As fortes chuvas que caíram na Região Serrana do Rio, no último dia 11, não levaram apenas prejuízo e destruição para áreas urbanas. A zona rural também registrou mortes, teve serviços de abastecimento de água e energia elétrica seriamente afetados e, principalmente, plantações arrasadas.
Na localidade de Estrelinha, trabalhadores das lavouras lamentam a tragédia que deixou aqueles que vivem do plantio sem perspectiva. Com terrenos encharcados e cobertos por lama e pedras, não há previsão para que o solo seja recuperado. Além disso, a falta de luz impede que máquinas sejam utilizadas na recuperação e na irrigação da terra, pois também falta água.
Só o que temos aqui é este filete, que serve a cinco famílias ao mesmo tempo. É com essa pouca água que cozinhamos. Esta situação já dura dez dias, disse o meeiro Renildo Santos, de 35 anos. Casado e pais de dois filhos, ele conta que, antes da chuva, plantava alface, coentro e chicória. Agora, com o solo estragado, já amarga um prejuízo que avaliou em cerca de R$ 10 mil. A gente aqui não tem como recuperar isso. Estamos ficando sem dinheiro. Mas a gente vive disso e precisa lutar.
O produtor e fornecedor de verduras Marcos Antônio de Oliveira também lamenta. Teve a maior parte das estufas onde cultiva alface e rúcula hidropônica destruídas com a força das águas. Olhando para o terreno lamacento, ele relembra as características da paisagem antes da tragédia.
'Era tudo verdinho', diz produtor de verduras
A gente cultivava essa área desde 1998. Era tudo verdinho. Olha agora o que restou. Isso sem contar os que se foram. Eu, com as próprias mãos, ajudei a carregar corpos dias depois da chuva. Perdi a família inteira do meu primo, vizinhos, lembrou Marcos, que vive com a mulher e os filhos em uma casa que não chegou a ser atingida pela enxurrada. Ouvi muitos gritos de socorro naquela madrugada do temporal. Veio uma onda gigante que acabou com tudo o que encontrava pela frente. Parecia uma tsunami mesmo, descreve o produtor, que diz ter sorte de contar com um um gerador movido a óleo diesel que garante eletricidade, telefone e abastecimento de água.
Ele revela que vai ajudar cerca de 25 pessoas com quem trabalha, entre meeiros e contratados, comprando certas básicas e recolhendo roupas: Preciso fazer minha parte. Subindo mais um pouco pelo leito modificado do rio, uma casa chama a atenção pelo simples fato de estar inteira. Mas bastam alguns passos para se perceber que a situação não é tão tranquila quanto aparenta.
Já se passou 11 dias desde o temporal e ainda estamos tirando lama e barro de dentro dos cômodos. Parece que não vamos terminar nunca, disse a professora Maria de Lourdes Nogueira. Calçando botas de borracha e luvas e vassoura na mão, ela ajuda a irmã a limpar a propriedade,que costuma frequentar apenas nos fins de semana.
Essa foi a nossa sorte. Poderíamos ter tido um outro destino, declarou aliviada.
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