Umidade e El Niño são principais causas de temporais em SP

Umidade e El Niño são principais causas de temporais em SP

Fonte: Atualizado: sábado, 29 de março de 2014 às 03:27

A frequência e o volume de chuvas que começaram a atingir São Paulo no final de dezembro estão muito acima do normal para o período, segundo meteorologistas e especialistas em clima consultados pelo G1.

"É um janeiro para guardar na memória", resume o professor Augusto José Pereira Filho, do Departamento de Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (USP) e doutor em meteorologia pela Universidade de Oklahoma (EUA).

Nesta segunda-feira, dia 8, o G1 inicia uma série para discutir os problemas causados pelas chuvas em São Paulo.

Janeiro deste ano registrou a maior marca em volume de chuvas para o mês desde 1947, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) - foram 480,5 milímetros de chuva contra 481,4 mm há 63 anos. Além disso, só nos quatro primeiros dias de fevereiro choveu 60% da média histórica para o mês na capital.

Conforme Pereira Filho, meteorologista da USP, o excesso de chuvas se deve à frequência e não à intensidade.

"A chuva de janeiro foi muito alta para um mês de janeiro ou qualquer outro mês do ano na história dos registros da USP. Agora a chuva total diária não foi recorde em nenhum caso. O que aconteceu é que choveu mais dias do que normalmente ocorre. Foi uma chuva que teve uma continuidade temporal muito grande, um maior número de dias."

O professor explica que a principal causa do excesso de chuva é a umidade - que vem principalmente da Amazônia e do aquecimento dos oceanos Atlântico e Pacífico.

"Tem chovido desde julho. 2009 fechou como o quinto ano mais chuvoso da série histórica da USP. Com mais umidade na superfície, ela vai para atmosfera e favorece as chuvas."

Segundo Pereira Filho, o fenômeno climático El Niño também tem influenciado para as chuvas que atingem São Paulo desde o segundo semestre do ano passado.

Meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), Marcelo Schneider afirma que os dados mostram que janeiro foi um mês atípico.

"A gente contava com chuva acima da média, mas não todo esse volume. O problema foi a frequência inusual, foi o período com o maior número de dias consecutivos de chuvas. (...) Os dados mostram que não é usual chover com esse volume e frequência em São Paulo. Isso não é interpretação, são os dados que mostram."

Schneider também destaca que o inverno e primavera chuvosos estão favorecendo a intensidade das chuvas nesse verão, uma vez que o solo não secou completamente. "O calor evapora a umidade que está no solo e provoca mais chuvas", completa.

Na avaliação da meteorologista do clima Cláudia Prestes, do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Cptec/Inpe), choveu "bastante acima da média", mas, para ela, isso não pode ser classificado como um fenômeno "anormal".

"A gente já estava fazendo essa previsão desde outubro. Em junho, julho, vinha chovendo. Em dezembro já tinha muita umidade na atmosfera. A atmosfera não teve tempo para respirar."

Cláudia Prestes diz que as chuvas acima da média devem dar uma trégua após o carnaval até a segunda quinzena de março, mas depois deve voltar a chover.

Autoridades

O excesso de chuvas foi a causa apontada pelas autoridades para os transtorno causado pelas enchentes.

"Estamos vivendo hoje um desequilíbrio climático que expõe as vísceras dos nossos problemas de infraestrutura, trânsito e transporte com reflexos sociais e econômicos desastrosos. Não nos entregamos, lutaremos e venceremos. Não adianta acusar o passado, mas enfrentar o presente. Soluções complexas levam tempo e temos a consciência de estarmos realizando o possível”, disse o prefeito da capital, Gilberto Kassab, no fim de janeiro.

A secretária estadual de Saneamento e Energia de São Paulo, Dilma Pena, também citou o excesso de chuva. "Foi muita chuva concentrada em um período curto e em uma semana que já era de muita chuva. (...) Não foi deficiência, mas um evento acima da média."

Por: Mariana Oliveira

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