ao local da briga, visualizaram a movimentação e pediram apoio, depois se dirigiram para o tumulto com as viaturas e evitaram um mal maior. Os grupos rivais foram dispersos e lá estavam duas pessoas caídas, quatro facas foram localizadas e oito pessoas acabaram detidas por suspeita de participação no confronto.
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