O serviço Disque Denúncia Nacional de Abuso e Exploração Sexual Contra Crianças e Adolescentes, o Disque 100, tem como objetivo acolher denúncias de violência contra a criança e o adolescente, sendo qualquer tipo de violação.
As denúncias são divididas em três categorias: negligência, violência física e psicológica e violência sexual.
Um levantamento realizado pela Secretaria Especial dos Direitos Humanos (SEDH) registrou 89.464 denúncias recebidas pelo serviço Disque 100, de maio de 2003 a fevereiro de 2009.
Desse número, 35% dos casos são de negligência, 34% de violência física e psicológica e 31% de violência sexual. De acordo com SEDH, foram registradas nos dois primeiros meses do ano 4.698 denúncias de todo o Brasil.
A coordenadora da Área de Dados do Disque 100, Fernanda Regis, explicou que o número de denúncias é dividido praticamente em um terço para cada categoria.
"Negligência aponta mais denúncias, mas isso não significa que violência sexual não tenha um quantitativo maior. A quantidade de denúncias de um dia pode ser dividida em um terço para cada categoria", disse.
Fernanda Regis ressalta que, em alguns estados, o número de denúncias é menor, não por falta de informação e, sim, por motivos de acessibilidade, como é o caso da Região Norte.
"Existem muitas populações ribeirinhas que não têm acesso a um telefone. Mas em todos os estados temos campanhas realizadas pelo governo federal, estadual e municipal. As campanhas, o acesso ao telefone, o fortalecimento da rede local e a credibilidade no serviço influenciam no crescimento ou não das denúncias", ressaltou.
Denúncias de negligência superam as de violência sexual contra crianças no Disque 100, diz ONG
Embora o Disque Denúncia - Disque 100 - seja promovido como uma política para receber denúncias de situações de violência sexual contra crianças e adolescentes, a maior parte dos casos denunciados é caracterizada como "negligência".
A avaliação consta de relatório produzido pela Associação Nacional dos Centros de Defesa da Criança e do Adolescente (Anced), que destaca "perplexidade" ao constatar que a violência sexual é a categoria com menor número de registros no serviço.
A organização não-governamental admite, entretanto, que ainda que haja críticas em relação à abrangência do serviço, o Disque Denúncia acaba por ser a única fonte de dados nacional para que se obtenha alguma informação sobre a ocorrência de violência sexual em todo o país.
Ao analisar a distribuição regional das denúncias, o documento aponta a Região Nordeste como a que mais faz denúncias e a Região Norte como a que menos tem registros. Mas há um consenso, segundo o relatório, de que os números não são tão representativos quanto à incidência de casos de violência sexual, mas de maior realização de campanhas ou de outros instrumentos de esclarecimento sobre o assunto.
"É certo que não há dados suficientes para que se constate que a violência sexual é uma forma menos freqüente de violência. Pode-se dizer apenas que há menos registros coletados", diz o documento.
A ONG questiona, ainda, a divulgação de uma espécie de lista suja de estados que concentram o maior número de denúncias de violência sexual. O fato de o Distrito Federal ser o local com mais denúncias, por exemplo, leva à conclusão, segundo o documento, de que a proximidade com o governo federal e com os órgãos que estabelecem as políticas públicas federais faz com que a informação chegue mais efetivamente à população.
"Também é de se levantar a ausência de conexão do Disque 100 com outros disque-denúncias municipais ou estaduais, uma vez que, havendo um bom serviço local sendo disponibilizado para a população, a utilização do serviço nacional seria menor."
O relatório lembra que, ainda hoje, é considerado "aceitável" pelo senso comum que crianças sejam mais vitimadas pelo abuso sexual, enquanto adolescentes são vítimas de exploração sexual. De acordo com a ONG, isso dificulta a forma como a sociedade vê e percebe as situações de violência.
Enquanto as crianças são vistas como vítimas de abuso, adolescentes que sofreram exploração sexual, na maior parte das vezes, não são percebidos como vítimas são tratados como adultos responsáveis pela condição de violência em que se encontram.
Outra crítica diz respeito à ausência de estrutura e de recursos para que policiais se desloquem caso seja recebida uma denúncia no interior dos estados. Dados da Secretaria de Direitos Humanos (SEDH) indicam que há, em todo o país, apenas 49 delegacias especializadas e seis varas judiciais especializadas para crianças e adolescentes.
O problema, segundo a Anced, faz com que crianças e adolescentes que sofreram violência em municípios longe das capitais sejam atendidos em locais não adaptados para o atendimento especializado, ao lado de adultos, e acompanhados por equipes não especializadas em violência sexual.
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