Polícia pedirá ajuda a psicólogos para ouvir colegas de aluno morto

Polícia pedirá ajuda a psicólogos para ouvir colegas de aluno morto

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:26

Revóver calibre 38 utilizado por aluno no ABC

(Foto: Marcelo Mora/G1)

  A Polícia Civil em São Caetano do Sul, no ABC, vai pedir a ajuda de psicólogos para ouvir os alunos que viram um colega de classe atirar numa professora e se matar em seguida na escola onde estudava, na tarde de quinta-feira (22). Isso só deverá ocorrer a partir da próxima semana. O estudante David Mota Nogueira, de 10 anos, baleou a professora Rosileide Queiros de Oliveira, de 38 anos, dentro de uma sala de aula da 4ª série do ensino fundamental da Escola Municipal Alcina Dantas. Em seguida, ele disparou contra a própria cabeça e morreu.

O motivo do crime ainda é investigado, mas não está descartada a possibilidade de o aluno ter sido vítima de bulluying. Também será apurado se a educadora recebeu alguma ameaça do garoto.

De acordo com o delegado titular do município, Francisco José Alves Cardoso, as quase 25 crianças da escola ficaram abaladas com o que presenciaram e por esse motivo ainda não têm condições psicológicas de prestarem um depoimento. O caso é apurado pela delegada Lucy Mastellini Fernandes, do 3º Distrito Policial de São Caetano.

  “A polícia vai ouvir todas as crianças da sala do David na condição de testemunhas. Lamentavelmente elas estão chocadas com o que viram. Por esse motivo vai ser indispensável à presença de psicólogos e até mesmo psiquiatras para acompanhar o que elas têm a dizer”, afirmou o delegado Francisco Cardoso na manhã desta sexta-feira (23) ao G1 .

“O que deixa a gente pasmo é a idade do autor: dez anos. E ele ainda se matou em seguida. Isso não é comum para uma criança de dez anos. Estamos apurando a motivação do crime. Será investigado se o aluno sofreu bullying e quis se vingar ou professora sofreu ameaça”, disse o delegado.

Segundo os investigadores do 3º DP, alguns colegas de classe relataram informalmente que David estaria sofrendo humilhações porque teria algum defeito físico. “Falaram que ele seria manco e por isso tiravam sarro dele”, confirmou Cardoso.

Em relação à professora Rosileide, o delegado afirmou que a polícia irá ouvi-la também, nem que seja no Hospital das Clínicas em São Paulo onde ela está internada. A bala que atingiu a mulher pelas costas teria ficado alojada na região lombar. Ela não corre risco de morrer.

Perfil psicológico

No entendimento da investigação policial, o mais importante no momento é traçar um perfil psicológico de David para entender o que o levou a atirar na professora. “Tivemos informações de que o aluno não gostava da professora porque ela seria rígida e ele tímido, mas não é uma informação concreta”, disse o delegado Cardoso.

O revólver calibre 38 usado para atirar na professora e que David usou contra ele, mais o desenho feito pelo aluno, retratando ele segurando duas armas e um professor, e que estava dentro de uma mochila, serão periciados. “Psicólogos terão de ver esse desenho para tentar nos dizer o que pode ser interpretado dele, saber se sofria de depressão etc”, afirmou Cardoso. “Como aluno ele era regular, com notas 5, segundo o boletim escolar”.

Colegas de classe de David relataram à polícia que o garoto era tímido. Uma outra informação que chegou à investigação será apurada. “Os investigadores contaram que a mãe do menino teria dito que o filho chorou ao falar algo relacionado à morte no último domingo [18]. Precisamos saber o que é isso exatamente”.

Pai será responsabilizado

A arma usada por David é do pai dele, o guarda-civil municipal Milton Evangelista Nogueira. Em conversa informal à polícia, ele relatou que notou a falta do revólver particular e foi à escola dos filhos atrás dele. Mas tanto David quanto o outro filho, de 14 anos, negaram ter pego a arma. Quando foi embora em direção a uma delegacia para registrar a ocorrência do sumiço do revólver soube que o filho mais novo havia atirado na professora.

David havia entrado na escola com a arma escondida dentro da mochila. Depois pediu para a professora para ir ao banheiro, quando voltou à classe, apontou o revólver para Rosileide e atirou nela. Em seguida, foi para uma escada e atirou na própria cabeça. Houve correria entre alunos e funcionários da escola.

O guarda Nogueira será responsabilizado por ter deixado a arma ao alcance de David e por não tê-la guardado em lugar seguro, segundo Cardoso. “Ele irá responder criminalmente por negligência de acordo com a lei do desarmamento. Caso seja considerado culpado, a pena será de até dois anos de reclusão”, disse o delegado.

Para o delegado, o pai de David também deveria ser indiciado pela morte do filho e pela tentativa de assassinato da professora. “Mas quem irá decidir isso é a delegada do caso”, afirmou Cardoso.

Procurada nesta manhã, a delegada Lucy Fernandes afirmou que ainda apura as eventuais responsabilidades pelo crime e não poderia antecipar se o pai de David seria indiciado ou não. “O inquérito foi instaurado e tenho um prazo de no mínimo um mês para concluí-lo. Ainda é cedo para falar. O pai precisa ser ouvido, assim como a professora e os alunos”, disse Lucy ao G1 .

As câmeras do circuito de segurança da escola serão analisadas pela polícia para saber se elas gravaram a ação de David. Pelo fato de ser criança, a delegada afirmou que o caso será levado posteriormente para um promotor e um juiz da Vara da Infância e Juventude.

O G1 não conseguiu localizar o guarda Nogueira para comentar o assunto. Na quinta ele não quis falar com a imprensa quando foi à delegacia. O corpo de seu filho será enterrado nesta tarde desta sexta em São Caetano do Sul. As aulas na escola foram suspensas temporariamente.

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