A enxurrada que se formou na Avenida Claudio Savietto, em Mauá, no ABC, após as fortes chuvas desta terça-feira (18) fez com que o vendedor Ronei Ferreira do Nascimento, de 25 anos, tivesse que sair nadando de dentro de casa, onde a água alcançou cerca de dois metros de altura. A enchente foi tão rápida que não houve tempo dele sair antes da entrada da água. A sorte do vendedor e de outras duas pessoas foi que a porta da cozinha foi derrubada pela força da enxurrada. Por ela, eles saíram nadando. Quando começou a chover, fomos levantar algumas coisas, mas foi muito rápido. Tentamos abrir a porta da sala e ela já estava travada pela água. A água subiu até o pescoço e saí nadando dentro de casa, contou o vendedor na manhã desta quarta-feira (19). Fomos para a cozinha e a porta já estava no chão. Saímos por ali. Nos seguramos na grade da janela, do lado de fora, e saímos por cima do muro. Ficamos em uma parte alta e depois o pessoal nos puxou com uma corda.
Dentro da casa, móveis e eletrodomésticos foram arrastados pelos cômodos e tudo foi perdido. Nascimento ainda procurava nesta manhã seu CPF em meio à lama o RG ele conseguiu levar no bolso. Foi um desespero quando vi a porta travada, a água subindo cada vez mais. Deu medo, contou o vendedor. Ele mora no local há nove meses antes, vivia em uma casa em uma área mais alta do bairro, que nunca encheu. A gente sabia que enchia aqui, mas não desse jeito, afirmou.
Na casa vizinha à dele, apesar de a água ter subido um pouco menos, a destruição foi maior. Um carro foi parar dentro do quintal e, no caminho, derrubou o muro da frente. O veículo estava parado na rua e ninguém sabe quem é o dono. Nesta manhã, sete pessoas trabalhavam com enxadas na limpeza da casa seis delas vizinhas. Vim ajudar aqui, depois vou ajudar outro. Tem que ser assim. Não adianta só ficar olhando, disse a auxiliar de enfermagem Roseli Aparecida, de 47 anos.
Na casa dela a água subiu pouco e tudo já foi limpo. O mesmo aconteceu na casa da operadora de caixa Silvia de Lima Santos, de 24 anos, que também auxiliava na limpeza. Na minha casa a água voltou pelo banheiro, chegou na canela. Limpei, dormi umas três horas e vim para cá ajudar, contou ela.
Segurando na janela
A rapidez e a força da água também impressionaram a professora Meire Silva, de 42 anos. Ela e a mãe tiveram que se segurar nas janelas de casa, em meio ao alagamento, pois não conseguiram sair do imóvel. Fechamos as comportas quando começou a chover, achamos que a água não ia entrar. De repente começou a entrar. Quando vi, o rio já estava na rua, contou ela.
O irmão da professora mora no andar de cima. Entretanto, ela e a mãe não conseguiram sair para o quintal para poder subir. Pensei em subir em um balcão, mas estava dando choque. Os vidros da cozinha começaram a quebrar. Voltamos para a sala e ficamos penduradas na janela, relatou.
A professora mora desde que nasceu no local e nunca tinha visto uma enchente tão forte. Você pensa que vai morrer, minha mãe começou a chorar, disse ela. O muro dos fundos desabou e a casa e o quintal ficaram tomados por uma grossa camada de lama. O carro de Meire, que estava na garagem, ficou boiando. Na manhã desta quarta, uma montanha de entulho e lama se acumulava em frente à casa dela.
O cenário é parecido em outras ruas do bairro. Como protesto, moradores interditaram a Avenida Presidente Castello Branco, na esquina com a Avenida Claudio Savietto, com os móveis estragados, por volta das 11h. Eles impediam a passagem de veículos e aguardavam a chegada de um representante da prefeitura.
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