Uma das aplicações mais práticas e imediatas de tal sistema seria para pessoas que sofrem de perda de memória, como portadores de Alzheimer. Longe de um futuro utópico, um arquivo de vida virtual poderia facilitar o dia a dia e até a convivência do paciente com a sociedade no presente. Outra possibilidade é permitir que filhos, amigos, parentes ou quem quiser tenha acesso ao seu eu virtual o que, segundo Duncan, ajudaria a criar um legado e preservar o conhecimento humano. Mas a verossimilhança do projeto para por aí. Prestes a entrar em sua segunda fase, o LifeNaut lança esta semana o BioFile ou arquivo biológico. Os voluntários que desejarem ter suas células armazenadas para uma futura aplicação na construção de clones terão a possibilidade de ceder amostras para a fundação. Iremos coletar células da boca para, no futuro, gerar um novo corpo. Temos o comprometimento de manter a integridade da informação para posteridade e de usar este material para criar um corpo caso a tecnologia e as leis permitam, diz Duncan.
Por se tratar de uma fundação, cujos fundos provém de doações e de venda de anúncios no site, aqueles que desejarem participar do BioFiles precisam contribuir com a quantia de US$1 por dia, pelo resto da vida.
O objetivo é guardar a informação biológica, guardar as células vivas por um período indefinido de tempo e, para isso, elas ficam congelada a -190º C, explica Nickolas Mayer, diretor de sistemas ciber-biológicos da Terasem. Responsável pela manutenção do material coletado, ele não revela a localização do centro de armazenamento, mas diz que é necessária uma técnica especial para preservar as células. Temos que evitar a formação de cristais de gelo, pois eles fazem as células explodirem. Por isso, fazemos a vitrificação, que é substituir o citoplasma por uma substância viscosa que impede a formação do gelo. Ao doar suas células para o BioFile, a pessoa concorda que não poderá retirá-las para uso médico futuro. O objetivo deste material é (repetindo) a criação de seres biologicamente idênticos ao doador que receberão em suas mentes o arquivo da vida deles. Este novo ser tem informações sobre sua vida, sua personalidade. Em muitos jeitos, será você - mas será independente e continuará vivendo sua própria vida, diz Duncan. O diretor vai além: É uma forma de estender a vida e mudar a evolução como a conhecemos.
Será? Um organismo clonado nada mais é do que uma cópia geneticamente idêntica ao doador. Mas, assim como irmãos gêmeos univitelinos (que compartilham o mesmo código genético) são diferentes, o clone seria um ser vivo único, independente de quem tenha doado material para a sua criação.
Mesmo que este ser tivesse baixado em seu cérebro (por meio de uma tecnologia ainda inexistente) todas as lembranças, memórias, sensações e valores de uma pessoa, isso não o tornaria uma cópia exata dela e muito menos a traria de volta à vida.
Vale lembrar que a tecnologia para criar clones humanos ainda não existe embora alguns cientistas tenham assumido publicamente testes com embriões, nenhum conseguiu resultados. Ainda assim, as questões éticas suscitadas por um projeto como o Lifenaut são muitas: nós deveríamos clonas seres humanos? E se sim, teríamos o direito de colocar informações em seus cérebros para satisfazer a vontade de alguém (que, provavelmente, já morreu)?
Somos comprometidos com ética e, como uma organização com base nos Estados Unidos, vamos seguir as leis do país sem nunca violá-las, garante Duncan. Para provar que a fundação Terasem está comprometida com o debate ético, um filme sobre as possibilidades de tal tecnologia foi produzido - 2B The Era of Flesh is Over (A Era da Carne Acabou).
Manipulação genética, vida eterna, avatares e clones o LifeNaut parece mesmo reunir todos os ingredientes para um ótimo roteiro. Mas, ao que parece, um roteiro que deve permanecer somente na ficção.
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