Operários dizem ter serrado colunas de edifício que caiu no Rio

Operários dizem ter serrado colunas de edifício que caiu

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 9:13

Depoimentos dados à polícia por operários que trabalharam na reforma do nono andar do Edifício Liberdade, na Cinelândia, mostram que foram derrubados pelo menos um pilar e paredes de concreto armado. O Liberdade foi um dos três prédios que desabaram no dia 25 de janeiro, provocando a morte de 17 pessoas e deixando cinco desaparecidas.

Segundo o depoimento do operário Wanderley Muniz da Silva — a que O GLOBO teve acesso —, "todas as paredes foram derrubadas, à exceção das da sala dos arquivos da T.O. e de parte da parede que dividia as salas do lado esquerdo do banheiro". Wanderley diz que o andar "virou um salão aberto, à exceção de uma coluna de 20 centímetros que suportava o barbará, próximo à porta do banheiro".

Ele afirmou ainda que havia uma coluna na outra parede (indicada pelo número 19 na planta que consta do inquérito policial). Segundo ele, "era de concreto armado, estruturada com trançado de ferragens grossas". Em seguida, disse que "tinha uma estrutura de coluna com seis vergalhões verticais, dispostos em pares, aos quais era fixada a trama de ferro da parede". Por fim, afirmou "que essa parte que demonstrava ser uma coluna mais resistente foi derrubada e serrados seus ferros do teto e da base".

No depoimento de Wanderley, consta ainda a informação de que paredes de concreto armado também foram derrubadas.

Dono de empresa diz que não sabia

Por considerar conflito de competência no caso do desabamento dos prédios no Centro, o juízo da 31ª Vara Criminal remeteu o inquérito iniciado pela 5ª DP (Gomes Freire) para a Polícia Federal, que, além de apurar responsabilidades nos danos causados ao Teatro Municipal, está investigando a queda dos prédios e as mortes.

A obra no nono andar foi feita sob responsabilidade da empresa Tecnologia Organizacional (T.O.), que também ocupava o 3º, o 4º, o 6º, o 10º e o 14º andares do prédio 44 da Avenida Treze de Maio. O presidente da T.O, Sérgio Alves, afirmou que não havia pilares internos no nono andar:

— O andar era um vão livre, com pilares externos. E já tínhamos feito obras no mesmo edifício no terceiro, quarto e sexto andares. O que fizemos no nono foi replicar o que havíamos feito nesses outros pavimentos. Por isso, não houve necessidade de um acompanhamento de um engenheiro ou um arquiteto. Era uma reforma, não uma obra, e ela foi comunicada ao síndico. Não tenho informações de profissionais que tiraram pilares ou vigas. Não consigo conceber essa ação. E não tenho conhecimento desses depoimentos.

O encarregado da obra, Gilberto Figueiredo, declarou à polícia que esteve ausente do local entre os dias 19 e 24 de janeiro (véspera do desabamento). Ele afirmou ainda que, quando retornou, a "estrutura da coluna 19 já não se encontrava no local, não tendo visto qualquer ferragem pendendo do teto ou caindo do chão". Por isso, ele pôde concluir "que seus colegas a tenham derrubado".

Outro operário da obra, Alexandro da Silva Fonseca também apontou, em seu depoimento, a derrubada de paredes de concreto armado.

Segundo a comissão técnica do Clube de Engenharia formada para acompanhar o caso, a primeira leitura dos depoimentos de operários leva a crer que houve quebra de estrutura de concreto armado e que isso pode ter causado o desabamento.

— Pelos depoimentos, existe a probabilidade de que estruturas de concreto armado que foram demolidas sustentavam parte dos andares superiores. O certo é que essas estruturas não deveriam ter sido derrubadas — disse o vice-presidente do clube, Manoel Laça, acrescentando que a comissão é formada por quatro engenheiros especialistas em cálculo estrutural.

O delegado federal Fábio Scliar, da Delegacia de Repressão a Crimes contra o Meio Ambiente e Patrimônio Histórico, que assumiu o inquérito vindo da 5ª DP, diz haver depoimentos de pedestres informando que a primeira coisa a cair foi o aparelho de ar-condicionado do nono andar e, depois, a parede do mesmo pavimento. Em seguida, conta ele, os andares de cima se curvaram e desabaram sobre outros prédios atingidos. Para ele, os depoimentos dos operários da obra do nono andar são bastante relevantes.

— Com o depoimento do Wanderley, ficam explícitas as responsabilidades. Vamos nos aprofundar nas investigações — disse.
Scliar fará hoje acareação entre os vários empregados da obra:

— Há contradições que precisam ser esclarecidas. Penso que estamos à frente para esclarecer os fatos. São pessoas humildes que estão submetidas a uma linha hierárquica. Mas, como profissionais, podem atingir vergalhões de uma viga e continuar o trabalho? Em tese, o profissional sabe que não deve mexer nas estruturas.

No fim da tarde desta terça-feira, o delegado terá um encontro com representantes do Instituto de Criminalística Carlos Éboli para tratar do laudo.



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