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Adolescentes brasileiros em temporada de trabalho na Disney

Adolescentes brasileiros em temporada de trabalho na Disney

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 10:06

O saguão do Aeroporto Internacional de Cumbica, em São Paulo, está lotado por jovens que esperam o voo para a Disney, nos EUA – mas eles não vão para lá a passeio. O objetivo é trabalhar, e muito. A cena acontece todo fim de semana, entre novembro e dezembro. Quem os leva para a terra do Mickey, na Flórida, é o International College Program, um programa de contratação temporária que transforma estudantes acima de 18 anos de diversos países em vendedores, personagens de desenhos, ajudantes e até salva-vidas em parques e hotéis do complexo Disney.

Para estarem ali, eles passam por um processo seletivo meio "chato": uma série de palestras e entrevistas pessoais que têm início em meados de maio. A seleção analisa a personalidade, a fluência em Inglês e até a aparência física de cada um. "A Disney é um destino internacional, por isso existe um visual-padrão: cabelo em tom natural, nada de acessórios escandalosos ou de maquiagem exagerada. Tatuagens são permitidas se o uniforme as encobrir", explica Frederico Morais, gerente de Intercâmbios de trabalho da STB, empresa responsável pelo programa no Brasil. "Um visual diferente não exclui o jovem da seleção, desde que ele mostre qualidades positivas nas entrevistas", acrescenta.

A escolha da função a ser exercida é feita pelos próprios candidatos, antes da viagem – mas não há garantia: chegando lá, eles podem ser remanejados para outra área. Ajudar nos restaurantes e na organização de filas dos parques, trabalhar nas lojas, nas piscinas dos hotéis e nas atrações do complexo estão entre as opções mais populares dos Cast Members, ou "membros do elenco", como são chamados. Para ser um personagem, o jovem deve se encaixar na estatura adequada a cada um deles. A remuneração na Disney varia de U$6 a U$9 a hora, de acordo com o trabalho (há a opção de se fazer horas extras). O grupo parte junto, do Brasil, mas cada estudante só conhece com quem dividirá o alojamento ao chegar. O normal é misturar pessoas de diversas partes do mundo nos dormitórios.

Hóspede afogado

Um dos trabalhos mais desafiadores no Complexo Disney é o de salva-vidas. Também é o que melhor remunera – cerca de U$9 por hora. "Havia selecionado merchandising (vendas em lojas) como primeira opção, mas comentei durante a entrevista de seleção que pratiquei natação por muitos anos", conta Gabriela Brandão. Ao chegar a Orlando, em 2009, a estudante de Engenharia Civil soube que trabalharia na piscina do All Stars, um dos hotéis mais movimentados de lá. "Estava frio, eu usava agasalho e calça comprida. Mesmo assim as pessoas entravam na água, porque a piscina é aquecida. Se alguém precisasse de ajuda ou se afogasse, eu teria que pular do jeito que estava, de tênis e tudo", conta.

O maior desafio que Gabriela enfrentou durante seu turno foi ajudar uma criança deficiente a sair da água. Embora não tenha atendido nenhuma emergência, todos os salva-vidas recebem treinamento de duas semanas antes de começar. Aprendem técnicas de salvamento, de primeiros socorros e até de como usar um desfibrilador, em caso de parada cardíaca do turista.

Emanuel Lins, de Natal, Rio Grande do Norte, experimentou emoções mais fortes. "Fui perguntar à mãe de uma menina se a filha não precisava de um colete salva-vidas, pois notei que ela estava com dificuldade para nadar", conta o jovem de 21 anos. "Tirei o olho da água por um instante e, neste meio tempo, um menino de uns três anos desceu pelo tobogã e não se levantou mais". Quando o estudante de Direito viu o pequeno hóspede se afogando, fez o procedimento padrão: soou o apito, apertou o botão de emergência dos escorregadores e se jogou na piscina. Ao retirá-lo, Emanuel constatou que ele havia apenas engolido água e que ainda respirava. "Ele ficou bem, o pai me agradeceu pela ajuda e, passado o susto, o próprio menino veio dizer obrigado. Foi um momento de satisfação", completa.

Fome de quê?

Adaptar-se ao modo de vida americano pode ser um problema para o estômago. O fast food enjoa rápido. Alguns dias após a chegada, a maioria dos jovens já não aguenta mais sanduíches, pizzas e refrigerantes. "Há cozinha em todos os alojamentos, mas não queria perder tempo cozinhando. Comprava comida congelada no supermercado e almoçava numa lanchonete perto do trabalho", conta Maira Materagia, de 21 anos. A estudante de Direito trabalhou como hostess no restaurante do castelo da Cinderella, em 2009. "Para comer algo menos gorduroso, cozinhava grandes porções em casa e congelava o resto. Mas a maioria das pessoas se entope de junk food", alerta.

Algumas meninas engordam durante o programa, mesmo aquelas que trabalham em funções que exigem maior movimentação, como nos restaurantes. Sentem falta da comida de casa, mas sabendo que a duração do programa não é tão extensa – entre 8 e 10 semanas – e que há muito para aproveitar, a preocupação em comer de forma saudável fica em segundo plano. Terminado o turno, cada jovem pode escolher o que fazer em seu horário livre. A entrada em todos os parques da Disney é gratuita, há festas diárias nos alojamentos – reunindo pessoas do mundo inteiro – e várias casas noturnas. Bebidas alcoólicas, no entanto, só para maiores de 21 anos. Se um dos participantes for pego infringindo esta lei, poderá ser mandado de volta ao Brasil. Viajar para outras cidades ou estados também é permitido, desde que não atrapalhe a rotina de trabalho. A maioria dos estudantes vai a Nova York ou à Califórnia antes do término do programa, pois o visto americano concede um mês de permanência a partir do último dia de trabalho.

Welcome back

Alguns voltam com um Mickey ou um Pateta a tiracolo, outros com quilos a mais por conta da junk food. Mas todos que completam o programa retornam ao Brasil já sentindo saudade. E, provavelmente, vestindo as grifes vendidas nos outlets – grandes lojas de ponta de estoque. "Comprei muita coisa, deixei até a minha roupa de cama lá para encher a mala com compras. Tenho saudade da rotina na Disney". A opinião de Maira Materagia é quase unânime. Depois de semanas vivendo por conta própria, é estranho acordar novamente na casa dos pais. "Sinto falta da minha independência e de poder fazer o que eu quiser nas horas vagas sem dar muita satisfação", diz. Para os jovens que já participaram e que desejam retornar, uma boa notícia: a inscrição por dois anos consecutivos, que não era permitida até 2009, foi liberada este ano.

Os diferentes "jobs" no parque

Trabalho: Personagem (character performers)

O que faz: incorporam um personagem da Disney. Realizam sets, ou passeios, de 30 minutos pelos parques, distribuindo autógrafos e tirando fotos e participam de jantares em restaurantes do Complexo Você precisa: ser paciente, ter facilidade para lidar com crianças e altura específica para cada personagem Disney Ponto forte: é uma das funções mais importantes. Os personagens Disney atraem crianças e adultos do mundo inteiro Ponto fraco: o turno pode se estender por até 16 horas em um dia

Trabalho: Atrações/operações

O que faz: organizar filas, dar instruções aos turistas e entreter os passageiros enquanto a atração não começa Você precisa: de habilidade para falar em público e de extroversão Ponto forte: poder trabalhar em diferentes atrações da mesma área Ponto fraco: só é possível fazer hora extra na atração para a qual foi originalmente escalado

Trabalho: Customings

O que faz: auxiliam no backstage de desfiles e organizam os guarda-roupas. São responsáveis pela manutenção de uniformes dos Cast Members e personagens, auxiliam os personagens com as fantasias na hora das apresentações Você precisa: ser organizado e saber operar equipamentos básicos de lavanderia Ponto forte: não é necessária habilidade para lidar com o público Ponto fraco: carregar fantasias pesadas de um lugar a outro

Trabalho: Quick Services e Full Services

O que faz: trabalham nos restaurantes de parques e hotéis. É uma das posições mais populares. Há a opção de ser hostess (levar famílias até as mesas, organizar lista de espera, determinar mesas para os garçons servirem), trabalhar em venda de comidas e bebidas em carrinhos nos parques, auxiliar em geral nos restaurantes e lidar com dinheiro nos restaurantes. O "Quick Service" trabalha em locais de fast-food, e o "Full Service", em restaurantes à la carte ou onde a reserva de mesas é necessária Você precisa: ter habilidade com público, e, de preferência, saber expressões e termos específicos de gastronomia Ponto forte: é fácil fazer horas extras nos restaurantes Ponto fraco: lidar com clientes impacientes ou que não fazem reserva de mesas com antecedência

Trabalho: Salva Vidas (lifeguard)

O que faz: monitoram as piscinas nos resorts e nos parques aquáticos, dão informações aos guests, atendem aos primeiros socorros em caso de emergência Você precisa: ser concentrado, calmo em situações adversas e saber nadar bem Ponto forte: além de ser uma experiência incomum, é o trabalho que melhor remunera Ponto fraco: trabalhar durante muitas horas em local aberto, em baixas temperaturas

Trabalho: Merchandise

O que faz: são vendedores, caixas, ajudantes e organizadores de estoque em todas as lojas de brinquedos e de produtos Disney Você precisa: ser extrovertido e organizado Ponto Forte: a rotina é menos corrida do que a do trabalho em restaurantes Ponto fraco: trabalhar praticamente o dia inteiro em local fechado

Prestes a embarcar?

- Leve pouca roupa. Os alojamentos ficam próximos a outlets de compras, e, no país do consumo, a chance de a mala não fechar ou de exceder o limite de peso (64 kg) na volta é grande.

- Faça uma farmácia básica (remédios para dor de cabeça, gripes, cólicas). A venda de medicamentos nos EUA é controlada. Quem toma remédios com receita deve comprar o necessário para a viagem aqui ou levar receitas avulsas, de preferência em Inglês.

- Roupa de cama é essencial. Evita transtornos e perda de tempo na chegada.

- Deixe os saltos-altos, as roupas extravagantes e a sacola de maquiagens no Brasil.

- Uma cópia autenticada do passaporte minimiza dores de cabeça em caso de perda ou furto.

Tá a fim de ir?

- O processo seletivo para 2011 começa em maio, acompanhe no site www.stb.com.br

- Preço: os viajantes bancam o preço das passagens e das taxas de embarque, além do processo de retirada do visto. Tudo junto, soma cerca de R$2 mil. Lá, a alimentação e o transporte são pagos com o dinheiro recebido pelo trabalho, assim como a estadia nos dormitórios, que fica em torno de 80 dólares por semana.

- Esteja com o Inglês em dia! Quem tem o Inglês básico pode investir em um aprofundamento. Para quem já fala a língua, vale uma reciclagem ou um curso de conversação.

- A melhor maneira de saber mais detalhes sobre a experiência é conversar com quem já foi.

- Há um site específico de dicas e informações para quem se interessa pelo programa: www.castmember.com.br

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