Palco de ato com Lula e Dilma, Candelária leva marca das Diretas

Palco de ato com Lula e Dilma, Candelária leva marca das Diretas

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 10:19

O cenário escolhido para a estreia do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no palanque da candidata petista ao Planalto, Dilma Rousseff, já foi palco de grandes comícios políticos no Rio de Janeiro. Da Candelária à Cinelândia, milhares de pessoas se reuniram em 16 de fevereiro de 1984 para a primeira passeata das Diretas Já, pelo direito de votar para presidente.

Nesta sexta-feira (16), o governador Sérgio Cabral (PMDB) acionou os 16 partidos da coligação Juntos pelo Rio para mobilizar a população pela corrida da candidata do PT ao Planalto. “É quase um lugar místico. Por ser no centro do Rio, tem grande apoio popular, é um local de passagem de milhares todos os dias. É simbólico em termos políticos”, disse ao   iG   o cientista político Humberto Dantas, consultor do Voto Consciente. O roteiro foi usado diversas vezes na luta pelas Diretas Já, que começou em 1983 e ganhou força no ano seguinte. Os manifestantes voltaram ao local em 21 de março pelo apoio à votação da proposta de Emenda Constitucional Dante de Oliveira no Congresso, que foi derrotada. Mas, em 10 de abril, ficou registrada a maior manifestação pública em frente à Igreja da Candelária, que reuniu milhares. A musa das Diretas, a cantora Fafá de Belém, conseguiu fazer com que o autor da emenda das Diretas subisse ao palanque. Ele havia sido barrado pela segurança, mas Fafá o apresentou como membro do seu grupo musical.

Foi na Cinelândia, em 1989, que Leonel Brizola, então candidato à Presidência pelo PDT, fez um comício com cerca de 500 mil pessoas. Brizola liderava as pesquisas, mas acabou em terceiro lugar na eleição. Perdeu para Fernando Collor de Mello, que derrotou no segundo turno o presidente Lula.

“A Cinelândia consagrou o comício das Diretas. Por muito tempo, lá era a ‘Brizolândia’, onde se reunia um pessoal fanático pelo Brizola”, relembrou o historiador Marco Antonio Villa, da Ufscar. Dilma deu início a sua carreira política no PDT de Brizola, um dos fundadores do partido. Foi só em 2000 que a ex-ministra entrou no PT.

Recentemente, a Cinelândia foi palco de uma caminhada pelos royalties do petróleo organizada por Cabral. A manifestação seguiu o mesmo percurso que será percorrido hoje e encerrado com um ato na Cinelândia. A aposta em grandes comícios é um dos principais pontos da estratégia traçada pela campanha petista. Antes da estreia no horário eleitoral gratuito no rádio e na televisão, em agosto, Lula deve acompanhar Dilma em eventos do gênero no Paraná e em São Paulo. “Se o presidente e Dilma subirem no palanque no Anhangabaú, em São Paulo, fica clara a intenção de remeter a população aos tempos da luta pela democracia”, avaliou Dantas.

Lula participou, em janeiro de 1984, de comício pelas Diretas Já na Praça da Sé, região central de São Paulo. Em Curitiba, a ideia é que o presidente leve a candidata para a região da Boca Maldita, no centro da cidade, onde em janeiro de 1984 o movimento nacional da campanha pelas Diretas Já começou.

Embora tenha sido palco de diversas manifestações democráticas nos anos 80, a Candelária também deu abrigo a outros movimentos. Em abril de 1964, a Marcha de Familia com Deus pela Liberdade reuniu os que comemoravam a queda do então presidente João Goulart. O movimento foi marcado por uma série de passeatas de setores conservadores da sociedade contra Jango.

Mas é num massacre de jovens que reside boa parte da memória recente desse ponto do centro do Rio. Trata-se da Chacina da Candelária, ocorrida em julho de 1993. “Hoje, a Candelária remete ao massacre. As pessoas associam a história do local ao triste episódio”, disse Villa.

Em junho de 1968, a passeata dos Cem Mil contra a ditadura militar tomou conta do trajeto. A manifestação contou com a participação de intelectuais, estudantes e artistas e reuniu 100 mil pessoas, o número que dá nome ao ato. Foi em frente à igreja da Candelária que o movimento parou para ouvir o líder estudantil Vladimir Pereira cobrar o fim do regime e violência policial.

A passeata durou cerca de três horas e terminou em frente à Assembléia Legislativa. Meses depois, o governo baixou o AI-5, intensificando a represessão. Entre os participantes da caminhada estavam, entre outras pessoas, os músicos Caetano Veloso e Chico Buarque,  e o deputado federal do PV, Fernando Gabeira.  

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