Revóver calibre 38 utilizado por aluno no ABC
(Foto: Marcelo Mora/G1)
A Polícia Civil em São Caetano do Sul, no ABC, vai pedir a ajuda de psicólogos para ouvir os alunos que viram um colega de classe atirar numa professora e se matar em seguida na escola onde estudava, na tarde de quinta-feira (22). Isso só deverá ocorrer a partir da próxima semana. O estudante David Mota Nogueira, de 10 anos, baleou a professora Rosileide Queiros de Oliveira, de 38 anos, dentro de uma sala de aula da 4ª série do ensino fundamental da Escola Municipal Alcina Dantas. Em seguida, ele disparou contra a própria cabeça e morreu.
O motivo do crime ainda é investigado, mas não está descartada a possibilidade de o aluno ter sido vítima de bulluying. Também será apurado se a educadora recebeu alguma ameaça do garoto.
De acordo com o delegado titular do município, Francisco José Alves Cardoso, as quase 25 crianças da escola ficaram abaladas com o que presenciaram e por esse motivo ainda não têm condições psicológicas de prestarem um depoimento. O caso é apurado pela delegada Lucy Mastellini Fernandes, do 3º Distrito Policial de São Caetano.
A polícia vai ouvir todas as crianças da sala do David na condição de testemunhas. Lamentavelmente elas estão chocadas com o que viram. Por esse motivo vai ser indispensável à presença de psicólogos e até mesmo psiquiatras para acompanhar o que elas têm a dizer, afirmou o delegado Francisco Cardoso na manhã desta sexta-feira (23) ao G1 .
O que deixa a gente pasmo é a idade do autor: dez anos. E ele ainda se matou em seguida. Isso não é comum para uma criança de dez anos. Estamos apurando a motivação do crime. Será investigado se o aluno sofreu bullying e quis se vingar ou professora sofreu ameaça, disse o delegado.
Segundo os investigadores do 3º DP, alguns colegas de classe relataram informalmente que David estaria sofrendo humilhações porque teria algum defeito físico. Falaram que ele seria manco e por isso tiravam sarro dele, confirmou Cardoso.
Em relação à professora Rosileide, o delegado afirmou que a polícia irá ouvi-la também, nem que seja no Hospital das Clínicas em São Paulo onde ela está internada. A bala que atingiu a mulher pelas costas teria ficado alojada na região lombar. Ela não corre risco de morrer.
Perfil psicológico
No entendimento da investigação policial, o mais importante no momento é traçar um perfil psicológico de David para entender o que o levou a atirar na professora. Tivemos informações de que o aluno não gostava da professora porque ela seria rígida e ele tímido, mas não é uma informação concreta, disse o delegado Cardoso.
O revólver calibre 38 usado para atirar na professora e que David usou contra ele, mais o desenho feito pelo aluno, retratando ele segurando duas armas e um professor, e que estava dentro de uma mochila, serão periciados. Psicólogos terão de ver esse desenho para tentar nos dizer o que pode ser interpretado dele, saber se sofria de depressão etc, afirmou Cardoso. Como aluno ele era regular, com notas 5, segundo o boletim escolar.
Colegas de classe de David relataram à polícia que o garoto era tímido. Uma outra informação que chegou à investigação será apurada. Os investigadores contaram que a mãe do menino teria dito que o filho chorou ao falar algo relacionado à morte no último domingo [18]. Precisamos saber o que é isso exatamente.
Pai será responsabilizado
A arma usada por David é do pai dele, o guarda-civil municipal Milton Evangelista Nogueira. Em conversa informal à polícia, ele relatou que notou a falta do revólver particular e foi à escola dos filhos atrás dele. Mas tanto David quanto o outro filho, de 14 anos, negaram ter pego a arma. Quando foi embora em direção a uma delegacia para registrar a ocorrência do sumiço do revólver soube que o filho mais novo havia atirado na professora.
David havia entrado na escola com a arma escondida dentro da mochila. Depois pediu para a professora para ir ao banheiro, quando voltou à classe, apontou o revólver para Rosileide e atirou nela. Em seguida, foi para uma escada e atirou na própria cabeça. Houve correria entre alunos e funcionários da escola.
O guarda Nogueira será responsabilizado por ter deixado a arma ao alcance de David e por não tê-la guardado em lugar seguro, segundo Cardoso. Ele irá responder criminalmente por negligência de acordo com a lei do desarmamento. Caso seja considerado culpado, a pena será de até dois anos de reclusão, disse o delegado.
Para o delegado, o pai de David também deveria ser indiciado pela morte do filho e pela tentativa de assassinato da professora. Mas quem irá decidir isso é a delegada do caso, afirmou Cardoso.
Procurada nesta manhã, a delegada Lucy Fernandes afirmou que ainda apura as eventuais responsabilidades pelo crime e não poderia antecipar se o pai de David seria indiciado ou não. O inquérito foi instaurado e tenho um prazo de no mínimo um mês para concluí-lo. Ainda é cedo para falar. O pai precisa ser ouvido, assim como a professora e os alunos, disse Lucy ao G1 .
As câmeras do circuito de segurança da escola serão analisadas pela polícia para saber se elas gravaram a ação de David. Pelo fato de ser criança, a delegada afirmou que o caso será levado posteriormente para um promotor e um juiz da Vara da Infância e Juventude.
O G1 não conseguiu localizar o guarda Nogueira para comentar o assunto. Na quinta ele não quis falar com a imprensa quando foi à delegacia. O corpo de seu filho será enterrado nesta tarde desta sexta em São Caetano do Sul. As aulas na escola foram suspensas temporariamente.
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