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Academias militares dão formação além dos quartéis

Academias militares dão formação além dos quartéis

Fonte: Atualizado: sábado, 29 de março de 2014 às 03:25

Acordar cedo, realizar treinamento físico pela manhã, receber instrução de tiro e estratégias militares. A rotina que tira o sono dos jovens vestibulandos em idade de alistamento militar que não querem servir as Forças Armadas é quase que um vestibular para os que decidem estudar numa academia militar. Enquanto para a maioria dos estudantes que começam na universidade a rotina inclui brincadeiras com os veteranos, expectativa por festas e ansiedade pelo curso que tanto sonharam fazer, a realidade é bem diferente para os futuros oficiais.

"Eles acordam às 5h50 ao som do toque matinal de corneta, tomam café às 6h20, e vão para a aula às 7h30. O almoço é feito ao meio-dia e o expediente começa às 13h30, quando os alunos realizam treinamento físico, militar ou de campo. Às 18h, eles jantam e depois disso, são encaminhados a outros treinamentos. O expediente termina às 22h, com o toque de recolher", explica o capitão Paulo Jorge Fernandes da Hora, coordenador do curso de Infantaria da AMAN (Academia Militar das Agulhas Negras) sobre o dia-a-dia dos cadetes na instituição.

A AMAN forma profissionais combatentes de nível superior em Infantaria, Engenharia, Artilharia, Cavalaria, Intendência, Comunicação, e Materiais Bélicos. O estudante que decide ingressar na academia obrigatoriamente deve passar pela EsPCEx (Escola Preparatória de Cadetes do Exército), onde receberá treinamento militar juntamente com aulas de equivalência ao 3º ano do Ensino Médio. Lá, ele receberá também benefícios como remuneração mensal, alojamento, fardamento e alimentação, bem como assistência médico-hospitalar, odontológica e psicopedagógica.

Ao fim do curso, se o aluno cumpre todas as condições previstas em leis e regulamentos durante sua estadia na escola preparatória com o máximo de aproveitamento, se torna habilitado para ingressar na AMAN, onde se dá a formação em nível superior do oficial combatente do Exército Brasileiro. Hora esclarece que parte da rotina da instituição pode ser alterada de acordo com a programação feita para o ano todo, em que podem acontecer aulas na parte da manhã e instruções militares à tarde, ou também exercícios de campo e treinamento durante todo o dia.

Esse cronograma não é de forma alguma impeditivo para alta concorrência na AMAN. A escola preparatória teve pouco mais de 16 mil candidatos inscritos para as 520 vagas abertas no último para ingresso em 2010, o que representa quase 32 candidatos inscritos por vaga. Só para comparar, o curso Oficial da Polícia Militar do Estado de São Paulo, o mais concorrido da Fuvest (Fundação Universitária para o Vestibular), um dos processos seletivos mais importantes do Brasil, teve 2.754 inscritos para 60 vagas, total de 45,83 candidatos por vaga.

O Cadete Pedro Alvin, estudante do 4º ano do curso de Infantaria da AMAN, diz que na época em que prestou o concurso para ingressar na escola preparatória, outros 12 amigos seus também passaram na prova, e que todos foram aprovados para a academia ao término da EsPCEx. "Quando decidi fazer o curso, tinha 16 anos. Como o concurso era muito difundido, eu e meus amigos nos preparamos muito. Com o preparatório para a Academia, ficaria livre do alistamento militar obrigatório, mas durante o curso comecei a me interessar mais e decidi continuar na carreira", conta Alvin.

Flexibilidade

Para alguns, esse tipo de curso pode ser algo realmente difícil, basta dizer que os Cadetes têm de morar no alojamento da academia e só podem sair às sexta-feira depois do termino do expediente. Eles têm de retornar no domingo até às 22h. Mas nem todo centro de formação superior que oferece cursos voltados para a área militar têm uma rotina tão rígida quanto a da AMAN. Outras instituições de Ensino Superior, como por exemplo, o ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica) e o IME (Instituto Militar de Engenharia), têm cursos voltados tanto para a área militar quanto para a área civil.

Em ambas, há alojamento e alimentação para seus alunos, além de ministrarem cursos também para o público feminino, coisa que a AMAN não faz. Um dos diferenciais dessas instituições é que o aluno poder sair do alojamento para resolver questões pessoais, contanto que não esteja em horário de aula ou treinamento, e compareça à aula no dia seguinte.

No caso do IME, quando o candidato realiza o vestibular, escolhe qual será seu curso e se seguirá como militar ou civil. Nos dois primeiros anos, os alunos fazem o mesmo curso, e a partir do terceiro ano, o estudante seguirá a engenharia de acordo com a opção feita entre as duas áreas. No primeiro ano de curso, mesmo aqueles que optaram por ingressar na carreira como civis devem passar pelo CFOR (Curso de Formação de Oficiais da Reserva), para seguir o curso como civil a partir do segundo ano, época em que ainda dividem a mesma sala de aula com os colegas da área militar. Eles serão efetivamente separados a partir do terceiro ano.

Luisa Carla de Alencar Menezes, aluna do curso de Engenharia de Fortificação e Construção do IME, diz que prestou o vestibular três vezes até conseguir ingressar no instituto e que antes disso cursava engenharia em outra instituição. Ela conta que decidiu sair da antiga instituição porque a faculdade não atendeu às suas expectativas. "Decidi fazer engenharia no IME porque o curso de lá é muito bom e também porque tinha vontade seguir carreira a área militar. Na outra faculdade, a sala e as aulas eram muito desorganizadas. Aqui no IME, todos temos de ser disciplinados, pelo fato de recebermos instruções militares", afirma Luisa.

Para a estudante, a vida militar lhe trouxe melhoras principalmente como pessoa. "Mudei bastante a partir da formação militar. Na minha formação pessoal, o militarismo ajudou muito. Passei a me sentir mais adulta pelo fato de ter maiores responsabilidades", analisa ela. Luisa diz ainda que se adaptou muito bem ao curso e que mesmo não tendo nenhum parente militar, um dos motivos para ter escolhido seguir a carreira foi o fato de gostar do clima organizado e de poder praticar esportes no dia-a-dia.

"Aqui no instituto o aluno tem cerca de oito horas semanais de instrução militar por semana no primeiro ano de curso. A partir do segundo ano, essa carga diminui para uma tarde por semana, para aqueles que seguirem a carreira militar. Além disso, há a realização de instruções militares de campo, onde os aspirantes vivenciam estratégias e aprendem a história, inteligência e praticar treinamento físico militar, entre outras coisas", explica o tenente-coronel Carlos Alberto Leite, comandante do corpo de alunos do IME.

Para o tenente-coronel, o treinamento físico e militar instituído ao jovem não interfere no aprendizado da parte acadêmica. Segundo ele, isso só tende a melhorar o desempenho dos estudantes. "Essa integração é muito boa, pois uma formação não interfere na outra. A função do aluno é se dedicar aos estudos, a formação militar dá o suporte. A prática de atividades físicas proporciona ao aluno a rigidez necessária para lidar com a parte acadêmica", afirma ele. Apenas no último ano, o IME recebeu mais de 2.400 inscrições para apenas 90 vagas abertas no vestibular 2010. Destas vagas, 54 candidatos optaram por seguir a carreira militar e 36 pela carreira civil. Além disso, no ano passado, o instituto formou 32 engenheiros militares e 35 civis.

Oportunidades

Da mesma forma que os outros institutos que formam militares, o ITA também tem ingresso concorrido. Neste ano, teve 6.503 candidatos inscritos para as 120 vagas abertas, em que 112 foram preenchidas por homens e 8 por mulheres. O aluno que ingressa no ITA passa basicamente pelo mesmo processo de ensino do IME. Cursa no primeiro ano da graduação o CPOR (Centro de Preparação de Oficiais da Reserva) e nos dois primeiros anos aprendem as matérias gerais do curso de engenharia. Como na outra instituição, é a partir do terceiro ano que o aluno escolhe qual a engenharia vai seguir e se continuará na carreira militar.

O Major Alexandre Okada, ex-comandante do CPOR e atual assistente do Reitor do ITA, elucida que a partir de 1975 foi implantado no instituto o serviço militar obrigatório para todos os alunos. "O ITA, por criação, forma engenheiros, mas todos os alunos fazem parte da Reserva da Aeronáutica. Eles prestam concurso para admissão na Força Aérea e todos têm de estar aptos para ser militar", diz ele. Segundo Okada, no ato da matrícula, o aluno escolhe qual área da engenharia cursará e se seguirá carreira militar depois dos primeiros anos de ensino. "Mesmo que no ato da matrícula ele escolha seguir o curso como civil, poderá mudar de opção quando ingressar no terceiro ano, caso ele tenha se adaptado e gostado do ensino militar", explica o major.

Okada diz ainda que, ao terminar o primeiro ano do curso, todos os alunos são nomeados Aspirantes Oficiais da Reserva. Aqueles que escolhem continuar na carreira militar a partir do terceiro ano do curso passam a ser então Aspirantes Oficiais da Ativa, Aspirantes de Infantaria ou estagiários de Engenharia. "Todos têm de cumprir a carga de ensino e de estágio. O que diferencia na formação é que para os militares o estágio é garantido nas unidades da aeronáutica, já o civil terá de conseguir o estágio por si só, mas é possível que ele consiga uma vaga em nossas unidades", acrescenta ele.

Matheus Minelli de Carvalho, aluno do 5º ano do curso de Engenharia Eletrônica, conta que ao se matricular no instituto optou por seguir a carreira civil, mas ao longo do curso decidiu mudar para a área militar. "Vi uma boa oportunidade de conciliar o conhecimento que adquiri no curso com o que é exigido na instituição. O curso oferece tempo para a realização de estágio, então atuo na área de Fotônica do Instituto de Estudos Avançados do DCTA (Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial)", revela o estudante.

Na opinião do Aspirante, o campo da eletrônica é muito abrangente e, por isso, ele pretende atuar na área em que está agora. "O departamento onde trabalho é muito grande, pode ser que eu mude de setor, mas sempre dentro da minha área. A oportunidade é boa, pois o instituto forma cerca de 25 aspirantes, são poucos para uma área muito grande", diz ele.

Por Luciano Testa

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