Processo detalha como advogados de Nem da Rocinha tentaram subornar PMs

Processo detalha como advogados de Nem da Rocinha tentaram subornar PMs

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:11

Mario Hugo Monken

A sentença da 39ª Vara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, que absolveu o traficante Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem da Rocinha, da acusação do crime de corrupção por ter supostamente oferecido dinheiro a PMs do Batalhão de Choque na ocasião de sua prisão, em 10 de novembro de 2011, na Lagoa, na zona sul carioca, traz detalhes sobre como seus advogados tentaram subornar PMs para que o carro onde o criminoso estava escondido não fosse apreendido.

De acordo com os autos, assim que abordaram o Corolla em que o chefe do tráfico na Rocinha estava escondido no porta-malas, os policiais disseram que o veículo seria revistado. Naquele momento, eles ainda não sabiam que Nem estava no carro.

Leia também: Polícia prende o traficante Nem da Rocinha

Um dos advogados que estava no Corolla, Luiz Carlos Cavalcanti Azenha, teria questionado os policiais se \"não haveria uma maneira melhor de resolver isso\".

Azenha teria dito ainda: \"Vou dar um papo reto, a mala tá abarrotada de dinheiro, tem real, euro\". O dinheiro estrangeiro, segundo relato do próprio advogado na época, seria proveniente de evasão de divisas. Luiz Carlos ainda teria falado: \" É só você falar quanto você quer de dinheiro. É só dizer o valor\".

Ao saber da suposta evasão de divisas, um dos PMs do Choque determinou que todos fossem para a sede da PF (Polícia Federal). No caminho, no entanto, uma outra pessoa que estava no Corolla, André Luís Soares da Cruz que, na ocasião, se identificou como Cònsul do Congo, solicitou aos PMs que fossem para a 15ª DP (Gávea) porque \"teria um amigo que resolveria tudo\".

Os PMs não aceitaram e um outro advogado que também estava no veículo, Demóstenes Armando Cruz questionou: \"Não tem uma melhor maneira de resolver isso? Para ficar bonito pra todo mundo, R$ 20 mil para liberar o veículo´.

Ao ouvirem a proposta, os PMs deram voz de prisão aos advogados e continuaram o trajeto para a sede da PF. No caminho, o mesmo suspeito que se identificou como Cônsul do Congo, afirmou ter feito contato com um integrante da cúpula da Polícia Civil que iria se dirigir para o local para liberá-lo.

Pouco depois, chegaram ao local um delegado da Polícia Civil e dois inspetores que queriam levar a ocorrência para a delegacia da Gávea. No entanto, em seguida, um delegado da PF também apareceu no local. Com isso, o advogado Luiz Carlos Azenha revelou que o traficante Nem estava escondido no porta-malas do Corolla, onde havia ainda ainda 50.500 euros e R$ 60 mil.

Os autos indicam que André Luiz teria conversando com Nem antes dele ser mostrado aos PMs e que o traficante teria dito que era para dar o dinheiro aos policiais.

Deixá-lo na Dutra

Constam ainda nos autos declarações do advogado Luiz Carlos de que, na noite da prisão de Nem, ele e mais dois advogados foram à Rocinha e encontraram o traficante bastante nervoso. Segundo o depoimento de Azenha, Nem não sabia se iria se entregar ou fugir e teria pedido para deixá-lo na rodovia Presidente Dutra.

Os advogados Demóstenes e Luiz Carlos foram condenados no mesmo processo a dois anos e um mês de prisão pelos crimes de corrupção ativa e favorecimento pessoal. A Justiça, no entanto, substituiu a pena por prestação de serviços à comunidade.

Nem não foi condenado porque a Justiça entendeu que não foi comprovado que o traficante eria oferecido dinheiro para ser solto apesar da declaração de um dos homens que o acompanhava.

O traficante está preso na penitenciária federal de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul.

 

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