Os jovens Jomi e Senen Oligor se isolaram no porão de uma casa em Valência, na Espanha, por três anos e meio.
O retiro foi uma maneira um tanto depressiva de enfrentarem dificuldades financeiras. A frustração de Senen também era afetiva.
Eles passavam os dias transformando sucata em brinquedos. Com o tempo, a terapia dos irmãos começou a atrair os vizinhos.
O movimento impulsionou a dupla a criar pequenas cenas para os objetos --e arrumar caixotes para os curiosos se sentarem.
Foi assim, por acaso, que nasceu "Las Tribulaciones de Virginia". O espetáculo vai ser apresentado pela primeira vez na América Latina na Segunda Semana Internacional de Teatro de Animação do Sobrevento, que começa hoje no Espaço Sobrevento, em SP.
O espetáculo foi descoberto em 2002 por um dos curadores do Festival Internacional de Teatre Visual i de Titelles, de Barcelona. Desde então, a peça viaja o mundo.
"Nunca pensamos em fazer peças de teatro. Toda essa história tem a ver com o que estávamos passando", conta Jomi, mostrando uma caixinha de música bastante particular, que aparece em cena.
A base é uma caixa de charutos, e a bailarina, feita de alumínio, tem como suporte o tinteiro de uma caneta esferográfica.
"Não somos virtuosos da manipulação. Fazemos truques simples", afirma Jomi.
A magia da obra reside justamente na característica artesanal dos objetos criados.
Outras companhias importantes de teatro de animação compõem a programação da mostra, como a Philippe Genty e a Théâtre Manarf, da França, e a Gare Central, da Bélgica.
O Brasil marca presença com a Mútua, de Santa Catarina, e o Grupo Sobrevento, em sua primeira incursão no teatro de sombras, com o espetáculo infantil "A Cortina da Babá", baseado em texto de Virginia Woolf.
"Queremos mostrar os diferentes caminhos que o teatro de animação aponta, pelas mãos dos maiores representantes dessa linha", diz o diretor do Sobrevento, Luiz André Cherubini, também idealizador do evento.
Além de poesia visual, os espetáculos têm em comum a abordagem intimista, a fusão de linguagens e a intenção de apontar novos caminhos para o gênero.
"O teatro de objetos veio questionar o teatro de boneco tradicional e até o teatro em geral. Está na ponta de uma arte que não se prende a uma forma definida. Tem que deixar de ser visto como o primo pobre do teatro", diz Cherubini.
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