O público é voyeur no Iraque de "Guerra ao Terror"

O público é voyeur no Iraque de "Guerra ao Terror"

Fonte: Atualizado: sábado, 29 de março de 2014 às 03:27

Toda guerra é estúpida, mas "Guerra ao Terror" começa com uma epígrafe que diz algo diferente: "War is a drug", ou seja, guerra é uma droga, um entorpecente, algo que dá prazer, vicia e pode, eventualmente, matar. A frase é de Chris Hedges, jornalista americano, correspondente de guerra, com experiência de coberturas em mais de 50 países.

A observação de Hedges não diz respeito especificamente à guerra do Iraque, mas ajusta-se com perfeição ao personagem principal de "Guerra ao Terror", o sargento William James (Jeremy Renner), que integra uma unidade do Exercito americano em Bagdá especializada em desarmar bombas.

James aparece na segunda cena do filme. Ele chega para substituir o sargento Matt Thompson (Guy Pierce), que vai pelos ares na abertura da história. Faltam 38 dias para terminar a missão desse grupo, formado também por outros dois militares, o sargento J.P. Sanborn (Anthony Mackie), chefe do trio, e o soldado Owen Eldridge (Brian Geraghty), que dá cobertura aos dois.

Vamos acompanhar, ao longo de 131 minutos, a saga deste trio em Bagdá. Eles são os invasores, cercados de inimigos, em missão supostamente "pacificadora". Naturalmente, não questionam muito o sentido do que estão fazendo – são militares, com uma missão a cumprir. Mas parece claro, pela forma como a diretora Kathryn Bigelow descreve os percalços do seu esquadrão antibombas, que nada disso faz sentido.

Bigelow está recebendo merecida aclamação pelo filme realizou. Com baixo orçamento, estimado em US$ 11 milhões, optou por uma produção quase sem efeitos especiais, narrada em baixa velocidade, quase no ritmo da respiração dos soldados.

Numa das cenas mais impressionantes – e plasticamente belas – do filme, que conta com participação especial de Raph Fiennes, o trio enfrenta uma emboscada no deserto. Sem visualizar direito os guerrilheiros, os americanos só os enxergam pela mira dos fuzis. Cada tiro demora alguns segundos para chegar ao alvo – e somos convidados a acompanhar este interminável tiroteio na sua velocidade real. Da agonia inicial passamos a um estado de contemplação e, com o tempo, de curiosidade voyeurística – a guerra vicia...

Trata-se, é fato, de uma visão americana da guerra, que ignora, de maneira geral, os danos e misérias causados ao povo iraquiano. Mas "Guerra ao Terror" está longe de ser condescendente com a posição americana. A coragem do esquadrão antibombas, especialmente a do especialista em desarmá-las, é admirável, como deixa transparecer Bigelow, mas concordar com essa visão não significa necessariamente endossar a guerra.

"Guerra ao Terror" chega aos cinemas no Brasil precedido por grande aclamação em festivais e associações de críticos, roteiristas e diretores nos Estados Unidos e na Inglaterra. A indicação ao Oscar em oito categorias (filme, direção, roteiro, fotografia, ator, montagem, som etc), junto com o gigantesco "Avatar", sinaliza que Bigelow conseguiu colocar realmente o dedo na ferida.

Por: MAURICIO STYCER

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