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70% dos adolescentes não concluem o ensino fundamental

70% dos adolescentes não concluem o ensino fundamental

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:19

O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) apresentou nesta quarta-feira (1º) o relatório sobre a situação dos adolescentes brasileiros. De acordo com o estudo, 20% dos adolescentes entre 15 e 17 anos estão fora da escola, em uma faixa etária que abrange praticamente todo o ensino médio. No Pará, apenas 30,4% de um universo de 981 mil adolescentes conseguiram concluir o ensino fundamental. Ao todo 6,9% deles não estudam e não trabalham.

O relatório analisa a situação de meninas e meninos de 12 a 17 anos a partir da evolução de 10 indicadores, entre 2004 e 2009. O documento também traz uma análise das políticas públicas desenvolvidas no Brasil e propõe um conjunto de ações a serem tomadas para garantir os direitos de todos.

Na Amazônia Legal, a taxa de distorção entre idade e série em 2010 foi de 48% no ensino médio – a média nacional era de 35,9%. Em alguns Estados, o quadro era ainda mais grave. No Pará, por exemplo, esse índice era de 65,4%; no Amazonas, 54,3%; no Amapá, 53,2%; e no Maranhão, 53,3%.

Os indicadores de abandono escolar na região também são preocupantes. Em 2009, enquanto a média nacional de abandono no ensino médio era de 11,2%, em Estados como o Amapá e o Pará, o abandono escolar nessa etapa da educação foi de 23,5% e 20,7% respectivamente.

Além de menos escolarizados do que deveriam, os adolescentes são mais pobres do que o conjunto da população. Segundo o Unicef, a pobreza afeta 29% dos brasileiros e a extrema pobreza afeta 11,9%; entre os meninos e meninas de 12 a 17 anos esses percentuais são 38% e 17,6%, respectivamente.

No Pará, 25,5% de meninos e meninas nesta faixa etária vivem em situação de extrema pobreza. O indicador da extrema pobreza entre os adolescentes registrou um pequeno aumento, enquanto a tendência na população geral é de queda. De acordo com o Unicef, isso significa que houve um aumento da representação dos adolescentes na população pobre.

Os adolescentes que já tiveram filhos somam 4,6% no Estado, onde a maioria (81,7%) é composta por meninos e meninas da raça negra. Também a incidência de gravidez na adolescência é maior entre as adolescentes negras. Enquanto 3,9% das adolescentes brancas entre 15 e 17 anos já eram mães em 2009, entre as negras esse percentual subia para 6,1%

A taxa de homicídios entre adolescentes de 12 a 17 anos (por mil habitantes da mesma idade) também é alta no Pará: um total de 27,4% de jovens foram assassinados em 2009. O número é mais que o dobro do registro de mortes por homicídio em 2004 (12,3%).

Segundo o documento, um adolescente negro tem quase quatro vezes mais risco de ser assassinado do que um branco, enquanto um adolescente indígena tem três vezes mais chance de ser analfabeto.

Viver na cidade ou no campo, no Sul, Sudeste ou Nordeste do Brasil, é outro fator de desigualdades. De acordo com o estudo, 9 milhões de crianças e adolescentes moram na Amazônia Legal, região marcada pela diversidade étnica e social, que concentra a maioria da população indígena do País. "Ali, a pobreza afeta 56,9% das crianças e adolescentes", revela o relatório.

Nessa região, que inclui os sete Estados do Norte, além do Maranhão e do Mato Grosso, vivem 2,9 milhões de garotos e garotas entre 12 e 17 anos. São meninos e meninas que moram, muitas vezes, em localidades remotas, acessíveis apenas por viagens de barco. Lugares onde a disponibilidade de serviços voltados a essa população ainda é um desafio a ser superado.

Dois jovens e muitos planos em cena

Aos 17 anos, Lucas Pimentel Rodrigues retrata bem uma juventude cheia de sonhos e possibilidades, que ainda é minoria no universo de adolescentes brasileiros. Morando com a mãe e a irmã mais velha, ele tem quarto só seu, estuda em escola privada, conta com plano de saúde e já viajou para o exterior. Ele não tem medo de traçar planos para o futuro: "Quero ser biomédico e ter meu próprio laboratório, ficar em Belém um tempo, depois ir para São Paulo, porque é onde estão as melhores oportunidades. Também fazer mestrado no exterior, provavelmente nos Estados Unidos", conta.

Para isso, ele mantém o ritmo de estudos. Apesar de ter sido aprovado em duas instituições privadas em novembro, almeja a Universidade Federal do Pará.

Quando o estudo dá folga, Lucas sai com os amigos para cinema, shoppings, e até festas à noite.

Ele sabe que a condição favorece tudo já conquistado e o que ainda virá. “Seria muito mais difícil se não tivesse apoio financeiro, mas acredito que isso é apenas uma ajuda. É preciso que o jovem tenha também determinação. Muitas pessoas, como a minha mãe, estudaram em escola pública e conseguiram ter uma boa profissão”, explicou.

É também o que deseja Ana Carolina, de 14 anos. A vontade é de um dia se tornar dentista, mas o caminho até lá, ela sabe, será longo. Na base da estatística, onde estão os adolescentes mais pobres e com menos instrução, Carol vive com a mãe e outros cinco irmãos num dos bairros mais violentos de Belém, a Terra Firme. A casa tem os eletrodomésticos essenciais, mas desconhece o conforto e ultimamente tem sido mantida por alguns raros serviços que a mãe, doméstica desempregada, faz como diarista em casas do centro de Belém. A ajuda vem também de duas bolsas de um programa do governo federal que Carol e outra irmã recebem.

Vaidosa, a jovem não esconde a vontade de poder ter roupas e acessórios, mas o desejo principal é um computador. "Estou aprendendo informática nos cursos do Projovem, que já faço há seis meses. Não tenho essas coisas de Orkut, MSN, nada. Quero aprender a mexer mesmo".

Momentos de lazer são poucos. A maioria em casa, assistindo à televisão. E namorado? "Não tenho e nem quero ter no momento. Filho e marido só depois, porque isso acaba dificultando muito a vida".

E assim, todos os dias, Carol tenta equilibrar os afazeres domésticos e as demandas da escola. Afinal, após repetir três vezes a mesma série, ela já colocou como primeiro item da lista de mudanças para 2012 a superação da 4ª série do Ensino Fundamental. "Agora é o que eu mais quero, me livrar logo dessa série, porque não dá mais pra repetir pela quarta vez", confessou em tom brincalhão. (Diário do Pará)

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